Na primeira parte do depoimento efetuado na 21.ª sessão, o empresário, ouvido na condição de testemunha, foi questionado sobre a estrutura do fundo de investimento alegadamente atacado por Rui Pinto em 2015, tendo esclarecido que detinha 20% do capital da Doyen, enquanto os restantes 80% pertenciam ao sócio turco Malik Ali, com ligações ao Cazaquistão e que assumia a entrada do dinheiro para os investimentos em jogadores.
O coletivo de juízes insistiu com Nélio Lucas para explicar a forma como a Doyen se organizava por diferentes empresas e de que maneira conseguia capitalizar-se, levantando a possibilidade de “falta de transparência” do fundo de investimento, com a juíza assistente Ana Paula Conceição a considerar “uma boa forma de circular dinheiro obtido de forma ilícita”.
O empresário, de 41 anos, declarou ter conhecido o sócio em Londres através de “amigos em comum” num “clube privado” e que o dinheiro tinha origem na família de Malik Ali, com ligações à mineração e setor imobiliário. “Foi-me apresentado como uma pessoa de uma família muito proeminente, com negócios em várias áreas e que poderia ter interesse no futebol”, afirmou.
E foi já depois de um momento de maior tensão na audiência, com a juíza assistente a interpelar a testemunha por achar que estava num “debate”, pedindo “respostas diretas e sem considerações colaterais”, que Nélio Lucas defendeu a licitude do dinheiro da Doyen, sublinhando ainda que “contratos com escritura pública” eram prática corrente do fundo.
“Os rendimentos do meu sócio [Malik Ali] vinham da família dele. A minha única preocupação era saber se esse dinheiro era lícito. Fizemos uma avaliação e o banco Barclays, em Inglaterra, garantiu que o dinheiro era limpo. Sabia que estas verbas vinham dos investimentos da família dele, mas não tinha de saber exatamente do quê. Para transferir determinadas verbas avultadas, os bancos faziam as suas próprias diligências”, frisou.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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