Superar um cancro, regressar e marcar o golo da vitória pelo seu país numa das maiores competições mundiais. É de filme, não é? Mas aconteceu. Sébastien Haller foi o autor do golo da vitória da Costa do Marfim sobre a Nigéria, já nos últimos instantes da final da Taça das Nações Africanas, depois de ter estado afastado dos relvados a lutar contra um cancro. Chegou a ter a vida em risco, a ponderar o fim de carreira, mas Haller reinventou-se e a história tratou do resto.
O futebol, assim como a vida, é inesperado. Mas desta vez, verdade seja dita, fez jus à vida. E isso, reconheça-se, é e será sempre um dos maiores poderes do desporto rei.
Do sonho ao pesadelo em 12 dias
Depois de uma época de sonho ao serviço do Ajax - o Sporting lembrar-se-á e pelas piores razões - Haller seguia para a Alemanha para representar o Dortmund. Deixava a equipa neerlandesa ao fim 66 jogos com 47 golos apontados.
Estávamos em junho de 2022. Tudo parecia correr de feição quando, em menos duas semanas, as constantes queixas - sobretudo numa das sessões de treino já no clube germânico - levaram o avançado costa-marfinense a procurar um médico especializado: o pior cenário confirmava-se com um cancro nos testículos.
Depois de a 6 de julho ter chegado ao emblema alemão, que pagou 31 milhões de euros ao Ajax (acabou por chegar aos 35 milhões), Haller via-se obrigado a parar 12 dias depois da sua apresentação. A notícia caiu que nem uma bomba no mundo do futebol e desabava às costas do jogador de 29 anos, que acabara de atingir o ponto mais alto da carreira. Acabou por deixar o estágio de pré-época da sua nova equipa, na Suíça, sabendo que se seguiam meses duros, muito duros.
O risco era real: Deixar de jogar futebol era um dos cenários, mas ainda assim a perspetiva menos má perante o risco, também possível, de perder a vida. A 27 de julho foi operado e, a 25 de novembro foi submetido a uma segunda intervenção.
Seguiram-se cirurgias, quatro ciclos de sessões de quimioterapia, mas Haller nunca desistiu.
Passo a passo, o regresso. E num dia muito especial
Seis meses depois, em janeiro de 2023, ou seja, há pouco mais de um ano, voltou aos relvados. Nessa mesma altura, regressou também aos golos, o primeiro ao serviço do Dortmund.
Sabe em que dia marcou? No Dia Mundial do Cancro. Ainda acha que esta história não parece um filme? Nesse dia, foram estas as palavras do herói sem capa da Costa do Marfim.
"É um momento difícil de descrever, mas sobretudo este momento foi muito importante porque sabia que não era só sobre mim, era também sobre esta aventura, sobre este dia, sobre tudo. Foi um presente para muita gente." E terá sido, mas o maior presente seria entregue aos seus compatriotas mais de um ano depois.
Três meses depois de regressar aos relvados, em março, integrou a lista de convocados da Costa do Marfim para disputar dois encontros da fase de qualificação para a Taça das Nações Africanas, competição para a qual já tinha o apuramento garantido, por ser anfitriã.
Voltou e em grande, na prova que sempre disse ser um orgulho disputar, ao contrário de muitos colegas, imbuídos pelas pressões vindas da Europa por intermédio dos seus clubes. Ao longo da CAN provou ser decisivo. Haller foi o autor do golo do triunfo diante da República Democrática do Congo, na meia-final, ao marcar o golo da vitória aos 65 minutos. Mas o melhor ainda estava para vir.
Com a sola da bota e com a glória na palma da mão
O momento histórico: Haller fez o 2-1 para a Costa do Marfim com um golo à ponta de lança.
Foi desta forma que Haller reagiu, na zona de entrevistas rápidas, após a conquista da CAN.
Palavras para quê? Enorme, Haller.
Comentários