No âmbito de uma sessão sobre o tema, decorrida no pavilhão multiusos de Guimarães, por iniciativa da cooperativa municipal Tempo Livre, a coordenadora dos projetos para a sexualidade na Associação para o Planeamento da Família disse que o "abuso sexual" é um "crime público" passível de denúncia ao Ministério Público ou à Polícia Judiciária, mas admitiu que a resolução do problema não tem "fórmulas", a não ser a maior abertura das vítimas para falarem.
"O essencial é começar a falar. Tudo em torno do abuso ou da violência pode passar a ser diferente se falarmos mais e melhor", afirmou a Rita Fonseca, doutorada em psicologia clínica pela Universidade de Évora.
A sessão acabou por se realizar após mais um caso de abuso sexual no desporto ter vindo à tona no final de janeiro, com a patinadora francesa Sarah Abitbol a acusar o seu treinador entre 1990 e 1992, Gilles Beyer, de a ter violado múltiplas vezes, situação que o agressor já confessou e que levou à demissão de Didier Gailhaguet da presidência da Federação Francesa de Desportos sobre o Gelo.
A psicóloga reconheceu que o desporto é um meio propício ao "toque" entre atletas e treinadores e que, mesmo existindo perfis de vítimas e de agressores sexuais, "ninguém tem isso escrito na testa", pelo que tais casos, para serem detetados, exigem uma especial atenção a comportamentos que "fujam ao normal", tendo em conta o padrão de cada pessoa.
Rita Fonseca, que é ainda supervisora nacional da assistência a vítimas de tráfico de seres humanos, realçou também que o abuso sexual, além da violência, também pode ser levado a cabo pela "lógica do segredo", em que o agressor aproveita a "relação de poder" para coagir psicologicamente a vítima.
A psicóloga realçou ainda que, no caso das crianças sexualmente abusadas, os sintomas coincidem com os de outras patologias que possam sofrer.
Entre o restante painel, sobressaiu a convicção, expressa pelo treinador de ginástica, Vítor Ribeiro, de que, no desporto com menores, é preciso educá-los para os "limites" no contacto entre treinador e atleta, fazendo-os saber o que é que decorre das necessidades técnicas da modalidade e o que não decorre, e também "criar uma relação aberta" entre clubes, treinadores, atletas e pais.
Já Filipe Ferreira, treinador de karaté, disse nunca ter presenciado situações de assédio no seu desporto, tal como a professora de educação física Sandra Traquino e a futebolista Ana Campos, do Vitória de Guimarães, e exprimiu a convicção de que esses casos ocorrem sobretudo em desporto de competição, quando o agressor aproveita uma relação de poder em que a vítima depende de si para a "satisfação de expectativas" quanto à carreira desportiva.
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