Fechou-se o pano sobre o Campeonato da Europa de 2024, com a Espanha a ser coroada nova campeã europeia. De 14 de junho a 14 de julho o mundo do futebol centrou atenções no certame europeu, a prova de maior prestígio a nível de seleções, a seguir ao Campeonato do Mundo.
A final em Berlim reforçou a Espanha como a rainha da Europa. É a primeira seleção a vencer quatro Campeonatos da Europa, desempatando para já a contenda com a anfitriã Alemanha, que soma três troféus continentais. 1964, 2008, 2012 e agora 2024 são os anos desses títulos. Curiosamente só até ao Euro 96 apenas uma seleção somava mais do que um título europeu, precisamente os germânicos.
Alguns dos recordes deste Euro
A competição em Espanha também marcou a ascensão de uma maiores coqueluches do futebol mundial. Lamine Yamal é o mais novo campeão de uma grande competição de seleções, com 17 anos e um dia. Se a Espanha fez história, com o quarto ceptro europeu, a Inglaterra confirmou mais uma vez que não tem tido apetência para os jogos decisivos depois de ter perdido a final do Europeu há quatro anos atrás. Desde 1966 que a seleção inglesa não conquista um título. O único ceptro do país fundador do futebol foi mesmo o Campeonato do Mundo em 1966, num torneio em que Portugal conseguiu conquistar o terceiro lugar.
Domínio do futebol espanhol
Por vezes no futebol nem sempre o melhor vence. Veja-se o caso da Grécia por exemplo em 2004. Mas neste Europeu, o vencedor confirmou todo o favoritismo que foi ganhando ao longo do torneio. A 'La Roja' venceu os sete jogos em competição, sem necessidade de recorrer a grandes penalidades, um recorde na competição.
Pode recordar aqui todos os resultados
O caminho para a final não se afigurou fácil, com os espanhóis a derrubarem vários campeões do mundo: Itália, Alemanha, França e Inglaterra. Para além de terem batido também a finalista do mundial Croácia (em 2018), isto antes do caminho para a glória em Berlim.
Na armada espanhola não se pode dizer que houve uma estrela maior. A 'sorte' de Olmo, que ganhou espaço com a lesão de Pedri, valeu-lhe o título de melhor marcador, juntamente com Harry Kane (Inglaterra), Cody Gakpo (Países Baixos), Georges Mikautadze (Geórgia), Ivan Schranz (Eslováquia) e Jamal Musiala, todos com três golos.
O médio Rodri foi eleito o melhor do torneio. O centrocampista de 28 anos do City foi titular em seis do jogos da Espanha, formando dupla com Fabian Ruíz no meio campo. Marcou um dos golos do triunfo sobre a Geórgia por 4-1, nos oitavos de final. Na final frente à Inglaterra, viu-se forçado a sair ao intervalo, no triunfo da 'La Roja', por 2-1 sobre a Inglaterra. Lamine Yamal foi quem fez mais assistências.
Dados de Rodri no Euro:
Minutos jogados: 521
Golos: 1
Assistências: 0
Passes tentados: 439
Passes completados: 411
Precisão de passe: 92.84%
Antes do início do torneio, a Espanha era dada como favorita, mas não aparecia no topo na casa de apostas, ao contrário da seleção de Inglaterra.
Pelo perfume que espalhou em campo, pelo futebol positivo, pela vontade querer a bola, e tirá-la do adversário, sem grandes cautelas defensivas. Pela aposta num modelo e numa forma de jogar, numa raiz de jogo, que não se adapta a um adversário, a Espanha é por todos reconhecida como uma justa campeã da Europa.
O triunfo do país vizinho também foi a vitória do futebol, uma equipa sem o mesmo ADN da que 'armada' que venceu o Euro 2008 e 2012 e o Campeonato do Mundo em 2018. Continuou a ser uma equipa de posse, de bola no pé, mas que se valeu das alas, da verticalidade e da objetividade, com os extremo Nico Williams e Lamine Yamal a terem um papel determinante. Gary Lineker, ex-internacional inglês, ele que é sempre muito assertivo nas análises destacou desta forma a vitória da Espanha. "É uma vitória para o futebol de ataque".
