A treinadora da equipa feminina do Sporting disse hoje que gostaria que o caso do presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), na final do Mundial feminino, servisse para mudar a forma como as mulheres são vistas no futebol.

Mariana Cabral abordou o caso durante da final do Mundial2023, em que Luis Rubiales beijou a futebolista Jenni Hermoso, na conferência de imprensa de antevisão do jogo com o Famalicão para a meia-final da Supertaça Feminina, que se realiza domingo, pelas 15:00.

“É lamentável e foi extremamente inapropriado o que aconteceu. Uma pessoa com o cargo de presidente da Federação espanhola nunca poderia ter um gesto daqueles. Faz parte da sociedade em que vivemos e que é muito machista. O futebol precisa de mudar um bocadinho a perspetiva que tem sobre as mulheres na modalidade. Digo as mulheres porque muitas vezes dizemos as meninas quando são mulheres, são profissionais de futebol”, vincou.

A técnica do conjunto leonino, de 36 anos, considera que o que sucedeu à vista de todos a 20 de agosto, quando, no final do jogo que consagrou a seleção feminina espanhola campeã do mundo de futebol, em Sydney, é apenas um dos muitos casos em que as mulheres são vítimas em todo o mundo, incluindo Portugal.

“Se assim acontece, imaginemos as coisas que acontecem nos bastidores e que ninguém pode provar. Também em Portugal acontecem. Por um lado, é uma pena, mas acaba por ser um momento interessante por chamar a atenção por poder ter as jogadoras da seleção espanhola e todas as que se juntaram a dizer que isto não está certo e é preciso mudar”, referiu.

Mariana Cabral, que não tem dúvidas de que uma situação semelhante não aconteceria se se tratasse de uma final do Campeonato de Mundo masculina, deseja que o que sucedeu na Austrália seja algo que faça a sociedade evoluir.

“Nunca um jogador profissional de futebol seria beijado na boca no meio dos festejos de ganhar um mundial. Faz parte do crescimento do futebol feminino e a mulher no desporto também ajuda a que a sociedade cresça e que olhe para a mulher de uma forma mais igualitária”, disse.

Em relação à meia-final da Supertaça que o Sporting discute com o Famalicão, a treinadora da formação leonina garante que as suas jogadoras têm qualidade suficiente para apurar-se para a final da prova.

“Do Sporting podemos esperar muita vontade de jogar bem e tentar ganhar em todas as competições, seja contra que adversário for. Quanto ao Famalicão, vamos ver. Reforçaram-se bem, têm jogadoras de qualidade, internacionais portuguesas e estrangeiras e um treinador competente. Será um adversário difícil de bater, mas temos capacidade para ir a Famalicão e ganhar”, afiançou.

Com várias caras novas no plantel, Mariana Cabral considera que a pré-época permitiu entrosar a equipa de forma a entrar bem na nova temporada.

“A equipa está muito preparada. As jogadoras novas vieram trazer outro tipo de armas em vários setores. Estamos com muita vontade de sermos melhores. Os testes que fizemos foram ótimos na intensidade, qualidade de jogo e nos adversários que tivemos. Uma equipa como o Sporting tem de querer sempre mais”, sublinhou.

Questionada sobre as mudanças que os plantéis sofrem de ano para ano, a treinadora diz que se trata de um aspeto que deveria ser revisto no futebol nacional porque, muitas vezes, se deve à instabilidade que vários clubes têm por falta de investimento.

“As muitas mudanças nos vários clubes têm um bocadinho que ver com a falta de investimento que há no futebol feminino. É algo preocupante porque quando há muitas mudanças de um lado para outro é porque alguém deixa de investir. Há pouca estabilidade e o futebol feminino tem de crescer nesse aspeto”, alertou.

A meia-final da Supertaça Feminina entre Famalicão e o Sporting realiza-se domingo, pelas 15:00, no Complexo Desportivo do Famalicão, enquanto a outra meia-final que opõe o Benfica ao Sporting de Braga joga-se no Benfica Campus no sábado, pelas 15:00.