O título de 2016, conquistado com um pontapé do ‘herói improvável’ Éder, é o ex-líbris das participações de Portugal no Campeonato da Europa de futebol, a conquista há muito sonhada e merecida.
Poderia ter acontecido em 1984, na estreia, em 2000, com um futebol encantador, em 2004, em solo luso, ou mesmo em 2012, mas, para a seleção lusa, os astros só se alinharam, e de que maneira, há oito anos, em França.
Um pontapé do ‘meio da rua’ de Éderzito António Macedo Lopes, vulgo Éder, aos 109 minutos da final com a anfitriã França (1-0), selou, finalmente, a primeira conquista de Portugal, depois de sucessivas desilusões.
A maior de todas tinha acontecido em 2004, em casa, com Portugal, após arredar Espanha, Inglaterra e Países Baixos, a cair, inesperadamente, na final com a Grécia, derrotado por 1-0, em pleno Estádio da Luz, em Lisboa.
A formação das ‘quinas’ nunca tinha estado tão perto do cetro, mas já havia ‘ameaçado’, primeiro logo a abrir, em 1984, na única vez de uma série de craques, e depois em 2000, com a ‘geração de ouro’, em duas eliminações no prolongamento das meias-finais face à França, que acabou campeã.
Portugal, que nunca caiu na fase de grupos, ainda esteve nas meias-finais em 2012, derrotado nos penáltis pela campeã Espanha, ficando-se pelos ‘quartos’, sem glória, em 1996 e 2008, e pelos ‘oitavos’ na edição de 2020, adiada para 2021 pela pandemia da covid-19.
A seleção lusa falhou consecutivamente o apuramento para os Europeus de 1960 a 80, apesar de, pelo meio, ter sido terceira no Mundial de 66 e de contar com uma das melhores equipas do continente, o Benfica, campeão europeu em 1961 e 62 e ‘vice’ em 63, 65 e 68, só com portugueses.
Em 1984, Portugal chegou, finalmente, a uma fase final, após um ‘duelo’ até ao último jogo com a União Soviética, que bateu na Luz por 1-0, com um penálti de Jordão conquistado por Chalana, depois de uma goleada por 5-0 sofrida em Moscovo.
O brasileiro Otto Glória demitiu-se após a goleada na União Soviética e foi Fernando Cabrita (mais Toni, José Augusto e António Morais) que levou Portugal às ‘meias’, após ‘driblar’ um grupo com RFA (0-0), Espanha (1-1) e Roménia (1-0).
Um golo de Nené selou as ‘meias’, nas quais Portugal começou a perder, mas deu a volta, já no prolongamento, com um ‘bis’ de Jordão, oferecido por Chalana: o sonho esteve a cinco minutos, mas a anfitriã França ainda virou para 3-2, selado ‘cruelmente’ por Michel Platini, aos 119 minutos.
A presença de 1984 superou as expectativas, mas não teve seguimento, já que Portugal falhou os Europeus de 1988 e de 1992, que ainda é o último sem a seleção lusa. Voltou apenas em 1996, na primeira vez da ‘geração de ouro’, os campeões mundiais de juniores, com Carlos Queiroz, em 1989 e 1991.
Portugal voltou a abrir com um empate (1-1 com a Dinamarca) e, depois, bateu Turquia (1-0) e as ‘reservas’ de uma Croácia já apurada (3-0), para, nos ‘quartos’, sucumbir ao ‘chapéu’ de Karel Poborsky, checo que viria a jogar no Benfica.
Em 2000, perante Inglaterra, Alemanha e Roménia, parecia impossível passar a fase de grupos, mas os comandados de Humberto Coelho estiveram arrasadores, começando por virar de 0-2 para 3-2 com os ingleses, com tentos de Figo, João Pinto e Nuno Gomes, este último em estreia a marcar.
Depois, Costinha selou o apuramento com os romenos (1-0), mas Portugal, com as ‘reservas’, ainda afastou e humilhou a Alemanha (3-0, com um ‘hat-trick’ de Sérgio Conceição), antes de superar a Turquia nos ‘quartos’ (2-0), com um ‘bis’ de Nuno Gomes - servido por Figo - e um penálti detido por Vítor Baía.