O mérito de De la Fuente
Luis de la Fuente já inscreveu com letras de ouro o seu nome na história do futebol espanhol. O técnico teve o mérito de construir 'uma família' à volta da seleção. Juntou-se à lista dos ilustres formada por Villalonga (1964), Luís Aragonés (2008) e Vicente del Bosque (2012). De la Fuente já tinha sido campeão europeu com os sub-19 (2015) e sub-21, depois dos título da Liga das Nações e a prata olímpica em Tóquio. De La Fuente trouxe outras coisas a esta seleção. Passou a ser mais vertical, e coletiva, com Nico Willams e Lamal. Não perdeu a bola com Rodri e Fabián Ruíz que lhe conferiram equilíbrio, e com abnegado Morata na frente. Dani Olmo trouxe o toque distintivo a esta seleção.
E os jogadores decisivos que saíram do banco e fizeram a diferença? Falamos de Mikel Merino, que marcou aquele golo ao minuto 119 que derrubou a Alemanha acabando com o 'sonho' dos germânicos de conquistarem o título em casa. E o que dizer de Oyarzabal, que foi decisivo com o golo apontado ao minuto 86. E Dani Olmo? Passou de suplente a titular, para se tornar no goleador principal da Espanha.
A 'La Roja' também tem o condão de não claudicar nos jogos decisivos. Desde o ano de 2001, que por entre clubes e seleção de Espanha, em 27 finais ganharam as 27. A última derrota de um clube espanhol numa final foi há mais de 20 anos, com a derrota do Valência na final da Champions.
E o que dizer também do impacto do desporto espanhol? No mesmo ano em que também o Real Madrid conquistou o Champions, o país tem atletas a brilhar nos mais diferentes quadrantes, no basquetebol, andebol, Fórmula 1. No mesmo dia que a 'La 'Roja' abraçou o troféu que já foi de Portugal em 2016, em terras de sua majestade, Carlos Alcaraz erguia o troféu em Wimbledon. Alguma coisa os espanhóis devem estar a fazer bem...
Lamine Yamal - Revelação do Euro
Dois dias depois de ter completado 17 anos de idade, Lamine Yamal tornou-se no mais novo de sempre a conseguir marcar presença numa grande final de seleções, superando mesmo Pelé, que com 17 anos e 249 dias conquistou o Mundial de 1958 pela seleção do Brasil na final frente à Suécia. Foi quem mais assistiu no Europeu, com quatro assistências, igualando assim o máximo de sempre.
A maldição de Harry Kane
Harry Kane é que definitivamente deve ter feito um pacto com o azar. O grande avançado britânico, aos 30 anos, ainda não conseguiu vencer qualquer troféu na carreira. O dianteiro já esteve muito perto do Olimpo mas não conseguiu lá chegar. Ainda não somou qualquer troféu aos 30 anos. E já duas as finais de Campeonatos da Europa perdidas.
Desilusões do Euro
Se a Espanha manteve a 'bitola' ao longo do torneio, derrubando todos os obstáculos que se atravessaram ao seu caminho para conquistar o Euro 2024, temos que falar nas desilusões deste torneio, começando naturalmente pela aquela que era a campeã europeia, a seleção italiana. A 'squadra azzurra' teve uma performance periclitante e caiu sem apelo nem agravo frente à Suíça nos oitavos de final. Em todo o encontro, os italianos só conseguiram por uma vez rematar à baliza. A França também era tida como um dos candidatos principais à conquista do Euro, mas nunca conseguiu colocar em campo o brilho estelar das suas individualidades. Os gauleses são daqueles países que poderiam muito facilmente ter formado três equipas que seriam sempre candidatas ao Euro. Ainda assim, esteve longe de estar ao seu nível. Foi segunda na fase de grupos atrás da Áustria. Venceu a Bélgica (1-0) e Portugal nas grandes penalidades, antes de cair aos pés da Espanha nas meias-finais. Muito difícil de bater a nível defensivo, os gauleses não se conseguiram exponenciar coletivamente e individualmente com jogadores como Griezmann e Mbappé muito abaixo do que esperava deles.
Portugal, uma das desilusões do Euro
A qualificação para o Euro tinha sido imaculada, só com vitórias. Roberto Martínez podia encarar assim com otimismo a estreia na competição ao serviço da seleção portuguesa. Só que a equipa das quinas nunca convenceu ao longo do torneio.
