Neste fim de semana jogou-se a jornada 14 do Campeonato Brasileiro, num domingo marcado pelas homenagens aos pais. É que tradicionalmente o segundo domingo do mês de agosto no Brasil é celebrado o dia do pai, diferentemente de quase todas as partes do mundo. Aliás, por cá, quase todas as datas são distintas do restante do planeta, excetuando-se o Natal e a Páscoa. O dia da mãe, do pai, da criança, dos namorados, dos mortos. Os brasileiros parecem ter gosto por serem diferentes, e o mesmo pode-se aplicar ao futebol jogado neste país de dimensões continentais.
Apenas para ficar-se com um exemplo prático das distâncias destas terras, o Estádio da Ressacada, em Florianópolis, onde jogaram Avaí e Cruzeiro, fica a exatamente, de acordo como Google maps, a 3.772 quilômetros da Arena Castelão, em Fortaleza, palco de Ceará x Chapecoense. A equipa de Chapecó, no interior do estado de Santa Catarina, na região sul do Brasil, é seguramente uma das que mais sofrem para chegar aos destinos do Brasileirão, uma liga que, com certa razão, se vangloria do aumentativo no nome.
E foi uma jornada em que o São Paulo impôs-se ao líder do campeonato, o Santos do excêntrico treinador argentino Jorge Sampaoli, numa noite de gala de Alexandre Pato, que fugazmente recordou o miúdo que parecia explodir em Milão, mas que nunca atingira o ápice esperado, ao marcar dois golos na vitória por 3-2, o segundo numa fulminante arrancada do meio do campo combinada com uma monumental trapalhada do central que lhe marcava. O Palmeiras, de Luiz Felipe Scolari, parece viver num inferno astral desde a eliminação dos quartos de final da Copa do Brasil.
Mesmo com muitos milhões de reais gastos em contratações e ordenados, a última delas o avançado Luiz Adriano, vindo do Spartak de Moscovo, a equipa verde parece demorar a tomar forma, mesmo com várias opções para todas as posições do campo. Neste domingo, quem destoou mais uma vez na formação de Scolari foi o avançado Dudu, autor dos dois golos no empate a duas bolas com o Bahia, resultado que deixou o Palmeiras a três pontos do Santos, diferença que poderia ser de um mísero ponto em caso de vitória palmeirense. Nota também para a expulsão, mais uma, de Felipe Melo, o trinco que mais parece um lutador do UFC nos relvados por onde passa.
E o Flamengo de Jesus? O Flamengo de Jesus é garantia de emoção, nervos, reclamações, júbilo, êxtase ou tristeza profunda. Jorge Jesus está há pouco mais de dois meses à frente da equipa carioca, e parece ter encontrado o clube perfeito para seu estilo mais efusivo. Sempre perto de um ataque de nervos à beira do relvado do Maracanã, com seus esvoaçantes e fartos cabelos grisalhos, o mister mais uma vez provou a montanha russa de emoções que os jogos no Brasil estão a causar-lhe. Frente ao Grêmio, o jogo até começou favorável aos comandados de JJ, com golo de Willian Arão, porém a equipa gaúcha igualaria o marcador ainda na primeira parte. Mesmo com o golo do desempate do médio uguruaio Arrascaeta no início da segunda etapa, nada parecia acalmar os adeptos rubro-negros e muito menos seu treinador, até que no minuto 92, golo do extremo Éverton Ribeiro e a massa presente no mítico estádio pode sair satisfeita com o resultado.
Após ser eliminado da Copa do Brasil no mesmo Maracanã abarrotado, e entre vitórias de derrotas no Brasileirão, a vida de Jesus no Flamengo seguirá menos agitada nos próximos dias, mas já na próxima semana regressa a Taça Libertadores, com o Flamengo a receber o Internacional de Porto Alegre pelos quartos de final, e não há outro pensamento entre os adeptos que não seja o título da América. Para o Flamengo de Jesus a cada jogo é vencer ou vencer. O treinador português está a conhecer de perto as peculiaridades deste imenso e por vezes insano país.
Yuri Bobeck é jornalista, com passagens por rádio UEL FM, jornal Lance!, TV Cultura e TV Globo. Escreve para o SAPO sobre o Brasileirão.
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