Os rumores já vinham de trás, mas a confirmação não deixou de cair como uma bomba no futebol internacional: 12 clubes europeus anunciaram no último domingo a sua intenção de criar uma nova competição europeia, chamada Superliga.
AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter de Milão, Liverpool, Manchester City, Real Madrid e Tottenham integram a lista de clubes fundadores.
"Vamos ajudar o futebol a melhorar a todos os níveis a ocupar o lugar que merece no Mundo. O futebol é o único desporto no Mundo com mais de 4 mil milhões de seguidores e a nossa responsabilidade como clubes grandes é responder aos desejos dos adeptos", atirou Florenino Pérez, presidente deste campeonato, coadjuvado por Andrea Agneli (Juventus) e Joel Glazer (Manchester United).
Vozes contra já se fazem ouvir há meses
Os primeiros rumores de uma nova competição europeia para os mais ricos surgiram em 2018 e desde aí o assunto não mais parou, principalmente no que às vozes contra diz respeito.
Há muito que as críticas à ideia dos 'tubarões' tem surgido na imprensa por todo o mundo. Ainda em 2018, Javier Tebas, presidente da Liga Espanhola, disse que o projeto deveria ter surgido “às cinco da manhã, num balcão de um bar, entre os clubes mais ricos”.
Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, no mesmo ano, afirmava que a criação da nova competição seria "pura ficção".
No ano seguinte, foi Gianni Infantino, presidente da FIFA, a afirmar que o organismo "não apoia nenhum projeto" de Superliga Europeia.
Avançamos para 2020 e para a saída de Bartomeu da presidência do Barcelona, quando é dado o primeiro sinal prático de que a nova competição poderá estar em andamento.
Depois de anunciar a demissão da presidência do Barcelona, Josep Maria Bartomeu confirmou que o clube blaugrana já tinha dado luz verde à participação na Superliga Europeia.
"Posso anunciar uma medida extraordinária: Ontem [segunda-feira], o Barcelona aceitou participar numa futura Superliga europeia de clubes. Vai ficar ao critério da próxima direção decidir se leva esta participação a votação na Assembleia-Geral", referiu Bartomeu.
A UEFA voltou a reagir, afirmando que os princípios de solidariedade, promoção, despromoção e Ligas abertas não são negociáveis e que são eles que fazem o futebol europeu funcionar e que tornam a Liga dos Campeões a "melhor competição desportiva do mundo", acrescentando que a nova competição se tornaria "inevitavelmente aborrecida".
Também Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, mostrou discordância com a competição: "A hipótese de uma espécie de Superliga europeia merece o meu total desacordo e repúdio".
Já este ano, em janeiro, a FIFA anunciou que não iria reconhecer a prova, avisando jogadores e clubes que quem nela participar ficará de fora de Mundiais, Europeus e Competições Europeias.
Também os adeptos já se tinham colocado contra a nova competição, apelidando-a de "Um esquema impopular, ilegítimo e perigoso", num comunicado emitido pela 'Football Supporters Europe, assinado pela Associação Portuguesa de Defesa do Adepto e pelas claques de Benfica, SC Braga, FC Porto, Sporting e Vitória de Guimarães.
“Apesar de [em Portugal] não termos tantas equipas nas competições europeias como Espanha ou Inglaterra, por exemplo, já aqui se nota uma assimetria brutal na competitividade. A criação de uma Superliga europeia, que irá superar a Liga dos Campeões, vai ter um efeito desastroso na Liga nacional”, sustentou a presidente da APDA, em declarações à Agência Lusa.
Diabos Vermelhos (Benfica), Bracara Legion e Red Boys Braga (Sporting de Braga), Colectivo Ultras 95 e Super Dragões (FC Porto), Brigada Ultras Sporting, Directivo Ultras XXI, Torcida Verde e Juventude Leonina (Sporting), Insane Guys e Grupo 1922 (Vitória de Guimarães) são os grupos oficiais de adeptos portugueses que figuram entre os signatários.
