A defesa de Rui Pinto irá alegar em tribunal que o pirata informático lançou o Football Leaks depois de comentadores afetos ao Benfica terem revelado informações secretas idênticas às que divulgou na plataforma. Esta informação foi divulgada pelo 'Jornal Notícias' na sua edição desta quinta-feira.
De acordo com o referido jornal, Rui Pinto avançou para a plataforma de divulgação de informação confidencial depois de Pedro Guerra, comentador afeto ao Benfica, ter apresentado na TVI documentação classificada, como algumas propostas de contratos e acordos entre clubes, agentes e jogadores.
A defesa do informático explica que o blogue Football Leaks foi lançado a 29 de setembro de 2015 depois de Rui Pinto ter visto a divulgação de documentos confidenciais em programas televisivos e jornais nacionais e o impacto das mesmas. Divulgações essas feitas por comentadores afetos ao Benfica e que Rui Pinto garante ser alheio.
A divulgação de uma tentativa de acordo entre o Sporting e o Fulham para a contratação de Mitroglou é um dos casos que a defesa de Rui Pinto alega na contestação entregue ao Tribunal Central Criminal de Lisboa. Essa tentativa de contrato foi divulgada por Pedro Guerra, em setembro de 2015, na TVI24, um mês antes do aparecimento do Football Leaks. Também António Simões, na SIC Notícias, e João Gobern, na RTP2 revelaram pormenores de uma outra proposta do Sporting, agora para contratar o argentino Cervi e do envolvimento de um fundo africano no negócio, antes do surgimento da plataforma Football Leaks. Os dois jogadores - Mitroglou e Cervi - acabaram por assinar pelo Benfica.
O Football Leaks nasceu a 29 de setembro de 2015 e "pretendia, com transparência e verdade, divulgar documentação original e integral, sem omissões ou truncagens", escreve o 'JN, que teve acesso a contestação assinada por Francisco Teixeira da Mota e Luísa Teixeira da Mota, advogados de Rui Pinto
Rui Pinto, criador do Football Leaks, arrolou 45 testemunhas, entre personalidades do desporto, da política, além diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ) e de Edward Snowden, no julgamento que começa em setembro e no qual responde por 90 crimes. A defesa do arguido sustenta que, “além dos factos em causa e o número de testemunhas apresentado pela acusação” do Ministério Público, “entende revelar-se necessário para a descoberta da verdade” ouvir mais 45 testemunhas que constam do documento.
A antiga eurodeputada Ana Gomes, que sempre defendeu Rui Pinto, é a primeira da lista de testemunhas, que tem outros nomes ligados à política, como o ex-coordenador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã e o ex-ministro Miguel Poiares Maduro, ou personalidades do desporto, como o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho, o treinador do Benfica, Jorge Jesus, e Octávio Machado.
O diretor nacional da PJ, Luís Neves, e Edward Snowden, antigo administrador de sistemas da Agência de Segurança Nacional (CIA) dos Estados Unidos, que revelou, em 2013, informações confidenciais e programas ilegais de espionagem, são outras das testemunhas arroladas na contestação assinada pelos advogados Francisco e Luísa Teixeira da Mota.
A defesa de Rui Pinto arrolou também como testemunhas o jornalista e ativista cívico angolano Rafael Marques, o comentador desportivo Rui Santos, Paulo de Morais, ex-vice-presidente da Direção - Transparência e Integridade, Associação Cívica e antigo candidato presidencial, assim como várias pessoas de nacionalidade estrangeira.
Rui Pinto começa a ser julgado em 04 de setembro por 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen. Aníbal Pinto, advogado de Rui Pinto à data dos factos, será julgado pela tentativa de extorsão à Doyen.
O criador da plataforma Football Leaks e responsável pelo processo Luanda Leaks, em que a angolana Isabel dos Santos é a principal visada, está em liberdade, por decisão da juíza Margarida Alves, encontrando-se agora inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial, por questões de segurança.
No início de junho, o Tribunal da Relação de Lisboa negou provimento ao recurso do Ministério Público (MP) e manteve a decisão instrutória, proferida em 17 de janeiro, que pronunciou (levou a julgamento) Rui Pinto por 90 crimes e não pelos 147 que constavam da acusação do MP.
Em setembro de 2019, o MP acusou Rui Pinto de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, da Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol e da Procuradoria-Geral da República (PGR).
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