O treinador da seleção feminina de futebol, Francisco Neto, revelou na noite de segunda-feira, que as jogadoras portuguesas reagiram com tristeza ao caso Rubiales, que entendem ter desviado as atenções do Mundial2023, que "deveríamos estar todos a celebrar".
Convidado no painel do debate “Desporto para Tod@s”, que contou também com a atleta olímpica Susana Costa, o atleta paralímpico Lenine Cunha e a árbitra de futebol, Sandra Bastos, no grupo de palestrantes, e em que se discutiram as assimetrias do desporto feminino e paralímpico face ao masculino, o treinador revelou a reação das atletas.
"Foi comentado pela tristeza. Temos muitas atletas que as conhecem, que partilharam balneários. A Dolores Silva esteve no Atlético de Madrid, a Tatiana Pinto tinha acabado de sair do Levante. Acima de tudo, a partilha da tristeza causada por um ato em que ninguém se revê, que não devia ter acontecido. Tirou algo que era de brilhante a uma equipa que, depois de um ano e tal de conflito interno, conseguiu agrupar-se e serem as melhores do mundo dentro de campo", constatou.
Francisco Neto destacou a evolução da modalidade com o Mundial e lamenta que a situação de alegada agressão sexual tenha desviado atenções daquilo que deveria ser um motivo de celebração.
"Este foi o maior Campeonato do Mundo, aquele com mais visibilidade, onde tudo cresceu: a qualidade, a exigência, a dimensão fisiológica, os adeptos. Deveríamos estar todos a celebrar e acontecem este tipo de situações", concluiu.
Já a saltadora Susana Costa, que representou Portugal no Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, abordou os preconceitos de género a propósito do desporto feminino e como teve de ultrapassá-los dentro da sua própria casa.
"Na minha cultura, as meninas de 15, 16 anos costumam ficar em casa a ajudar as mães e o desporto não era muito bem visto por isso. Arranjei uma estratégia para isso correr melhor, ser péssima a cozinhar. A minha mãe gostava de ter os filhos em casa, mas depois o meu treinador começou a ir mais vezes lá a casa, a chateá-la. [...] Tinha sorte que vivia num rés de chão, saltava da janela e muitas vezes fugia de casa para ir treinar", gracejou.
Lenine Cunha, nome incontornável do desporto paralímpico português e mundial, revelou que tem as mesmas condições de treino que um atleta olímpico e deixou rasgados elogios ao papel do atual Governo e nomeadamente do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, que também marcou presença.
"Eu e outros atletas que já acabaram a carreira andámos anos e anos a lutar pela igualdade, porque temos todos as mesmas dificuldades, trabalhamos, vivemos sentimos o mesmo. Finalmente, a partir de 2016, veio gradualmente a igualdade [...] Este Governo fez muito pelo desporto paralímpico", agradeceu.
O evento promovido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, em parceria com a Universidade da Maia e o Instituto Politécnico da Maia, decorreu no Auditório da Paróquia de Mafamude, em Vila Nova de Gaia.
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