Durante o dia de ontem, a UEFA extremou posições, juntando-se com as principais ligas para inviabilizar a criação de um "projeto cínico".
O organismo regulador do futebol europeu assinalou que unirá esforços com as federações e ligas de três das maiores potências da modalidade para “travar este projeto cínico, que é fundado no egoísmo de alguns clubes, numa altura em que a sociedade precisa mais do que nunca de solidariedade”.
“Tomaremos todas as medidas necessárias, a nível judicial e desportivo, para impedir que isso aconteça. O futebol é alicerçado em competições abertas e no mérito desportivo. Não poderá ser de outra forma”, advertiu a UEFA, apelando a “todos os amantes do futebol, adeptos e políticos, para se juntarem na luta” contra a criação da Superliga europeia.
A UEFA deve anunciar na segunda-feira o novo formato das competições europeias a partir da época 2024, sendo esperado uma alteração no modelo da Liga dos Campeões e um aumento para 36 equipas.
Também o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, criticou a criação da Superliga europeia, considerando que “colocaria em causa todos os alicerces” da modalidade.
Boris Johnson, chefe do governo britânico, afirmou nas redes sociais que "os planos para uma Superliga europeia seriam muito prejudiciais para o futebol", pelo que apoia "as autoridades do futebol para que tomem medidas".
Para o governante, uma Superliga iria “apunhalar o coração do futebol nacional", defendendo que os clubes implicados "devem responder perante os adeptos antes de tomar qualquer medida".
O mesmo sentido seguiu Emmanuel Macron. Em comunicado, a presidência francesa garantiu que atuará por forma a proteger a integridade das competições das federações, tanto a nível interno como no plano europeu.
"O Presidente da República saúda a postura dos clubes franceses, que recusaram participar num projeto que ameaça o princípio da solidariedade e mérito desportivos", referiu.
O que se sabe sobre a competição?
"Os melhores clubes. Os melhores jogadores. Cada semana". Este é o slogan da Superliga Europeia, a nova prova de clubes criada na noite deste domingo por 12 clubes fundadores. A prova contará com 20 equipas e deverá arrancar em agosto, embora o comunicado da Superliga não especifica se será já este ano ou no próximo.
A competição será disputada pelos 12 clubes fundadores (AC Milan, Arsenal, Atlético de Madrid, Chelsea, FC Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham), e mais três por definir.
As 20 equipas serão divididas em dois grupos de dez, com jogos fora e em casa, num sistema de todos contra todos. Os três primeiros dos dois grupos passam para os quartos de final, as quatro equipas que terminarem no quarto e quinto lugar dos dois grupos irão jogar um play-off de dois jogos para se determinar quem se junta aos apurados da fase de grupos. Os quartos de final e meias-finais serão disputados a duas-mãos, a final a um só jogo em campo neutro, no final de maio.
Os 15 clubes convidados para a prova serão membros permanentes e nunca serão despromovidos, independentemente da performance desportiva. As descidas e subidas deverão aplicar-se nos restantes cinco clubes que irão qualificar-se anualmente, com base no desempenho da época anterior. No comunicado da Superliga não é explicado quais são os méritos e coeficientes para a admissão.
Os jogos serão realizados meio da semana. Todos os clubes envolvidos na Superliga vão continuar a competir nas suas respetivas ligas domésticas, "de forma a preservar o calendário tradicional que está no centro da vida do clube".
Em termos monetários, os clubes fundadores irão receber de uma só vez 3,5 mil milhões de euros destinados apenas a investimentos em infraestruturas e para compensar os impactos da crise da COVID-19.
O valor é superior aos 3,2 mil milhões de euros pagos aos clubes pela UEFA em todas as competições organizadas pelo organismo (Liga dos Campeões, Liga Europa e Supertaça Europeia) em direitos de transmissão na temporada 2018-2019, antes de a pandemia afetar seriamente o mercado europeu de direitos desportivos.
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