A participação de Portugal neste Euro2020 acabou mais cedo do que o previsto, tendo sido marcada por alguns momentos positivos, outros negativos e outros ainda surpreendentes, e que no final de contas acabaram por condicionar uma das prestações mais curtas dos últimos anos em campeonatos europeus de futebol.
Um dos eventos mais marcantes foi, sem dúvida, o azar no sorteio, tanto da fase de grupos como do play-off. Se compararmos com a edição do campeonato europeu de 2016 em que conquistamos um lugar na final defrontando a Áustria, Hungria, Islândia, Polónia, Croácia e País de Gales, nesta edição de 2020 para conquistarmos um lugar na final teríamos de defrontar a Alemanha, campeã do mundo de 2014 e seleção de futebol mais titulada da história, a França, campeã do mundo de 2018 e vice-campeã europeia em 2016, a Bélgica, número um do ranking FIFA, a toda poderosa Itália de Mancini, quatro vezes campeã do Mundo e, possivelmente, a Espanha, campeã do Mundo e bicampeã da Europa entre 2008 e 2012. O desgaste que este tipo de confrontos traz às equipas é muito maior, e essa é uma fatura que se paga num ano de COVID, em que as épocas começaram mais tarde, o número de jogos se manteve, e o tempo de recuperação dos jogadores foi substancialmente inferior.
Um dos momentos mais marcantes pela negativa de Portugal neste Euro-2020 foi, considerado por muitos, o jogo com a Alemanha. E o pior não foi o resultado, porque esse foi mau mas podia ter sido catastrófico. O pior foi mesmo a forma impreparada como nos apresentamos perante um rival que, uns dias antes, tinha jogado de forma absolutamente igual com a França, uma equipa também ela muito parecida com Portugal. Não conseguimos perceber que a pressão que Pogba e Rabiot exerceram sobre Toni Kroos e Gundogan tinha sido essencial para a vitória da França, assim como a lição de humildade que não aprendemos com Griezman que acompanhou a marcação de Goesens até jogar a defesa direito, mantendo a igualdade numérica na linha defensiva.
A única coisa boa que retirámos do jogo da Alemanha foi a aprendizagem para o futuro que estava por vir. Percebemos que precisávamos de: (i) ter mais posse de bola na etapa de construção e que por isso João Moutinho era essencial; ser mais pressionantes no meio-campo e por isso retiramos Bruno Fernandes, um jogador absolutamente passivo do ponto de vista defensivo, para colocar Renato Sanches em campo; deixamos que Danilo pisasse os terrenos defensivos do meio-campo de Portugal de forma isolada, sem que William o prendesse nos seus movimentos. Pena foi que Fernando Santos não tenha ido mais longe e assumido frontalmente que também Bernardo Silva estava sem andamento para o Euro2020, e que precisávamos de um jogador mais vertical que defendesse e atacasse o corredor uma forma mais intensa. Talvez desta forma não tivéssemos sofrido o golo com a Bélgica...
Uma das maiores dificuldades que Fernando Santos demonstrou foi encontrar um modelo de jogo que capitalizasse o melhor do talento do jogador futebol português. Não obstante da ingrata missão de construir-se uma ideia de jogo sem treinar-se, nunca encontramos uma solução para integrar e capitalizar a juventude de João Félix, a experiência de Bernardo Silva, a velocidade de Diogo Jota, a visão de jogo de Bruno Fernandes, a capacidade de finalização de André Silva e a liderança de Cristiano Ronaldo. Bem sei que são atacantes a mais, mas exigia-se pelo menos um jogo com maior posse de bola imediatamente ao início do jogo, que tirasse partido da capacidade dos nossos melhores jogadores. Ainda assim, serve a favor de Fernando Santos o argumento de que as gerações de ouro anteriores do futebol português “jogaram como nunca e perderam como sempre”. E que sem o pragmatismo de 2016 seria impossível ganhar um título de seleções no atual contexto do futebol moderno.
O melhor do Europeu foi sem dúvida a forma unida com que Portugal abordou os seus adversários. As adversidades criadas pela Hungria, Alemanha, França e Bélgica foram sempre contrariadas com um plano coletivo de jogo, sem excessiva ênfase no individual, e sempre na tentativa de materializar em campo a crença na mensagem do líder Fernando Santos. E se nos lembrarmos de um passado recente da história de outras seleções portuguesas sempre tivemos dificuldade em colocar o vedetismo ao serviço da equipa, sendo isso muito patente nos momentos de maior sofrimento. Concretamente, a forma como nos superámos e empurrámos a Bélgica para trás, conquistámos metros no campo e criámos situações de golo suficientes para ganhar o jogo foi digno apenas de uma grande equipa. Basta para isso analisar que todas as substituições do jogo com a Bélgica vieram acrescentar algo mais à equipa de Portugal, algo que não é normal nas restantes seleções. Ainda assim não conseguimos marcar e fomos eliminados.
Por vezes, não existe um culpado pelas derrotas, apenas mérito do adversário.
Luís Vilar, Pró-Reitor da Universidade Europeia
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