O susto de Eriksen
O EURO2020 começou da pior maneira possível. Aos 43 minutos de jogo, quando era marcado um lançamento de linha lateral a favor dos dinamarqueses, Christian Eriksen, que era o recetor do lançamento, caiu inanimado no relvado.
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As equipas médicas rapidamente entraram no campo, face aos pedidos de auxilio dos jogadores que chegaram junto a Eriksen num primeiro momento. E aí, o silêncio invadiu o Estádio Parken.
As imagens da realização mostravam a equipa médica a reanimar o jogador. Os jogadores da Dinamarca, para preservar a privacidade de Eriksen, fizeram uma barreira à volta do jogador e da equipa médica, que tratava o dinamarquês.
Seguiram-se momentos de choque, de perplexidade, de não acreditar que aquilo estava a acontecer. Os adeptos no estádio estavam em choque. Longos minutos depois, Eriksen saiu do estádio numa maca, sem que fosse conhecido o seu estado.
Mais tarde ficou a saber-se que Eriksen, autor de 36 golos em 109 jogos pela seleção nórdica, tinha sofrido uma paragem cardíaca e que teria mesmo sido dado como clinicamente morto por alguns segundos.
O jogo realizado no Parken, em Copenhaga, acabou por ser reatado duas horas depois, com a Finlândia a vencer por 1-0. Depois disso, Eriksen foi submetido a uma intervenção cirúrgica ao coração, durante a qual lhe foi implantando um auto-desfibrilador .
Ultrapassado o susto, o EURO2020 continuou sem novos sobressaltos, mas com algumas desilusões. A seleção portuguesa foi uma delas.
A desilusão portuguesa
A defender o título conquistado em 2016, a formação das quinas começou com um triunfo por 3-0 face à Hungria, mas num resultado que escondeu as dificuldades sentidas por Portugal, empatado a zero a cinco minutos do final do encontro de Budapeste.
O conjunto de Fernando Santos só conseguiu desbloquear o marcador aos 85 minutos, com um tento feliz de Raphaël Guerreiro, após assistências do suplente Rafa, que entrou aos 71 e foi decisivo na única vitória lusa no Euro2020.
O jogador do Benfica ofereceu, depois, dois golos a Cristiano Ronaldo, ao sofrer um penálti que o capitão transformou, aos 87 minutos, para, nos descontos, somar a segunda assistência no jogo, proporcionando o bis ao craque português.
Depois das dificuldades face aos magiares, Portugal voltou a jogar fora contra a Alemanha. A Mannschaft entrou a todo o gás e a formação das quinas viveu uns primeiros 10 minutos muito complicados, mas, aos 15, conseguiu adiantar-se no marcador: Cristiano Ronaldo cortou atrás, sprintou e encostou, após assistência de Diogo Jota, lançado por um grande passe de Bernardo Silva.
Com esse resultado, Portugal ficaria logo apurado – somaria seis pontos, contra zero dos alemães -, mas a reação dos anfitriões foi implacável, arrancando com autogolos de Rúben Dias, aos 35 minutos, e Raphaël Guerreiro, aos 39.
No início da segunda parte, o onze de Joachim Löw continuou, claramente, a mandar, e marcou mais dois tentos, ambos com participação decisiva de Robin Gosens, que assistiu Kai Havertz, aos 51, e marcou, aos 60. Temeu-se o pior, mas, Portugal ainda voltou ao jogo e reduziu por Diogo Jota, aos 67 minutos.
Com o duelo com a campeão França pela frente, a situação não se afigurava fácil, mas, com o decorrer dos outros grupos, a formação das quinas rapidamente percebeu que até poderia perder por três golos, desde que a Hungria não batesse a Alemanha.
Portugal sabia também que, pontuando, estava apurado e conseguiu esse objetivo, graças a dois penáltis oferecidos a Cristiano Ronaldo, o primeiro após um murro de Llloris a Danilo Pereira o segundo numa mão de Koundé.
O capitão luso aproveitou, aos 31 e 60 minutos, igualando os 109 golos de Ali Daei como melhor marcador mundial por seleções, mas, pelo meio, o seu ex-companheiro de equipa Karim Benzema também bisou, aos 45+2, de penálti, e 47.
