Jaime Pacheco pode tornar-se sexta-feira o sexto treinador português a sagrar-se campeão continental de clubes, e replicar, em África, pelo Zamalek, o que Manuel José logrou quatro vezes, pelo rival Al-Ahly, o outro finalista da ‘Champions’ africana 2019/20.
Numa final entre dois clubes do Cairo, o técnico luso, de 62 anos, procura juntar-se a Manuel José e também a Jorge Jesus, campeão sul-americano pelo Flamengo em 2019, e a Artur Jorge (FC Porto), José Mourinho (FC Porto e Inter Milão) e André-Villas Boas (Chelsea), que venceram a principal prova europeia.
Anunciado como novo treinador do Zamalek apenas em 23 de setembro – só se estreou em 01 de outubro -, depois de uma primeira passagem pelo clube em 2014/15, Jaime Pacheco tem pela frente o jogo mais importante da sua carreira internacional, que contempla passagens por mais três países.
Depois do maior feito da sua carreira, e um dos maiores da história do futebol português, ao tornar, em 2000/01, o Boavista a segunda equipa, 55 anos depois do Belenenses (1945/46), a roubar um título nacional aos ‘grandes’, Pacheco teve a sua primeira experiência ‘fora de portas’ nos espanhóis do Maiorca (2003/04).
O despedimento não tardou e voltou a Portugal, no qual treinou até 2008/09, despedindo-se ao comando do Belenenses. Desde então, esteve sempre no estrangeiro, nomeadamente no Al-Shabab (Arábia Saudita) e nos chineses do Beijing Guoan e do Tiankin Teda.
Agora, voltou ao Zamalek - num regresso que já tinha protagonizado no Vitória de Guimarães, Boavista e Al-Shabab ou, como jogador, no FC Porto, após transferência para o Sporting - e tem à sua mercê a possibilidade de fazer história.
Em termos de continente africano, Pacheco pode seguir as ‘pisadas’ de Manuel José, uma verdadeiro especialista na principal prova de clubes da Confederação Africana de Futebol (CAF), que venceu quatro vezes ao comando do Al-Ahly.
Manuel José de Jesus Silva, de 74 anos, colecionou um total de 20 títulos pelo conjunto da cidade do Cairo, onde é considerado um ‘Deus’, incluindo quatro vitórias na Liga dos Campeões africana, em 2001, 2005, 2006 e 2008.
Os sul-africanos do Mamelodi Sundowns (1-1 fora e 3-0 em casa), em 2001, os tunisinos do Étoile du Sahel (0-0 fora e 3-0 em casa), em 2005, e do CS Sfaxien (1-1 em casa e 1-0 fora), em 2006, e os camaroneses do Coton Sport (2-0 em casa e 2-2 fora), em 2008, foram as equipas derrotadas pelo Al-Ahly.
O técnico que em Portugal treinou, entre outras equipas, o Benfica, o Sporting e o Boavista, ao serviço do qual conquistou uma Taça de Portugal (1991/92) e uma Supertaça (1992), ainda disputou uma quinta final, que perdeu, em 2007, num segundo duelo com o Étoile du Sahel (0-0 fora e 1-3 em casa).
Com quatro títulos de campeão africano, Manuel José está num lugar ímpar entre os treinadores portugueses, que, fora da Europa, também já ganharam na América do Sul, por intermédio de Jorge Jesus, o ainda detentor da Taça Libertadores.
Em 2019, o atual técnico do Benfica, de 66 anos, venceu a principal prova de clubes da CONMEBOL ao comando do Flamengo, numa final com os argentinos do River Plate (2-1) decidida com dois golos do ex-benfiquista Gabriel Barbosa sobre o final.
Na final de Lima, em 23 de novembro, o conjunto de Buenos Aires adiantou-se aos 14 minutos, por Rafael Santos Borré, e liderou o encontro quase até final, mais precisamente até Gabigol aparecer com um ‘bis’, aos 89 e 90+2.
Trinta e oito anos depois, o ‘gigante’ brasileiro Flamengo voltou a vencer a Taça Libertadores, a 60.ª edição da prova, e Jesus, que tinha perdido duas finais da Liga Europa pelo Benfica, fez história, repetindo a proeza única de Manuel José.
Os restantes treinadores portugueses que conquistaram o principal título continental de clubes fizeram-no na Europa, onde o primeiro a vencer foi Artur Jorge Braga de Melo Teixeira, vulgo Artur Jorge ou ‘rei’ Artur, agora com 74 anos.
Depois do húngaro Béla Guttmann ter conduzido o Benfica a duas vitórias na Taça dos Campeões Europeus, em 1960/61 e 1961/62, foi um português a dar o primeiro cetro ao FC Porto, em 1986/87.
Em Viena, um golo de calcanhar do mágico argelino Rabah Madjer e um tento do suplente brasileiro Juary, depois de Ludwig Kögl ter dado vantagem ao Bayern Munique, permitiram aos ‘dragões’ bater os alemães por 2-1 e sagrarem-se campeões da Europa.
O segundo treinador luso a vencer a principal prova europeia de clubes também o conseguiu ao comando do FC Porto, de seu nome José Mário dos Santos Mourinho Félix, José Mourinho, já em plena ‘era Champions’, em 2003/04.
Um ano após ganhar a Taça UEFA, Mourinho deu o segundo título europeu aos ‘dragões’, com um triunfo categórico por 3-0 na final com o Mónaco, batido em Gelsenkirchen com tentos do brasileiro Carlos Alberto, do internacional luso Deco e do russo Alenichev.
Foi o primeiro de dois títulos europeus para ‘Mou’, que voltou a ganhar seis anos depois, em 2009/10, agora como treinador do Inter Milão, que, na final de Madrid, superou o Bayern Munique por 2-0, com um ‘bis’ do argentino Diego Milito.
O outro técnico luso que conta no palmarés com uma ‘Champions’ é André Villas-Boas, ex-adjunto de Mourinho, que, em 2011/12, começou a época no Chelsea, mas não a acabou, sendo despedido em 04 de março de 2012, a ‘meio’ dos oitavos de final.
O atual treinador do Marselha participou em sete dos 13 jogos da campanha dos londrinos, que chegariam ao seu único triunfo na Liga dos Campeões já sob o comando do italiano Roberto Di Matteo, após uma final com o Bayern Munique, conquistada nos penáltis.
Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas, agora com 43 anos, não tem em sua casa a respetiva medalha, como não teria se tivesse cumprido 12 dos 13 jogos e sido despedido na véspera da final, mas a realidade é que também é campeão da Europa.
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