Qual a forma mais portuguesa de ganhar? É no sofrimento, é nos descontos, quando a crença começa a fugir. A estreia de Portugal no Grupo F do Euro 2024 na terça-feira levantou muitas dúvidas, mas a Seleção Nacional conseguiu o objetivo dos três pontos, apesar de alguns calafrios, tal como aconteceu com quase todas as candidatas ao título.
Numa prova intensa jogada em pouco tempo, cumpriu-se os mínimos. Mas será preciso muito mais para derrotar a Turquia e a Geórgia nos jogos que se seguem na fase de grupos, e ainda muito mais quando chegarmos à fase do 'mata-mata'.
Os homens que vieram do banco deram os três pontos a Portugal.
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O Jogo: sofrer como o português gosta
A opção de Roberto Martinez por Nuno Mendes para formar com Pepe e Rúben Dias a linha de três defesas atrás foi muito criticada, mas a Seleção Nacional nem se deu mal perante uma Chéquia que quis defender e depois sair em contra-ataque. A construir, Nuno Mendes abria na ala, e dava a João Cancelo a oportunidade de jogar por dentro, juntando-se aos médios Bruno Fernandes, Bernardo Silva e Vitinha. A defender, o lateral esquerdo do PSG juntava-se aos centrais, formando uma linha de cinco.
Defensivamente resultou porque Portugal conseguiu pressionar melhor, ganhou inúmeras vezes a bola ainda no meio-campo checo. E quando a Chéquia conseguia esticar o jogo, Nuno Mendes e os dois centrais anulavam com facilidade as investidas do adversário.
A Portugal faltou acelerar mais o jogo em determinados momentos, quando trocava a bola e fazia dançar a defesa contrária. Às vezes até conseguia o espaço mas demorava muito a ataca-lo.
No segundo tempo, acelerou mais o jogo, criou situações de golo, tal como na primeira parte, como aos 32 minutos quando Stanek negou o golo a Cristiano Ronaldo. No entanto, Portugal continuava a ter dificuldades em furar o bloco checo, muito por culpa da previsibilidade do seu jogo.
Se no primeiro tempo a Chéquia pouco ou nada tinha feito a nível ofensivo, no segundo tempo marcou da primeira vez que atacou com perigo, num golo de fora da área. Faltou uma melhor cobertura dos médios de Portugal nessa zona. Foi o primeiro e único remate dos checos enquadrado com a baliza.
Ter marcado o empate logo de seguida, aos 69 (autogolo de Hranac) ajudou Portugal em termos anímicos já que a Chéquia nem teve tempo para crescer com a vantagem e a seleção Nacional não se desmontou mentalmente, mantendo o seu jogo.
Os sinais dados por Roberto Martinez desde o banco deviam ser outros, com as entradas, mais cedo, de Francisco Conceição e Pedro Neto. O jogo pedia um agitador, alguém que desse algo diferente e que tirasse os checos da sua zona de conforto.
O golo de Francisco Conceição nos descontos premiou a equipa que mais quis ganhar, que mais perigo criou, mas Portugal terá de resolver mais cedo os seus problemas perante equipas que se fecham lá atrás, sob pena de alguns dissabores.
No próximo jogo, é provável que haja mexidas no onze e não seria surpreendente se Roberto Martinez abdicasse de Bernardo Silva e Rafael Leão.
Momento-chave: Francisco Conceição com toque de midas
Foi tardia a reação de Roberto Martinez no banco, já que só aos 89 minutos, resolveu esgotar as substituições, com as entradas de Francisco Conceição, Pedro Neto e Nelson Semedo. Pode dizer-se que acertou nas mexidas já que da primeira vez que os dois extremos tocaram na bola, construíram a vitória. Uma vitória vinda do banco já que o primeiro passe longo é de Gonçalo Inácio, que tinha entrado a meio do segundo tempo, para Pedro Neto que trabalhou na esquerda, centrou, para Francisco Conceição ganhar um ressalto e atirar para o fundo das redes, na primeira vez que tocou na bola.
Os Melhores: Vitinha, o farol
Vitinha foi eleito Melhor em Campo pela UEFA. A sua titularidade em detrimento de João Palinha não surpreendeu, e foi uma aposta acertada. Foi a bússola do meio-campo, o que permitiu a Bruno Fernandes jogar um pouco mais perto de Cristiano Ronaldo. Pepe e Rúben Dias estiveram imperiais perante os avançados contrários, tal como Nuno Mendes, muito sólido a defender.
Destaque para o guarda-redes checo Stanek, o principal responsável por Portugal só ter marcado dois golos. Brilhante na defesa, aos 32 minutos, a remate de Cristiano Ronaldo, e muito eficaz a travar as investidas de Portugal.
Em noite 'não': Martinez tem de mexer mais cedo, Hranac azarado
Roberto Martinez fez duas mexidas aos 62 minutos, que melhoraram Portugal e só voltou a mexer aos 89. O jogo pedia algo novo do branco, como a imprevisibilidade e o atrevimento de Francisco Conceição mas o selecionador só lançou o 'abre-latas' da Seleção a minuto do final. Ainda foi a tempo de marcar mas podia e devia ter entrado mais cedo.
Hranac dificilmente irá esquecer este jogo. É dele o empate... de Portugal, numa bola onde pouco ou nada podia fazer (o seu guarda-redes socou a bola contra as suas pernas e deu autogolo) e é ele quem escorrega quando vai fazer o corte e permite que a bola passa para Francisco Conceição fazer o 2-1 aos 90+2.
Reações
Roberto Martínez: "Ganhámos porque mostrámos resiliência, vontade e acreditar"
Vitinha e a vitória ao cair do pano: "É uma grande demonstração de força da equipa"
Francisco Conceição: "Queria dar alegria aos portugueses e à minha família que sofre muito"
*Reportagem na Alemanha com Evandro Delgado e Afonso Trindade de Araújo, enviados especiais do SAPO Desporto
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