O ex-presidente da Federação Portuguesa de Futebol Gilberto Madail disse hoje que o ex-selecionador Luiz Felipe Scolari era imune às pressões, nomeadamente do presidente do FC Porto, Pinto da Costa.
«Cada treinador tem o seu grupo de jogadores, o Paulo Bento tem, o Carlos Queiroz tinha e o Scolari também. Desde o princípio que apostou no seu, do qual fazia parte o Ricardo, em que apostou, e não havia ninguém, nem o Papa, que o fizesse mudar de posição», comentou o ex-presidente da Federação, lembrando «o antagonismo que cedo se tornou público» entre Scolari e Pinto da Costa.
Durante uma conferência subordinada ao tema “A Preparação de uma Equipa para vencer o Europeu”, que decorreu no ISLA Campus (Instituto Superior de Línguas e Administração), em Lisboa, o assunto foi abordado por Madail a propósito das declarações recentes de Scolari sobre o facto de nunca ter convocado o ex-guarda-redes do FC Porto Vítor Baía.
O brasileiro justificou a opção por informações dadas pelo próprio Pinto da Costa, que lhe terá dito que o jogador estava em conflito com o treinador de então, José Mourinho, e com a direção, e que não contavam com ele para a época então em curso.
Scolari alegou, ainda, ter baseado a sua decisão em informações colhidas junto de pessoas da Federação sobre Vítor Baía, nomeadamente a nível de liderança de balneário, e afirmou que Gilberto Madail só disse publicamente desconhecer as razões de o ex-guarda-redes nunca ter sido convocado porque já não está na FPF.
O ex-presidente federativo admitiu que Pinto da Costa exercia influências pela «figura fortíssima» que é, pelo «background» e pelo «prestígio que angariou ao longo dos anos», e que lhe «permitem dizer o que, dito por outros, se torna ridículo».
Madail sustentou que, «mesmo subconscientemente», as palavras de Pinto da Costa «chamam a atenção, independentemente de virem a ter ou não influência», e que, quando ele manifestava opinião sobre convocatórias para a seleção, «tudo dependia do recetor».
«Neste caso, o recetor, Luiz Filipe Scolari, não ouvia bem», observou Madail, confirmando a versão do ex-selecionador, segundo a qual Vítor Baía «tinha entrado em rutura com Pinto da Costa e José Mourinho» e que esteve «vários jogos afastado da equipa do FC Porto por essa razão».
Outro caso mais recente, o de Ricardo Carvalho, que entrou em choque com o selecionador atual, Paulo Bento, também foi abordado por Madail, que considerou a atitude do jogador, que abandonou um estágio da seleção quando percebeu que não ia ser titular, como «precipitada e impensada».
Madail entende que o defesa central do Real Madrid «foi mal aconselhado» e admitiu ter falado pessoalmente com ele, ‘a posteriori’, sugerindo-lhe «o que devia fazer para reverter» a situação, de modo «a criar condições para o seu regresso» à seleção.
No entanto, confessou Madail, «esses esforços e os conselhos que deu a Ricardo Carvalho esbarraram no poder disciplinar» de Paulo Bento, que «disse e repetiu perentoriamente que não», inviabilizando «uma saída airosa» para a situação.
«Tenho pena que as coisas tivessem chegado ao ponto a que chegaram porque acho que o Ricardo Carvalho fazia-nos muito jeito – não digo falta porque só quem lá está [no Euro2012] é que faz falta –, tal como o Bosingwa», expressou Madail, numa conferência em que abordou outras questões relacionadas com a participação de Portugal no Europeu, nomeadamente «a diferença de mentalidade» do jogador português para o holandês, espanhol ou alemão, que se traduz numa «menor autoconfiança» face aos jogadores dessas seleções.
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