O Rio Ave colocou, esta quinta-feira, o Portugal desportivo a torcer pelos comandados de Mário Silva frente ao AC Milan, no jogo de play-off de acesso à Liga Europa. Um jogo dramático, emotivo, decidido ao cabo de 24 grandes penalidades, depois de os italianos terem empatado aos 121 minutos, ou seja, para lá do derradeiro minuto do prolongamento, numa grande penalidade infantil cometida por Borevkobic.
No desempate a partir dos onze metros, a felicidade (e competência) voltou a bater na porta do AC Milan, já que o Rio Ave teve três oportunidades para eliminar o colosso italiano mas falhou sempre. No dramático desempate, os guarda-redes bateram e falharam, jogadores que tinham marcado antes falharam depois, houve bolas que bateram nos dois postes e não entraram, houve defesas de guarda-redes que acabaram por entrar à mesma. Enfim, impróprio para cardíacos.
Os 24 penaltis (ficou 9-8 para o Milan) é a mais longa 'maratona' de uma equipa portuguesa em provas da UEFA. Em Portugal, a nível oficial, o máximo foi fixado num Belenenses-FC Porto, nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, em janeiro de 2010. Foram precisos 30 pontapés para que os 'dragões' seguissem em frente (10-9), depois de um 2-2 no final dos 120 minutos.
As séries mais longas de penaltis da história do futebol
É difícil explicar a dificuldade em bater uma grande penalidade. Mesmo os maiores especialistas da atualidade, como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Jorginho (Chelsea), Bruno Fernandes (Manchester United), Sergio Ramos (Real Madrid) já falharam da marca de onze metros. Porque um penalti é um momento de stress, onde o controle emocional é importante.
A técnica também ajuda pelo que está longe de ser uma lotaria como se costuma dizer. É mais competência e menos sorte. Implica estudo por parte do guarda-redes em relação aos marcadores e vice-versa. Hoje em dia são escrutinados ao pormenor pelos técnicos de guarda-redes. Tudo vale para tentar ganhar vantagem sobre o adversário.
Apesar das maratonas do Rio Ave vs AC Milan e Belenenses vs FC Porto, estes dois casos estão longe de ser as mais longas maratonas de penaltis da história do futebol Mundial. Apresentamos os que são considerados os oito mais longos, de acordo com um levantamento feito pelo '90min.com'.
8.º FC Obernai Vs Asca Wittelsheim, 1996 (40 penaltis)
Este desempate é longo e, ao mesmo tempo, curioso. Em 1996 o FC Obernai recebeu o Asca Wittelsheim na 5.ª eliminatória da Taça de França. O jogo foi decidido nas grandes penalidades e, depois de 40 remates (15-15), o jogo teve de ser interrompido por falta de eletricidade. E o regulamento dizia que, nesses casos, seria apurado a equipa da divisão menor, neste caso, o Obernai. É considerada a mais longa série de penaltis numa prova oficial na Europa.
7.º Tunbridge Wells Vs Littlehampton Town, 2005 (40 penaltis)
O vencedor deste duelo da ronda preliminar a Taça de Inglaterra entre o Tunbridge Wells e o Littlehampton só ficou conhecido ao cabo de 40 grandes penalidades, com a equipa da casa a seguir em frente, ao vencer por 16-15.
6.º Sundsore IF Vs Nykobing Mors, 2015 (40 penaltis)
Estas duas equipas encontraram-se na quinta eliminatória da Taça da Dinamarca e foi preciso recorrer aos pontapés a partir da marca dos 11 metros para se encontrar o vencedor. Só que ninguém parecia disposto a perder. Ao cabo de 40 remates, o Sundsore saiu vitorioso ao não falhar qualquer penalti. Dos 40 batidos, só um jogador falhou. É obra.
5.º Juventud Alianza Vs General Paz Juniors, 2009 (42 penaltis)
Estávamos em 2009, na Taça da Argentina e nem o Juventud Alianza nem General Paz Juniors estavam dispostos a ceder, tal como aconteceu no Sundsore IF Vs Nykobing Mors. A vitória caiu para o General Paz Juniors que conseguiu a proeza de converter todos os seus 21 remates contra 20 do adversário. Incrível!
