"Fica Abel!", "Fica Abel!", "Fica Abel!". O grito ouviu-se em uníssono nas bancadas, a 6 de dezembro, data em que o Palmeiras, sob as ordens de Abel Ferreira, selou a conquista do bicampeonato ao terminar no primeiro lugar de um Brasileirão 2023 verdadeiramente de loucos. O treinador português somou o seu nono título no comando técnico do clube Paulista, num campeonato em que a 11 jornadas do fim seguia no quinto posto, a 14 pontos do então líder Botafogo, que todos consideravam ter o título no bolso.
Mas o Botafogo, que entrou no Brasileirão com tudo, quebrou de forma abissal quando poucos pensavam que tal fosse possível. Abel e o Palmeiras souberam aproveitar.
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Botafogo 'pipocou', Abel aproveitou
Com outro português - Luís Castro - ao leme, o Botafogo entrou com tudo e cavou um fosso considerável para as restantes equipas.
Só que Luís Castro deixou-se seduzir pelos milhões das arábias e rumou ao Al Nassr, onde foi treinar Cristiano Ronaldo. Sucedeu-lhe Bruno Lage, mais um técnico luso, mas os resultados já não estavam a ser os mesmos e Lage acabou por ser despedido, apesar de deixar ainda o 'Fogão' na frente. Mas, se as coisas já estavam mal, pior ficaram. E o Botafogo terminou a prova no 5.º lugar, com uma série de 11 jogos sem ganhar nas últimas jornadas (e vários desfechos surreais pelo meio).
Agradeceu o Palmeiras e agradeceu Abel. Alvo até de alguma contestação a meio da temporada, o técncio somou o seu nono troféu em três anos ao leme do Verdão, num ano de 2023 em que já tinha conquistado o Campeonato Paulista e a Supertaça do Brasil.
Desde que chegou ao comando técnico do Palmeiras, Abel Ferreira já conquistou: uma Taça Copa do Brasil (2020), duas edições seguidas da Copa Libertadores (2020 e 2021), uma Supertaça Sul-Americana (2022), uma Supertaça do Brasil (2023), dois Campeonatos Paulistas (2022 e 2023) e, agora, duas vezes o Brasileirão (2022 e 2023).
Foi um ano de frases emblemáticas, algumas (muitas) polémicas, várias expulsões mas, no fim, de muitos sorrisos e muita festa.
Perto do final do ano, depois de carimbar a conquista do bicampeonato, Abel chegou a colocar em dúvida a sua continuidade no clube. “Não sei se tenho energia para continuar a tirar o máximo dos jogadores”, afirmou. Pelo meio, falou-se mesmo até de uma proposta do Al Sadd, do Qatar, que faria de Abel o treinador mais bem pago do mundo.
Dias mais tarde, porém, chegava a confirmação de que Abel Ferreira ia seguir no Palmeiras, após uma reunião com a presidente Leila Pereira para avaliar os objetivos alcançados no presente ano - com a conquista de três troféus em cinco competições (chegou às meias-finais da Taça Libertadores e às meias-finais da Taça do Brasil) - e para tratar da planificação para a próxima temporada. Na rede social X, o Palmeiras deu então conta de que o treinador português tem contrato com o clube até dezembro de 2024.
Brasileirão começou com sete treinadores portugueses, mas vários caíram pelo meio
Jorge Jesus deu o mote e Abel Ferreira convenceu em definitivo os outrora relutantes clubes brasileiros de que os treinadores portugueses eram uma boa aposta. Assim, 2023 foi o ano em que o Brasileirão se rendeu em definitivo: à entrada para a jornada inaugural eram nada mais, nada menos do que sete (e por pouco não foram oito, visto que Vítor Pereira foi despedido do Corinthians pouco antes do início da competição).
Além de Abel no Palmeiras e de Luís Castro no Botafogo, António Oliveira começou a prova no Coritiba, enquanto Renato Paiva arrancou no Bahia, Pedro Caixinha no Bragantino (seria uma das sensações da época), Ivo Vieira no Cuiabá e Pepa no Cruzeiro. Mais dois treinadores portugueses - Bruno Lage e Armando Evangelista - chegaram a meio da temporada, quando alguns já tinham saído.
