Podia ter sido uma noite para Portugal e Ronaldo sorrirem, mas nem o golo 700 do astro da Seleção Nacional impediu que o campeão europeu saísse de Kiev com um traumatismo ucraniano. A formação das quinas perdeu por 2-1 frente à Ucrânia, somou a primeira derrota na qualificação para o Euro 2020 e perdeu a oportunidade de chegar ao primeiro lugar do grupo B, um dos objetivos traçados inicialmente por Fernando Santos.

Uma entrada em falso no primeiro tempo, marcada por dois erros resultaram nos dois golos da Ucrânia, complicou a missão para a segunda parte, onde Portugal foi efetivamente melhor, mas ineficácia ofensiva e um gigante Andriy Pyatov impediram que a Seleção Nacional conseguisse sair vitoriosa da capital ucraniana e impuseram a terceira derrota a Fernando Santos em jogos oficiais desde que assumiu o comando da seleção nacional, em outubro de 2014.

O jogo: CR700 foi insuficiente para colmatar dois erros defensivos dos campeões europeus

Em relação ao último jogo, Fernando Santos lançou João Mário e Gonçalo Guedes no 'onze', para os lugares de Bruno Fernandes e João Félix, respetivamente, o que acabou por ser uma aposta falhada do selecionador nacional. O avançado do Valencia já não voltou dos balneários depois do intervalo, e o médio do Lokomotiv Moscovo - substituído no decorrer do segundo tempo - demonstrou um grande desacerto no primeiro tempo que também poderia não ter regressado para os segundos 45 minutos.

Num Estádio Olímpico de Kiev completamente lotado (70 mil pessoas), em dia de feriado de orgulho nacional no país, Yaremchuk levou os adeptos ao delírio os adeptos da casa aos seis minutos, ao aproveitar uma defesa incompleta de Rui Patrício. Na sequência de um canto, o guardião luso impediu o primeiro cabeceamento de Krivtsov, mas nada pode fazer para parar o desvio certeiro do jogador dos belgas do Gent.

Em desvantagem, Portugal teve sempre mais posse de bola, mas encontrou pela frente uma equipa coesa defensivamente e à espreita sempre de um ataque rápido para criar perigo junto da baliza adversária, mas, logo nesse momento, ficou demonstrado que iria ser uma noite desinspirada para Portugal.

Tanto Ronaldo como Bernardo Silva tiveram dificuldades em fugir à 'teia' criada pela Ucrânia, e, num lance de total desconcentração portuguesa, os ucranianos aumentaram a vantagem aos 27 minutos. Yarmolenko apareceu solto na área, após centro da esquerda de Mykolenko, e dilatou o marcador para a equipa da casa.

Tudo estava a correr mal a Portugal que acabou a primeira parte com mais posse de bola, mais oportunidades de golo, mas com muitos problemas em termos de finalização e na consistência das suas ações. Exemplo disso é o facto de ter criado uma oportunidade de perigo Bernardo Silva aos 32 minutos, num lance com defesa de Pyatov, e Ronaldo a ter apenas o seu primeiro remate já mesmo em cima dos 45, por cima.

Na tentativa de mudar o rumo dos acontecimentos, Fernando Santos tirou Guedes, muito apagado da etapa incial, e colocou João Félix ao lado de Ronaldo, com Portugal a passar para um 4-4-2, com Bernardo Silva e João Mário nas alas. Mas mesmo assim Portugal continuou a demonstrar um futebol com poucas ideias. Ronaldo foi um dos poucos a rumar contra a maré e a tentar anular a diferença no marcador, mas Pyatov, com mais ou menos dificuldades, foi impedindo o avançado português de marcar.

Já com Bruno Fernandes e Bruma em campo, a equipas das quinas continuou a ter muitas dificuldades para conseguir criar ocasiões de golo, mas tudo podia ter mudado aos 72 minutos, quando Stepanenko viu o segundo amarelo, por mão na bola, e Cristiano Ronaldo marcou o golo 700 na carreira de futebolista.

Após o lance do penálti, Portugal ficou com mais uma unidade em campo e esperava-se que os lusos encostassem a Ucrânia às 'cordas', mas, mesmo assim, os campeões europeus entraram num festival de passes falhados e jogadas individuais, que acabaram por dar mais confiança à equipa da casa que em todo o jogo foi mais inteligente, mostrando uma excelente organização tática.