4.º Argentinos Juniors Vs Racing Club, 1988 (44 penaltis)
Esta maratona assinalou, na altura, um marco histórico já que pela primeira se superou a marca dos 40 remates num desempate a partir dos 11 metros. Foi numa altura em que a Federação Argentina de Futebol tinha decidido que não havia empates e que todos os jogos do campeonato que terminassem sem derrotados e vitoriosos no tempo regulamentar, tinham de ser decididos a partir dos 11 metros, onde o vencedor recebia um ponto extra.
Depois de 45 minutos e 44 penaltis batidos, o Argentinos Juniors ficou com o tal ponto extra ao vencer por 20-19.
3.º KK Palace Vs Civics, 2005 (48 penaltis)
Há cinco anos este era a mais longa maratona de penaltis da história do futebol. Na Taça da Namíbia, o KK Palace eliminou o Civics por 17-16, depois de uma série de 48 penaltis.
2.º SK Batov 1930 Vs FC Frystak, 2016 (52 penaltis)
Este é, oficialmente, a mais longa série de desempate a partir da marca das grandes penalidades. O vencedor deste SK Batov 1930 Vs FC Frystak, da 5.ª divisão do futebol da República Checa, apenas foi encontrado ao cabo de 52 remates. O SK Batov 1930 venceu por 21-20, numa altura em que o público já estava impaciente e só pedia que aquele 'martírio' tivesse fim.
1.º Yongin Taesung FC Vs Cheongju Daesung, 2019 (62 penaltis)
Esta longa maratona não é ainda reconhecida pela FIFA e só tem um ano. No verão de 2019, foram precisos 62 remates da marca dos 11 metros para encontrar o vencedor deste jogo dos quartos-de-final do Campeonato Nacional de Educação Secundária na Coreia do Sul, entre o Yongin Taesung FC e o Cheongju Daesung. O Yongin Taesung venceu por 29-28, ao cabo de quase uma hora, numa maratona onde apenas se falharam cinco remates.
De acordo com a publicação 'Mysemuanyabola', a Federação Coreana deverá pedir a FIFA que o retifique como a mais longa série de penaltis da história do futebol.
Um pouco de história
Esta forma de encontrar um vencedor de um jogo de futebol só foi introduzida na década de 60. Antes, tudo ficava ao critério das leis da física e da sorte, com a moeda ao ar. Era cruel mas era rápido. Ali, não havia qualquer intervenção técnica dos jogadores ou treinadores para resolver o jogo.
A paternidade do desempate por grandes penalidades é atribuída ao jornalista espanhol Rafael Ballester, que a sugeriu no Troféu Ramón de Carranza, em 1962, e ao árbitro alemão Karl Wald, que a oficializou em 1970. A federação alemã de futebol deu corpo à proposta de Karl Wald junta da UEFA e FIFA, que abraçaram a inovadora ideia, praticamente inalterada até hoje, e a adoptaram para as competições.
A primeira decisão oficial de um desempate pela marcação de grandes penalidades foi registada num jogo entre o Hull City e o Manchester United, em 1970, durante uma das meias-finais da Taça Watney. O primeiro jogador a marcar foi George Best e o primeiro a falhar foi Denis Law. O guarda-redes Ian McKechnie, do Hull City, ficou na história do futebol mundial como o primeiro a defender uma grande penalidade (de desempate).
A primeira grande competição decidida por grandes penalidades foi o Campeonato da Europa de 1976. A Checoslováquia venceu a Alemanha, por 5-3, com o penalidade decisiva a ser apontada em jeito por Panenka.
O primeiro desempate num Mundial aconteceu em 1982, em Espanha, com a Alemanha a vencer a França, por 5-4, no Estádio Ramón Sànchez Pizjuán, em Sevilha, nas meias-finais.
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