A maior parte desses treinadores, contudo, não teve sucesso: António Oliveira foi despedido do Coritiba (mas depois assumiu o leme do Cuiabá - clube que já tinha treinado em 2022 - guiando-o à manutenção), Renato Paiva deixou o Bahia em setembro, Ivo Vieira foi despedido e substituído então depois por António Oliveira no Cuiabá e Pepa foi despedido do Cruzeiro em Agosto.
Já Luís Castro trocou o Botafogo pelo Al Nassr quando liderava o Brasileirão. Foi substituído por outro português, Bruno Lage, que acabou despedido em outubro. Armando Evangelista, por fim, chegou ao Goiás em junho, mas no início de novembro saiu, por desavenças com a direção.
Quer isto dizer que de todos estes, só três terminaram a temporada a treinar equipas no Brasileirão: Abel, que levou o Palmeiras ao 'bi', Pedro Caixinha, que guiou o Bragantino a um surpreendente sexto lugar. e António Oliveira (que começou a temporada no Coritiba e a acabou no Guiaba).
Na Arábia Saudita também houve treinador português campeão...que já foi embora
Não foi só no Brasil que os treinadores portugueses deram que falar em 2023. A Arábia Saudita tornou-se definitivamente, no ano que agora termina, no novo 'El Dorado' do futebol mundial e, para além de vários jogadores de renome, também outros treinadores portugueses rumaram aquelas paragens, casos de Jorge Jesus e Luís Castro.
Nuno Espírito Santo já por lá andava antes disso, contudo, e em 2023 festejou a conquista do título, ao guiar o Al Ittihad ao primeiro lugar primeiro lugar na prova, à frente do Al Nasrr de Cristiano Ronaldo, num campeonato onde pontificavam já igualmente outros dois treinadores portugueses: Pedro Emanuel e Filipe Gouveia, ao leme dos mais modestos Al Khaleej e Al-Hazm.
Nuno, contudo, já não é treinador do Al Ittihad. Apesar de ter conquistado o título, e mesmo tendo, por exemplo, Karim Benzema à sua disposição para a nova época, as coisas não estavam a correr bem na nova temporada e em novembro, sendo substituído pelo argentino Marcelo Gallardo.
Por essa altura, já outros dois treinadores portugueses tinham chegado ao comando técnico de outros dois dos maiores clubes da Arábia Saudita, para já com bons resultados: Jorge Jesus assumiu o leme do Al Hillal (clube que já havia orientado no passado) e atingiu já uma série de 18 vitórias seguidas, Luís Castro assumiu o Al Nassr e pouco depois de chegar conquistou a Liga dos Campeões Árabes.
Mourinho ficou à beira de novo troféu europeu
Na Europa, no que a treinadores portugueses diz respeito, merece destaque José Mourinho. Depois de, em 2022, ter guiado a Roma à conquista da Liga Conferência da UEFA, o 'Special One' esteve muito perto de fazer mais história no clube da capital italiana, deixando-o à beira de erguer novo troféu europeu.
A Roma chegou à final da Liga Europa, onde mediu forças com o Sevilha, mas desta feita, diante do quase crónico vencedor da competição, saiu derrotada. E Mourinho sofreu a sua primeira derrota em finais europeias, depois de cinco vitórias nas cinco primeiras presenças.
Mas não sem (muita) polémica. A Roma marcou primeiro, o Sevilha empatou (de penálti) na segunda, os gialorrossi também pediram um penálti, não concedido pelo árbitro, e a decisão seguiu, depois, para o desempate por pontapés da marca de grande penalidade, onde a formação espanhola levou a melhor. Mourinho não poupou acusações à equipa de arbitragem e foi mesmo visto a insultar o árbitro da partida no parque de estacionamento à saída do estádio, atitude que lhe valeu um pesado castigo por parte da UEFA.
Para fechar, e deixando novamente as fronteiras do futebol do 'Velho Continente0, assinalamos ainda o título conquistado por Leonardo Jardim, que conduziu o Shabab Al-Ahli à vitória no campeonato dos Emirados Árabes Unidos. Foi o quarto título de campeão da carreira do treinador português, depois dos sucessos ao comando do Mónaco (França), Olympiacos (Grécia) e Al-Hilal (Arábia Saudita).
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