A história do Kosovo tem muito para contar apesar de o país ser relativamente recente. Mas paralelamente à luta pelo reconhecimento pelas restantes nações também existiu um longo percurso no futebol e na oficialização da seleção do jovem país que só viria a acontecer oito anos depois da declaração de independência.
Um homem foi fulcral no sucesso desta batalha: Fadil Vokrri, internacional pela antiga republica da Jugoslávia, marcou na sua primeira internacionalização num jogo frente à Escócia que terminou com a derrota da sua equipa por 6-1. O primeiro e único kosovar a alinhar pela Jugoslavia fez seis golos em 12 internacionalizações.
Vokrri, por muitos considerado o melhor jogador de sempre do Kosovo, chegou a receber propostas da Juventus, mas o serviço militar obrigatório obrigou-o a recusar o convite. Ficou no Partizan de Belgrado onde venceu o campeonato Jugoslavo em 1987 e a taça da Jugoslávia em 1989.
Nesse mesmo ano e para escapar à guerra que estava já ao 'virar da esquina, Vokrri assinou pelo Nantes e levou a família para França. A década seguinte ficaria marcada pelo conflito armado que matou mais de 140 mil pessoas na região, de acordo com dados da BBC.
Avancemos então para 2008: o governo provisório do Kosovo declara unilateralmente a sua independência da Sérvia (que até hoje não aceita e continua a reclamar o território para si).
Fadil Vokrri, que tinha voltado ao país em 2004, cinco anos depois da guerra ter terminado, foi o escolhido para presidir e, basicamente, criar a Federação Kosovar de Futebol que em fevereiro de 2008 contava com poucos recursos – dois computadores e duas mesas num apartamento em Pristina, capital do país.
Vokrri, que liderou a Federação até à sua morte em 2016, acompanhou todo o percurso que levou o Kosovo a tornar-se membro oficial da FIFA. Um caminho difícil que dependia do reconhecimento por uma maioria dos países membros das Nações Unidas: ao início, apenas 51 em 193 reconheciam a republica do Kosovo.
O Kosovo começou por jogar contra seleções não reconhecidas como a do Mónaco ou do Chipre do Norte, com jogadores exclusivamente nascidos no território, ainda que vários jogadores de origem kosovar alinhassem por outras seleções. Mas estes estavam impedidos de solicitar para alinhar pelo Kosovo porque o país não era membro nem da FIFA nem da UEFA.
Mas isso mudou em maio de 2016. A festa espalhou-se pelas ruas do Kosovo quando, com 28 votos a favor e 24 contra, o país foi admitido na UEFA e, mais tarde, na FIFA com 86% de votos a favor.
A partir daqui a UEFA começou a analisar os pedidos, caso a caso, de jogadores que pretendiam integrar a seleção kosovar. Alguns casos chegaram a só ser aprovados a poucas horas do primeiro jogo oficial a contar para qualificação para o mundial de 2018, em setembro de 2016.
Foi o caso Valon Berisha, que já tinha alinhado pela seleção norueguesa. O pedido acabou por ser aceite e Berisha entrou em campo e marcou o golo do empate frente à Finlândia por 1-1: foi o único ponto dos kosovares na qualificação para o mundial, um ponto que para a população que tanto lutou para ver a sua equipa jogar, soube a vitória.
Três anos depois, na qualificação para o Euro 2020, o cenário é bem diferente. A quatro jogos do final da qualificação, o Kosovo leva duas vitórias e dois empates, que colocam a equipa no segundo lugar do Grupo A, a um ponto da Inglaterra (com menos um jogo).
A equipa treinada pelo suíço Bernard Challandes (o responsável por esta conferência original), não perde desde outubro de 2017, somando cinco empates e dez vitórias, a última frente à República Checa por 2-1 depois de ter estado a perder em Pristina, no estádio que foi batizado com o nome do ícone do futebol kosovar: Fadil Vokrri.
O apuramento para o europeu está à vista, quer seja por via rápida, ficando num dos primeiros dois lugares do grupo de qualificação, ou por via do playoff onde ganhou um lugar graças à campanha na Liga Das Nações onde terminou no primeiro lugar do grupo 3 da liga D.
O Kosovo defronta esta terça-feira a Inglaterra, em Southampton, num jogo que os kosovares esperam que seja histórico para a sua equipa e que os pode colocar no primeiro lugar do grupo A.
Comentários