Poucos treinadores se podem gabar de ter uma percentagem de vitórias tão alta como Rui Duarte. O antigo médio do Belenenses e Olhanense terminou a carreira de jogador no Farense onde voltou mais tarde para mostrar qualidades como técnico, depois de um início a “apalpar terreno” no Lusitano Ginásio Clube Moncarapachense.
Rui Duarte vai bem lançado para o sucesso, liderando uma equipa que luta por voltar aos campeonatos profissionais. O objetivo, para já, é colocar o Farense na fase de subida à Segunda Liga.
E a Liga Europa ali tão perto
A excelente campanha do Farense na Taça de Portugal teve o seu término num final dramático nas Caldas da Rainha, onde perdeu por 3-2 após prolongamento. Pelo caminho, os ´leões` de Faro eliminaram o Estoril da I Liga e o Leixões da II, além do Praiense, Amora e Estrelas de Vendas Novas. Proezas mais que suficientes para colocar o Farense na agenda mediática da imprensa desportiva nacional. O principal responsável é Rui Duarte, técnico de 39 anos que, na sua primeira época ao serviço dos ´leões` de Faro, está a dar muito que falar. Rui Duarte só lamenta que a equipa não tenha conseguido gerir melhor o jogo com o Caldas, nos quartos-de-final da Taça de Portugal.
“Demonstramos um futebol positivo e a entrada no jogo fez-nos acreditar que iríamos ter um desfecho positivo. Mas na parte final do encontro tivemos algum descontrole emocional, cometemos alguns erros que não é muito normal, talvez pela ansiedade de estarmos tão perto de alcançar um objetivo, e se saber que iria ser bom para todos e para o clube. Isso pode ter condicionado, daí os erros defensivos. Apresentamos sempre um futebol positivo e mesmo em inferioridade, criamos as melhores oportunidades no jogo. Uma resposta que me deixa contente, mas desfecho não foi o que queríamos e ficamos tristes”, explicou o antigo jogador do Belenenses, em entrevista ao SAPO Desporto, em Faro, no Estádio São Luís.
"Nunca pensamos [na possibilidade de ir à Liga Europa] até porque vivemos as coisas de uma forma muito real, sem dar largas a grandes sonhos."
Caso tivesse afastado o Caldas, o Farense iria medir forças com o Desportivo das Aves nas meias-finais, numa eliminatória a duas mãos. Uma possível vitória colocaria os ´leões` de Faro na final, frente a Sporting ou FC Porto. Duas equipas que podem apurar-se para a Liga dos Campeões da próxima época, o que abriria uma vaga na Liga Europa para o finalista da Taça. Em Faro, ninguém quis traçar este cenário.
"Nunca pensamos nisso, mas sim em passar o Caldas... Claro que tínhamos em mente a meia-final. Nunca pensamos [na possibilidade de ir à Liga Europa] até porque vivemos as coisas de uma forma muito real, sem dar largas a grandes sonhos. Obviamente que somos ambiciosos, queríamos estar bem nas meias-finais. Iriamos sempre tentar passar, mas nunca pensamos muito além disso", revelou Rui Duarte.
Quatro golos sofridos em 16 jogos: o segredo é.… atacar
A liderança da Série E do Campeonato de Portugal (14 vitórias, um empate e uma derrota frente ao Casa Pia) alimenta ainda mais o sonho de subida aos campeonatos profissionais. As gentes de Faro sonham em ver o ´velhinho` São Luís à pinha, onde Benfica, FC Porto, Sporting e muitos outros clubes de nomeada já sofreram na ´pele` a fúria do Farense. Uma liderança alicerçada numa equipa que mistura juventude com veterania. Jogadores com muita experiência de Primeira Liga como Neca (Belenenses, Vitória de Guimarães, Vitória de Setúbal, Marítimo), Jorge Ribeiro (Benfica, Desportivo das Aves, V. Guimarães, Boavista, Dínamo Moscovo) ou Livramento (Rio Ave, Boavista, Paços Ferreira) ajudam a enquadrar os mais novos e a formar um grupo que dá garantias a Rui Duarte.
