O ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) Luis Rubiales reiterou hoje, no tribunal em que está a ser julgado por agressão sexual, que teve consentimento da jogadora Jenni Hermoso para beijá-la em Sydney, em agosto de 2023.

Rubiales disse estar "totalmente seguro" (ter certeza absoluta) de que Jenni Hermoso lhe deu consentimento para a beijar no Estádio de Sydney, no momento em que as jogadoras da seleção de Espanha eram felicitadas por diversas autoridades e recebiam as medalhas de campeãs do mundo, título que acabavam conquistar, na Austrália.

O então presidente da RFEF assegurou que perguntou a Jenni Hermoso se lhe podia dar "um beijinho" e que a jogadora respondeu "ok", uma troca de palavras que a futebolista nega ter ocorrido.

Rubiales afirmou que segurou a cabeça de Hermoso nesse momento em que a beijou nos lábios num gesto de "expressão de alegria" e de celebração com uma pessoa com quem mantinha uma relação de confiança e amizade.

Reconhecendo que não era habitual beijar Hermoso e que nunca o tinha feito, justificou que "não se ganha um Mundial todos os dias" e que "a normalidade não se pode aplicar a um feito extraordinário".

Luís Rubiales negou, por outro lado, que houvesse ou haja uma "relação laboral" ou "hierárquica" entre o presidente da federação e as jogadoras da seleção, que "não são trabalhadoras" da RFEF.

Quanto às alegadas pressões sobre Jenni Hermoso para que fizesse declarações públicas que desvalorizassem o beijo, Rubiales admitiu ter proposto à jogadora que fizessem um vídeo juntos, mas, perante a recusa da futebolista, garantiu não ter insistido.

Por outro lado, afirmou ter dado autorização para ser publicado um comunicado com alegadas citações de Jenni Hermoso por ter sido informado que tinha o acordo da jogadora.

Rubiales acrescentou que viu a jogadora celebrar de forma feliz, como as outras futebolistas da seleção, o título que acabavam de conquistar em Sydney e que nas primeiras conversas que tiveram, logo após o beijo, ambos consideravam que estava em causa um episódio sem importância. Contudo, Hermoso "mudou de opinião" dias depois, segundo o ex-líder da federação.

O ex-presidente da RFEF justificou a decisão de fazer um vídeo e o comunicado divulgado pela federação com a "crise mediática de dimensões cada vez maiores" que se criou e que afetava a RFEF, instituição por que era responsável.

Rubiales disse que, mesmo tendo sido um beijo consentido, segundo a sua versão, se arrepende daquele momento e que deveria ter mantido um comportamento "mais institucional" nas celebrações do Mundial2023, realçando que se desculpou poucas horas depois, num vídeo que gravou durante a viagem de regresso a Espanha da seleção e da restante comitiva.

Luis Rubiales começou a ser julgado em 03 de fevereiro por agressão sexual por causa do beijo a Jenni Hermoso. Está ainda a ser julgado por coerção, juntamente com o ex-diretor da seleção masculina de Espanha Albert Luque, o selecionador Jorge Vilda e o antigo diretor de marketing da federação Ruben Rivera, por alegadas pressões sobre a jogadora.

O Ministério Público pede dois anos e meio de prisão para Luis Rubiales.

No primeiro dia do julgamento, Jenni Hermoso reiterou que o beijo não foi consentido, afirmou não ter tido capacidade nem possibilidade de reagir e insistiu diversas vezes em que Rubiales era o seu "chefe".

A jogadora garantiu ter-se sentido desrespeitada em relação à conduta de Rubiales, o que manifestou de imediato a companheiras da seleção, e reconheceu ter vivido nas horas seguintes "sentimentos contraditórios", por querer celebrar a vitória no Mundial, um objetivo para o qual trabalhou toda a vida, ao mesmo tempo que sentia que tinha sido vítima de algo "que não estava bem".

Confirmou também as pressões nas horas e dias seguintes, por parte de dirigentes da RFEF e do então treinador da seleção feminina, Jorge Vilda, para gravar um vídeo ou fazer um comunicado a desvalorizar o que tinha acontecido e a desculpar Luis Rubiales.

Rubiales deixou a presidência da RFEF em 10 de setembro de 2023 e, semanas mais tarde, em 30 de outubro, a FIFA suspendeu-o de todas as atividades relacionadas com futebol.

O julgamento prossegue na quarta-feira com as declarações dos restantes acusados.