O inspetor da Polícia Judiciária (PJ) José Miguel Amador afirmou hoje, na quarta sessão do julgamento, que o encontro na estação de serviço se revelou “vital” para a identificação de Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks.
“Veio a revelar-se de uma importância vital a conversa naquele encontro. Terão sido feitas descrições sobre o suspeito, as suas características físicas. Foi essencialmente relevante, porque já tinha antecedentes em investigações anteriores”, realçou, explicando que “os inquéritos tinham estado na diretoria do Norte e diziam respeito à infraestrutura informática do Caledonian Bank”.
Em 2013, Rui Pinto foi o único suspeito de desviar cerca de 264 mil euros do Caledonian Bank, após aceder ao sistema informático da instituição bancária sediada nas Ilhas Caimão. O inquérito-crime foi arquivado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal do Porto, em outubro de 2014, na sequência de um acordo extrajudicial entre o jovem e o banco.
José Miguel Amador, investigador na unidade de cibercrime da PJ desde maio de 2010, referiu que Rui Pinto já era seu conhecido e havia “um ponto de ligação” nas “descrições concretas” e na “série de elementos objetivos nos autos”.
O inspetor admitiu ter estado presente fisicamente, mas de longe, no encontro na estação de serviço da autoestrada A5, em Oeiras, entre Nélio Lucas, representante legal da Doyen Sports, e Aníbal Pinto, então advogado de Rui Pinto, que serviu de intermediário, não tendo sido possível o registo de imagem e áudio, pois a magistrada do Ministério Público (MP) não autorizou.
A investigação, que durou cinco anos, iniciou-se com três denúncias, apresentadas pela Doyen, pelo Sporting e por Nélio Lucas, que continham “elementos em comum”, com o inspetor a explicar que a denúncia do representante legal da Doyen centrava-se em “comunicações de um email desconhecido”, oriundo de uma pessoa que se apresentava como o “responsável pela divulgação dos conteúdos” na plataforma Football Leaks e que se mostrou disponível “para chegar a um acordo, contra uma oferta generosa”, entre meio milhão e um milhão de euros.
José Miguel Amador referiu perante o coletivo de juízes, presidido por Margarida Alves, que o advogado Pedro Henriques surgiu como “um apoio próximo”, não tendo sido muito claro na explicação de como e por que razão este teve acesso ao ofício entre a PJ e a Yandex, operadora russa à qual era necessário chegar para descobrir a origem dos emails.
“O suspeito teria tido conhecimento do ofício entre a PJ e a Yandex. Mais tarde é que se veio a perceber que era a eletrónica do doutor Pedro Henriques”, frisou, acrescentando: “Terá sido partilhado com o doutor Pedro Henriques para agilizar a chegada à Rússia. Nós não propusemos, foi alguma solicitação, não tenho conhecimento direto. Não é hábito a PJ fazer isto.”
A inquirição ao inspetor José Miguel Amador prossegue na quinta sessão, a realizar-se na próxima terça-feira, a partir das 09:30, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
Antes de a testemunha falar, a advogada Inês Almeida Costa finalizou a sua inquirição, tendo corroborado, no geral, os inquéritos dos restantes assistentes no processo – Luís Pais Antunes, João Medeiros e Rui Costa Pereira -, confirmando ter sugerido apoio psicológico ao segundo.
O MP fez um requerimento para que seja visualizada, na sala de audiências, a caixa de correio da advogada, presente num computador da PJ, numa sessão futura. Os jornalistas não terão acesso, de forma a “salvaguardar os interesses e os segredos profissionais” da assistente.
Rui Pinto, de 31 anos, vai responder por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência e seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.
Aquele último crime diz respeito à Doyen e levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto, então representante de Rui Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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