Durante alguns minutos, no início da segunda parte, Portugal chegou a estar em quarto – face à vantagem da Hungria sobre a Alemanha, num jogo que acabou em empatado a dois -, mas acabou em terceiro, como em 2016, desta vez mesmo como o melhor terceiro.
Depois disso, a seleção portuguesa acabaria por ser afastada da prova ao perder com a Bélgica por 1-0, em Sevilha. Um golo de Thorgan Hazard, aos 42 minutos, foi suficiente para selar o triunfo dos ‘diabos vermelhos’. Portugal ainda teve várias oportunidades para marcar, especialmente depois das entradas de Félix, Bruno Fernandes e André Silva, mas a sorte não caiu para o lado do campeão europeu.
Após o triunfo em 2016, selado no prolongamento da final com a França pelo herói Éder, Portugal ficou-se pelo primeiro jogo a eliminar, como em 1984, 1996 e 2008, mas na primeira ocasião nas ‘meias’ e nas duas seguintes nos quartos.
A formação das quinas acabou, assim, pela primeira vez fora do top 8, à oitava participação, e com apenas uma vitória, sobre a Hungria, repetindo que havia feito na estreia, em 1984, então também apenas em quatro jogos, mas numa fase final só para oito.
Os comandados de Fernando Santos selaram igualmente um registo negativo no que respeita a golos sofridos, com sete, superando os seis dos Europeus de 2004 e 2008. De positivo, apenas o facto de ter conseguido ultrapassar a fase de grupos, como nas sete participações anteriores, algo inédito entra as seleções com mais de duas presenças.
A final
Depois da desilusão portuguesa, mais emocionante foi a final da prova, que colocou frente a frente Itália e Inglaterra.
A lutar pelo primeiro título de sempre num Europeu, a Inglaterra não podia ter pedido melhor entrada no jogo. Numa transição rápida aos três minutos, Harry Kane abriu à direita para Kieran Trippier e o lateral cruzou para o segundo poste, onde surgiu Luke Shaw a finalizar de primeira nas costas de Giovanni Di Lorenzo. O lateral do Manchester United estreava-se a marcar pela seleção inglesa, na sua 16.ª internacionalização.
De realçar que Shaw superou, por quatro minutos, aquele que era o golo mais rápido em finais do Campeonato da Europa, apontado pelo espanhol Jesus Pereda, aos seis minutos do jogo decisivo de 1964, frente à União Soviética.
A equipa transalpina mostrava dificuldades em chegar com qualidade à área adversária e em controlar as subidas dos alas ingleses, que estavam endiabrados. A melhor oportunidade para a squadra azzurra acabou por surgir aos 36', numa grande arrancada de Chiesa, com o remate, em zona frontal, a rasar o poste.
A segunda parte começou com a Inglaterra a pedir grande penalidade por uma eventual falta de Chiellini sobre Sterling. O árbitro Bjorn Kuipers mandou seguir.
Já com Berardi e Cristante em campo, a Itália foi dando que fazer a Jordan Pickford. O guardião inglês esteve em grande ao travar o remate rasteiro de Chiesa aos 62', mas nada pôde fazer para evitar o empate dos transalpinos, minutos depois: canto batido na direita, com Verratti a cabecear e Pickford a defender para o poste. Na recarga, Leonardo Bonucci atirou para o fundo da baliza.
Com este golo, o central italiano, de 34 anos, tornou-se o mais velho jogador a marcar em finais do Euro, superando o recorde que pertencia ao alemão Bernd Hölzenbein, que, com 30 anos e três meses e 11 dias, faturou na final de 1976, no desaire da RFA face à Checoslováquia, no desempate por grandes penalidades.
A Itália esteve muito perto de dar a volta aos 74 minutos, com Bonucci a lançar em profundidade Berardi, mas o avançado do Sassuolo rematou por cima na cara de Pickford. Mantido o empate após prolongamento, a decisão foi empurrada para a marca dos onze metros.
Nas grandes penalidades, a Itália converteu três dos cinco pontapés, enquanto a Inglaterra anotou apenas dois, com Donnarumma a defender outros dois e Marcus Rashford a atirar ao poste.
Os italianos sagraram-se assim campeões europeus e igualaram em Wembley os dois cetros da França. Além disso, a seleção italiana conta no seu palmarés com quatro título mundiais, conquistados em 1934, 1938, 1982 e 2006.
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