"Segredo é trabalho, competência, ter um grupo de jogadores fantástico, com muita qualidade, caráter enorme, são de facto um bom grupo. Tenho orgulho enorme em lidera-los. Dá-me prazer muito grande saber que estão com um compromisso enorme com os objetivos do clube. E também pela qualidade demonstrada, temos demonstrado a cada jogo que temos muita qualidade, sempre a procura do golo e do resultado. Não me surpreende termos conseguido o que conseguimos na Taça", justificou.
"Das 80 equipas do Campeonato de Portugal, somos o terceiro melhor ataque, o que demonstra o equilíbrio que há entre fazer golos e não sofrer."
No final da primeira volta do campeonato, o Farense vai-se destacando não só pela liderança da sua série, mas pelo facto de apenas ter sofrido quatro golos em 16 encontros. Desengane-se quem pensa que estes números são fruto de uma equipa defensiva.
"Das 80 equipas do Campeonato de Portugal, somos o terceiro melhor ataque, o que demonstra o equilíbrio que há entre fazer golos e não sofrer. Demonstramos um futebol atacante, positivo, que cria muitas oportunidades de golo. A competência dos jogadores tem sido fundamental para evitar que a equipa sofra muitos golos", explica o jovem técnico.
E como será na outra metade da época regular? Rui Duarte adverte que é preciso "demonstrar, competência empenho, caráter" em todos os jogos para chegar ao tão ambicionado play-off de subida. Depois, é jogo a jogo.
"Temos adversários fortes, quatro ou cinco equipas que podem alcançar o tão desejado play-off. Temos sido muito regulares, o que faz com a que a diferença pontual seja boa, mas não vamos descansar. Sabemos que não há jogos fáceis, sabemos que temos de trabalhar muito, o que nos espera, mas acima de tudo, sabemos o caminho que temos de percorrer, o trabalho que nos espera será árduo. Vamos tentar, em todos os jogos, demonstrar, competência empenho, caráter, porque estes sócios têm sido fantásticos connosco e merecem o empenho total", garantiu o técnico de 39 anos.
Rui Duarte sonha "acordar o gigante adormecido" para coloca-lo no lugar que merece
Durante várias épocas a região do Algarve esteve sem representantes na principal futebolística nacional, até a subida do Portimonense à I Liga, na época 2017/2018. Rui Duarte elogia a estrutura criada em Portimão, numa região onde é mais complicado colocar uma equipa na divisão maior do futebol português.
"Para já são menos equipas concentradas, a lutarem por esse objetivo. Temos o Portimonense, a fazer um excelente trabalho, com uma estrutura muito forte, a tentar consolidar a sua posição na Liga, espero sinceramente que o consiga", elogiou.
Nos próximos anos, o trabalho passa por criar condições para que o ´velhinho` São Luís encha de gente com gritos de primeiros presos nas gargantas. O caminho é longo e o clube está mais que avisado para evitar erros do passado. Depois de 2001/2002, ano em que é despromovido na Primeira Liga, uma grave crise financeira e desportiva fez o ´gigante` de Faro cair até 2ª Divisão Distrital do Algarve, em 2016/2007. O clube teve de começar do zero e a chegada à II Liga, em 2012/2013, fez a cidade sonhar com o seu clube entre os melhores de Portugal. Aguentaria apenas três temporadas, antes de cair novamente no terceiro escalão do futebol português.
"O Farense passou por um vazio, o clube está a tentar erguer-se, estamos a tentar acordar este gigante adormecido, pelo menos a nível de apoio e peso na cidade e região. Esperemos que a curto prazo esse peso seja sentido em todo o país, com o clube nos campeonatos profissionais. Estamos a trabalhar para que isto aconteça num curto espaço de tempo", explicou o antigo médio.
Fundado a 1 de abril de 1910, o Farense conta com 23 presenças na Primeira Divisão do futebol português, tendo alcançado a melhor posição na época 1994/95 (5º lugar), temporada em que se qualifica para a Taça UEFA. Pelo clube passaram grandes jogadores como os marroquinos Hassan Nader e Hajry, o nigeriano Peter Rufai, assim como Jorge, Jesus, Manuel Cajuda e Manuel José, todos eles grandes treinadores, mais tarde. Entre os técnicos, destaque para o espanhol Paco Fortes, o homem que levou o clube à sua melhor classificação de sempre. Esteve dez épocas no clube como treinador, depois de ter representado o emblema de Faro como jogador em cinco temporadas.
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