O então jovem avançado viria a dar vantagem a Portugal nas ‘meias’, no reencontro com a França, mas os gauleses conseguiram, novamente, a reviravolta, desta vez com Zinédine Zidane a decidir, com um ‘golo de ouro’, de grande penalidade, aos 117 minutos, após polémica mão de Abel Xavier.
A formação das ‘quinas’ foi, depois, a anfitriã do Euro2004 e começou da pior forma, com uma derrota perante a Grécia (1-2), que, quem diria então, voltaria a estragar a festa lusa, agora sem remissão, na final (0-1).
Entre os dois embates com os helénicos, Portugal, comandado pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, começou por superar a fase de grupos ‘in-extremis’, com um golo de Nuno Gomes à Espanha (1-0), após bater uma Rússia cedo reduzida a 10 (2-0).
Seguiu-se um memorável embate com a Inglaterra, resolvido, após intensos 120 minutos (2-2), na ‘lotaria’ (6-5), com dois momentos para a lenda de Ricardo (defesa de um penálti sem luvas e golo da vitória) e um de Hélder Postiga (‘Panenka’ que poderia ter custado o adeus).
O apuramento para a final, face aos Países Baixos (2-1, com tentos de Cristiano Ronaldo e Maniche, este monumental), acabou por ser o mais fácil, até que tudo se desmoronou na cabeça de Angelos Charisteas.
Em 2008, Portugal começou com dois triunfos (2-0 à Turquia e 3-1 à República Checa), selando desde logo os ‘quartos’, mas, depois, ‘desapareceu’ (0-2 com a Suíça, ainda na primeira fase, e 2-3 com Alemanha), no que constituiu uma despedida amarga para Scolari, entretanto comprometido com o Chelsea.
Quatro anos volvidos, com Paulo Bento ao ‘leme’, Portugal começou com um desaire (0-1) face à Alemanha, ‘retificado’ com triunfos complicados face a Dinamarca (resolveu Varela, aos 87 minutos) e Países Baixos (‘bis’ de Ronaldo).
Cristiano Ronaldo voltou a resolver nos ‘quartos’, face à República Checa (1-0), mas já não conseguiu ser fator perante a Espanha, que ganhou na ‘lotaria’ (4-2), após 120 minutos sem golos. Falharam João Moutinho e Bruno Alves.
Em 2016, Portugal fez uma fase de grupos penosa, com empates com Islândia (1-1), Áustria (0-0) e Hungria (3-3), e só não caiu pela primeira vez antes da fase a eliminar porque os quatro melhores terceiros também seguiam em frente.
O conjunto comandado por Fernando Santos qualificou-se e, graças a um golo da Islândia face à Áustria aos 90+4 minutos, ainda foi parar à parte ‘favorável’ do quadro, começando por superar a Croácia, nos ‘oitavos’, mas só no tempo extra (1-0).
Nos ‘quartos’, foi ainda mais difícil bater a Polónia, que só caiu nos penáltis (5-3, após 1-1), para, nas ‘meias’, chegar a primeira e única vitória nos 90 minutos, selada face ao País de Gales (2-0), que nunca se tinha visto nestas ‘andanças’.
A final, face à anfitriã França, prometia ser complicada e mais se tornou, aparentemente, com a lesão prematura de Cristiano Ronaldo, mas Fernando Santos tirou Éder da ‘cartola’ e este escreveu a mais bonita página do futebol português.
Na edição de 2020, realizada em 2021, Portugal apresentou-se como detentor do título e voltou a passar a fase de grupos como terceiro, desta vez num grupo fortíssimo, com Hungria (3-0), Alemanha (2-4) e França (2-2).
A ‘aventura’ lusa acabou, porém, mais cedo do que nunca, nos oitavos de final, introduzidos apenas em 2016, com um desaire por 1-0 com a Bélgica.
Portugal cumpre em 2024 a sua nona presença na fase final do Europeu, numa 17.ª edição que se realiza na Alemanha, de 14 de junho a 14 de julho.
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