Com a aproximação do final do encontro, a Ucrânia foi escondendo a bola, enquanto os jogadores portugueses pareciam cada vez mais nervosos. Nos minutos finais, e já com Pepe em posição de ponta de lança, Portugal rendeu-se às bolas longas e foi nos descontos que poderia mesmo ter alcançado o justo golo do empate.

Primeiro, Pyatov voltou a parar Ronaldo e já nos descontos, em desespero, Danilo ainda rematou com estrondo à barra, mas a Seleção Nacional acabou por sair novamente derrotada de Kiev, e outra vez por 2-1, como tinha acontecido na sua primeira deslocação à capital ucraniana, em 1996.

A derrota afasta Portugal do primeiro lugar do grupo B, já conquistado pela Ucrânia, mas mantém a formação lusa bem perto do apuramento, com um triunfo no próximo jogo perante a Lituânia, em 14 de novembro, no Algarve, a 'carimbar' a passagem.

Momento do jogo: Golo 700 de Ronaldo

Foi um marco histórico para o capitão da Seleção Nacional. Com o tento apontado frente à Ucrânia, de grande penalidade, Cristiano Ronaldo alcançou, esta segunda-feira, o golo 700 da carreira. Ainda assim, o 95.º golo pela equipa das quinas foi insuficiente para a conquista dos três pontos em Kiev.

O internacional português conta com 450 golos pelo Real Madrid, 118 pelo Manchester United, 32 pela Juventus, cinco pelo Sporting e 95 pela Seleção portuguesa.

Melhores:

Pyatov: Foi uma autêntica muralha o guardião ucraniano. O também guarda-redes do Shakhtar Donetsk registou nove defesas, cinco a remates na sua grande área, e só foi batido por Cristiano Ronaldo de grande penalidade. Realizou um par de boas defesas nos minutos finais que impediram o golo do empate por parte de Portugal.

Cristiano Ronaldo: Para além de ter marcado o golo 700 neste encontro, Ronaldo realizou uma exibição de grande nível. Fez 10 remates durante o encontro (sete de fora da área) e teve uma grande eficácia no capítulo do passe. Merecia mais o nosso CR700.

Pepe: Boa exibição do defesa-central do FC Porto. Ganhou vários duelos aéreos e já no segundo tempo demonstrou que aos 35 anos continua em boa forma com um corte preciso sobre Konoplyanka quando este aparecia na cara de Rui Patrício.

Danilo: Grande partida do médio na Ucrânia que merecia ter sido coroada com aquele remate que embateu na barra já no último suspiro do encontro. Foi o segundo mais rematador do encontro.

Piores:

Erros defensivos lusos: Mais um golo sofrido num lance de bola parada, algo que tem sido recorrente nos últimos encontros da Seleção Nacional. No segundo golo toda a defesa ficou mal na fotografia, deixando-se completamente antecipar por Yarmolenko.

Bruno Fernandes: Entrou no segundo tempo para dar maior poder de fogo a Portugal, que sentia dificuldades na zona intermediária. No entanto, o capitão leonino fez uma exibição discreta e a única situação de registo foi um cabeceamento que passou a centímetros do poste da baliza ucraniana.

Gonçalo Guedes: Foi aposta inicial de Fernando Santos, mas não a justificou. Exibição muito apagada do avançado do Valencia, passando quase invisível no primeiro tempo. Ficou no balneário ao intervalo.

João Félix: Entrou para o lugar de Gonçalo Guedes ao intervalo, mas foi incapaz de resolver os problemas ofensivos que a Seleção Nacional evidenciou no primeiro tempo. Aos 51 minutos serviu de defesa da Ucrânia ao impedir um remate enquadrado com a baliza de Bernardo Silva e que até poderia ter dado em golo.

João Mário: Fez uma boa segunda parte frente ao Luxemburgo e hoje foi titular mas, à semelhança de Gonçalo Guedes, não demonstrou algo que justificasse ter sido escalado no onze inicial. Mostrou um grande desacerto no primeiro tempo que lhe poderia ter ficado no balneário ao intervalo. Ainda assim, Fernando Santos decidiu manter a sua aposta no médio do Lokomotiv Moscovo, que apenas saiu de campo aos 68 minutos substituído por Bruma.

Reações:

João Mário: "Não estamos habituados a perder"

Ronaldo: "Eu não busco recordes, os recordes é que me buscam"

Fernando Santos: "Houve demasiado coração para pouca cabeça"

Nélson Semedo: "Se jogarmos como na segunda parte, vamos alcançar o Europeu"

Danilo: "Ainda temos hipóteses de estar no Europeu e vamos lutar por isso"