A reabilitação de roturas ligamentares do joelho nos futebolistas implica muitos milhares de euros, ao durar entre 10 e 12 meses, incluindo intervenção cirúrgica, aponta Henrique Jones, ortopedista especializado em medicina desportiva.
“Em termos de alta competição, é uma paragem importante. Estamos a falar em custos bastante importantes, pois há quem ganhe muitos milhares de euros por semana, apesar de as seguradoras cobrirem normalmente este tipo de lesões. Isto também é uma praga enorme para os atletas amadores. Cada vez operamos mais casos desses, nos quais há vários custos com problemas laborais e, muitas vezes, sem a proteção de seguros que deviam ter”, frisou à agência Lusa o ex-médico da seleção portuguesa, de 2000 a 2014.
Quase 80% dos praticantes de recreação conseguem retomar a prática desportiva depois da reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA), sendo que 65% resgatam os níveis de performance evidenciados antes da lesão e 55% voltam a atuar de forma competitiva.
“Como os atletas de elite profissionais têm um apoio de reabilitação muito mais intenso e patamares de recuperação delineados, 85% voltam ao nível competitivo que tinham. As estatísticas norte-americanas apontam [essa tendência] para 78% no futebol americano e 82% no basquetebol. No cômputo de todas as modalidades, cerca de 83% dos atletas de elite regressam à competição”, enquadrou Henrique Jones.
Apesar dos progressos na medicina, a rotura do LCA conduz ao fim de carreira “numa percentagem que não é de desprezar”, sobretudo em jogadores acima dos 30 anos, que jamais resgatam os padrões competitivos anteriores e enfrentam recidivas frequentes.
“Face às solicitações que o desporto tem, esta situação pode levar a uma nova rotura. Quando se faz uma ligamentoplastia, substituímos um ligamento que rasgou por um tendão e tentamos fazer o mais próximo possível da estrutura anterior para dar ao atleta a estabilidade [no joelho] que permita [encarar] os desafios da alta competição. Facilmente, compreendemos que não se consegue mimetizar as qualidades naturais do tendão do ligamento com outro tipo de tecido, embora se obtenham resultados muito bons”, referiu.
Henrique Jones alerta para o “aumento drástico de casos muito graves” em faixas etárias jovens, cuja vulnerabilidade a roturas do joelho e danos na cartilagem fica mais exposta com a intensificação dos treinos e da competição em patamares de iniciação ao futebol.
“Muitas vezes, temos de fazer alguma espera para os podermos operar, porque, por norma, são miúdos com oito ou nove anos e não há lesões associadas. Aguardamos um ou dois anos até terem um crescimento mais próximo da fase adolescente. Estas taxas vão aumentando cada vez mais e temos aqui outro problema: mesmo depois da operação, estes miúdos têm cerca de 32% de rasgar outra vez o ligamento intervencionado”, notou.
O trabalho diário de reeducação do joelho nunca deixa de ser moroso, mas a mentalidade do jogador em libertar-se do “medo do movimento” pode acelerar o regresso aos relvados.
“Há bastantes atletas que demoram muito mais tempo a recuperar e alguns não o fazem sequer, porque a lesão está sempre na sua mente. Ou seja, têm medo de que ela volte a acontecer e sintam aquilo que sentiram na altura. Quando conseguem ultrapassar essa cinesiofobia e ganham confiança, dá-se aquele clique e a evolução é muito mais rápida. Os fatores psicológicos são fundamentais para uma recuperação adequada”, reconheceu.
Apelando ao reforço dos programas de prevenção de lesões com crianças, adolescentes e atletas de elite, Henrique Jones concebeu um projeto internacional nessa lógica com o neerlandês Thomas Patt, presidente da Associação Europeia de Medicina Desportiva (ESMA), uma secção da Sociedade Europeia de Traumatologia Desportiva, Cirurgia do Joelho e Artroscopia (ESSKA).
“Há que fazer todos os dias exercícios que preparem os joelhos para a gestualidade inusitada dos treinos e da competição. Neste momento, o programa “ACL - Prevenção para todos” está a ser divulgado por toda a Europa. Através de duas personagens de banda desenhada, pretende ensinar de forma simples em clubes, associações e escolas os exercícios que têm de ser feitos para minimizar estas lesões e as suas implicações, sobretudo em idades mais jovens, mas também na fase posterior à adolescência”, finalizou.
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