A fase de instrução do processo em que o antigo presidente do Beira-Mar Mano Nunes é acusado de se ter apropriado indevidamente de cerca de um milhão de euros, começou hoje em Aveiro.

Mano Nunes está acusado dos crimes de peculato e burla qualificada, num caso relacionado com o contrato de aquisição de compra e venda do terreno das piscinas, entre a Câmara de Aveiro, detentora do imóvel, e o clube, devendo a fase de instrução decorrer na secção de instrução criminal da Comarca de Aveiro.

Segundo o Ministério Público (MP), o arguido agiu como se fosse "dono dos valores monetários existentes na conta bancária do clube", assegurando que outros credores do Beira-Mar não recebiam qualquer valor resultante do negócio.

Entre as testemunhas arroladas pelo antigo dirigente, que começaram hoje a ser ouvidas pelo juiz de instrução, está o atual presidente do Beira-Mar, que, segundo a acusação, também terá recebido 83.500 euros.

A defesa de Mano Nunes requereu a abertura de instrução, pedindo o arquivamento do processo, por entender que não existe qualquer tipo de ilícito criminal praticado pelo arguido.

No requerimento, a que a agência Lusa teve acesso, a advogada do antigo presidente do Beira-Mar assegura que o arguido apenas recebeu o dinheiro que tinha emprestado ao clube, não recebendo nada que não lhe pertencesse.

Diz ainda que, desde junho de 2008, quando Mano Nunes tomou posse como presidente da comissão administrativa do Beira-Mar, até 2009, foram feitos vários empréstimos e reembolsos ao arguido, sem que tenha havido acusação da prática do crime de peculato.

"Ficou acordado entre todos os elementos da comissão administrativa que o presidente emprestava ao clube os valores que pudesse e, logo que o clube tivesse disponibilidade financeira, lhe pagaria de forma prioritária, ainda que parcialmente, aqueles empréstimos", lê-se no documento.

Quanto à falta da assinatura de Mano Nunes no cheque do Beira-Mar emitido à ordem da Câmara, a advogada diz que o arguido desconhecia esse facto, atribuindo essa situação a "um lapso absolutamente lamentável" por parte do advogado do clube, na altura, que foi quem preencheu o documento.

Sublinha ainda que o arguido chegou a propor ao então presidente da Câmara de Aveiro, Élio Maia, que o cheque emitido pela empresa que adquiriu o terreno, a favor do Beira-Mar, no valor de 1,2 milhões de euros, fosse endossado diretamente à autarquia, não passando pelo clube, mas isso foi recusado pelo autarca.

No requerimento, a defesa de Mano Nunes reafirma que Élio Maia terá dito a um ex-dirigente do clube e amigo do autarca que o cheque emitido pelo Beira-Mar "não seria para pagamento imediato" e que só nessa altura pensou em adiar o pagamento do cheque, que acabou por ser revogado.

O negócio da venda das piscinas, concretizado em julho de 2009, suscitou acesa polémica no meio político aveirense, pelo facto de a autarquia ter vendido o terreno por 1,2 milhões de euros ao Beira-Mar, que o revendeu pelo dobro do preço, no mesmo dia, a uma empresa imobiliária. Até ao momento, o clube apenas liquidou 200 mil euros.