"Os jogadores têm toda a razão. Estou solidário com eles", disse o administrador nomeado pelo juízo de Comércio do Tribunal de Sintra em Outubro de 2009, na sequência do pedido de insolvência entregue pelo Estrela da Amadora.
O capitão da equipa do Estrela, Sérgio Marquês, declarou hoje à agência Lusa que os jogadores "continuam sem receber desde Dezembro de 2009" [o ultimo salário pago foi o de Novembro] e "os problemas de atletas e familiares têm vindo a agravar-se, tendo atingido um ponto inaceitável".
"Por isso, decidimos parar no próximo jogo frente à Camacha, no domingo. Temos marcada para quarta-feira uma reunião com o Sindicato dos Jogadores para tentar uma solução para este problema. Há famílias sem dinheiro para comer, outras correm o risco de ser despejadas de casa por falta de pagamento de rendas", afirmou.
Esclareceu que na reunião de quarta-feira com o sindicato vai ser também pedida a substituição do administrador de insolvência.
Sérgio Marquês esclareceu que neste momento a rouparia e a lavandaria não funcionam no clube e que os jogadores nem equipamento têm para treinar.
Disse ainda que o actual plantel, 13/14 jogadores de campo, mais três guarda-redes, está também sem qualquer apoio no posto médico, "uma vez que as máquinas para tratamento estão desligadas", enquanto "as máquinas de musculação foram retiradas da respectiva sala".
O jogador adiantou que a equipa acabou de desistir de participar na Liga Intercalar, já que o plantel está "cada vez mais reduzido".
O Estrela da Amadora ocupa o terceiro lugar da zona sul da II divisão, a três pontos do segundo posto.
O administrador de insolvência reconheceu a existência das dívidas (salários em atraso) aos jogadores, acrescentando que no clube "há outros funcionários que só receberam uma parte de Janeiro e continuam sem o ordenado de Fevereiro".
Sá Cardoso disse depois que o problema da falta de dinheiro para o pagamento de salários é ainda agravado pela atitude de algumas entidades, designadamente a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e Câmara Municipal da Amadora.
"A Liga tem em sua posse, desde Janeiro, um subsídio que foi atribuído pela UEFA ao Estrela da Amadora - cerca de 27 000 euros -, o qual nunca foi entregue ao clube. Desconheço as razões e solicitei à Liga que nos fizesse chegar a verba, mas nunca obtive uma resposta. Fui obrigado a pedir a intervenção do tribunal junto da Liga e estou a aguardar o desfecho", disse.
A Agência Lusa requereu à Liga um esclarecimento sobre este caso, aguardando uma resposta.
Relativamente à Câmara da Amadora, Sá Cardoso disse que a edilidade "suspendeu em Outubro de 2009, sem qualquer justificação, um subsídio mensal a rondar os 20 000 euros, destinado a apoiar as modalidades, disponibilizado através de um protocolo celebrado entre as duas entidades e que expirava em Outubro deste ano".
A Lusa pediu também esclarecimentos ao município da Amadora, aguardando agora uma resposta.
"Obviamente que tenho sentido uma grande falta de vontade de várias entidades para ajudar o clube a sair desta situação. Neste momento, estou céptico quanto ao futuro do Estrela", adiantou.
Para Sá Cardoso, "os credores já têm na sua posse um plano destinado a tentar salvar o clube", o qual será analisado e votado numa assembleia-geral de credores, que terá de ser convocada pelo tribunal.
"Se os credores aceitarem o plano, penso que o clube poderá salvar-se, mas, se o Estado (credor de 35 por cento das dívidas) não o aceitar, o clube encerra, o património será liquidado e o respectivo produto dividido pelos credores reclamantes", esclareceu.
Sá Cardoso declinou qualquer responsabilidade na situação do clube, dizendo que o mesmo deveria ter accionado o pedido de insolvência "há 10 ou 12 anos, em vez de ter passado esse período a acumular passivo".
"Acabei por ficar com o odioso da situação, porque não há dinheiro para pagar aos funcionários e jogadores e já tive de despedir 25 pessoas desde que assumi funções", concluiu.
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