Fosse pela mudança de sistema, mudanças sucessivas, jogadores em sub-rendimento, a equipa lusa não conseguiu demonstrar o porquê de ser considerada uma das favoritas à conquista do Europeu. Passou em primeiro na fase de grupos, mas já evidenciava sinais de pouca fiabilidade. Nos oitavos de final seguimos em frente, com muita dificuldade, frente a uma muito menos cotada Eslovénia, e só através das grandes penalidades. A Espanha talvez nos tenha dado uma lição maior. Está-se mais perto de ganhar se se jogar bem. A equipa lusa apareceu algo 'tristonha' neste Euro, sem dinâmica, sem ritmo, com circulação lenta, e a duvidar de si mesma. As figuras maiores, com Ronaldo à cabeça, a que se juntou também Bernardo Silva e Bruno Fernandes estiveram longe do fulgor que lhes reconhecemos. Conseguimos ver Rafael Leão a espaços, um Vitinha muito importante que chamou para si a posição e o estatuto de maestro em campo, depois da exibição frente à França. Um Nuno Mendes, com um andamento diferente dos companheiros de equipa. Um Diogo Costa magnífico, sobretudo no momento de inspiração na partida frente à Eslovénia. Mas Portugal, apesar de tudo, caiu nos quartos com uma boa exibição frente à uma seleção que era considerada mais cotada. Talvez o pior que podia ter acontecido... Porque se não se reflete sobre o que correu mal, arriscamo-nos a olhar para a conquista no Euro 2016 como um espécie de 'cometa' que só de século a século se deixa avistar.
Quem surpreendeu neste Euro?
Temos que começar por Pepe. 41 anos e tanto que deu a esta seleção. Se Portugal apenas concedeu três golos durante o torneio muito o deve ao defesa central. Representou a alma, e o querer da equipa das quinas, mesmo no momento de dificuldade. No final da partida frente à França despediu-se a chorar, como que a perceber o fim do ciclo com a camisola de Portugal.
Cody Gapko foi um dos mais avançados que mais surpreendeu neste europeu. Apesar de uma época menos conseguida em Liverpool, com três golos e uma assistência, ajudar os neerlandeses a atingir as meias-finais a prova.
Portugal provou-lhe o veneno: Giorgi Mamardashvili. O guardião da Geórgia foi o símbolo máximo de uma das equipas mais 'anárquicas' deste Europeu, mas que também causou maior impacto. Os georgianos só caíram na competição frente à Espanha.
Os germânicos Jamal Musiala e Florian Wirtz deixaram um impacto profundo neste Campeonato da Europa. Musiala deslumbrou com a sua classe e categoria, espalhando perfume pelos relvados do Euro. A Áustria foi uma das boas surpresas deste Campeonato da Europa, graças ao selecionador Ralf Rangnick, que transformou esta seleção. Venceram o grupo da morte, ficando na retina a vitória apoteótica contra os neerlandeses por 3-1. A nível do futebol optaram um jogo de risco, e de constante movimento que colheu frutos. Esta abordagem trouxe algumas debilidades a nível defensivo, com os austríacos a caírem nos oitavos de final da prova frente à Turquia, mas a deixarem uma excelente imagem para todos os que apreciam bom futebol.
Por fim deixamos-lhe alguns número deste Euro 2024
Diogo Costa tornou-se no primeiro guarda-redes a defender três remates num desempate por grandes penalidades no EURO, aconteceu frente à Eslovénia
A Alemanha derrotou a Escócia por 5-1 e tornou-se na primeira equipa a marcar cinco golos num jogo inaugural da prova desde 1960, isto depois da Jugoslávia derrotou a França por 5-4
Ronaldo tornou-se no primeiro jogador a participar em seis fases finais de europeus, depois da estreia ter acontecido em 2004
A Espanha venceu sete jogos consecutivos no Euro, o que até então nunca tinha acontecido.
Dani Carvajal e Nacho tornaram-se no 11º e 12º jogadores a vencer no mesmo ano o Campeonato da Europa e a Champions League
A Espanha marcou 15 golos nesta fase final, batendo o seu recorde num único torneio
O alemão Julian Nagelsmann, com 36 anos e 327 dias, tornou-se no selecionador mais jovem a comandar um país na fase final do EURO
Luka Modrić (38 anos 289 dias), capitão da Croácia, marcou à Itália, quebrando o recorde do antigo avançado austríaco Ivica Vastic, tornando-se no mais velho a marcar no EURO.
Fonte UEFA.
O SAPO Desporto acompanhou este mês a par e passo o Campeonato da Europa e esteve na Alemanha a par com a participação portuguesa na competição. Pode ver e rever o nosso diário do Euro. Continue a acompanhar toda a informação desportiva em desporto.sapo.pt
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