Reviravoltas épicas, resultados retumbantes, golos decisivos marcados no último minuto. O ano de 2019 foi rico em jogos fantásticos, daqueles que nos deixam colados ao ecrã (ou sempre de pé no estádio, tal é o entusiasmo).
Foi na Liga dos Campeões onde assistimos aos resultados mais inesperados em 2019, num ano marcado pela excelente campanha do Ajax, a 'morrer' em casa com um golo aos 96 minutos. Ou do Manchester City de Guardiola, eliminado por uma decisão do VAR. Nestes 12 jogos que marcaram o ano de 2019, temos a final da Liga das Nações, ganha por Portugal, o afastamento do FC Porto da Liga dos Campeões e a derrota amarga do Benfica na Alemanha.
Manchester City 2-1 Liverpool (03 de janeiro, Premier League)
Terá sido o jogo que mudou a face da Premier League em 2018/2019. O Liverpool chegou com sete pontos de vantagem sobre o Manchester City, ia bem lançado para, finalmente, vencer a prova (tal como neste momento, onde tem 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado e com menos um jogo) pelo que naquele dia 3 de janeiro, no primeiro jogo do ano, só tinha de não perder para manter o principal rival a sete pontos. O Manchester City ganhou vantagem por Aguero, a passe de Bernardo Silva aos 40 minutos, Firmino empatou aos 64 e aos 72 Sané fez o tento da vitória. O jogo ficou marcado por um lance onde Stones cortou uma bola em cima da linha de golo, que não entrou por uns míseros 11 milímetros.
Até ao final, o Liverpool haveria de perder mais pontos. Na 29.ª jornada empatou o dérbi de Merseyside a zero bolas com o Everton e permitiu ao City tomar a dianteira da Premier League, para nunca mais a largar.
FC Porto 0-2 Benfica (2 de março, Primeira Liga)
À 19.ª jornada, o FC Porto liderava a Primeira Liga, com cinco pontos de vantagem sobre o Benfica. Os 'dragões' tinham o calendário menos complicado, já que iriam receber em casa os rivais Benfica e Sporting na segunda volta, pelo que o título estava nas mãos dos comandados de Sérgio Conceição. Mas a equipa azul-e-branca perdeu quatro pontos em duas deslocações consecutivas ao Minho (0-0 com o Vitória de Guimarães e 1-1 com o Moreirense) e deixou o Benfica a apenas um ponto. É verdade que o FC Porto jogava em casa, num terreno onde tem sido muito forte perante o rival 'encarnado' mas este Benfica de Bruno Lage estava muito forte. O FC Porto arrancou bem, com um golo de Adrian López, pelo que só tinha de não perder o jogo para continuar na frente da Liga. Mas os golos de João Félix aos 26 e de Rafa Silva aos 52 colocaram os homens de Sérgio Conceição a correr contra o tempo e o resultado. E mesmo a jogar com mais um nos últimos 13 minutos, o FC Porto não conseguiu marcar. O Benfica passava para a frente até fazer a festa no final, numa segunda volta fantástica da equipa de Lage, que venceu todos os jogos fora de casa e apenas cedeu um empate em casa, nos 19 jogos que disputou.
Real Madrid 1-4 Ajax (5 de março, Liga dos Campeões)
A vitória por 2-1 dos merengues na Holanda tinham dado aos comandados de Santiago Solari uma vantagem importante, que teria de ser confirmado no Bernabéu. Mas o Real Madris sabia que teria de lutar e muito, perante uma das equipas que encantava na Europa do futebol. O Ajax não se atemorizou, foi igual a si próprio e arrancou para uma exibição memorável, num jogo onde brilhou Dusan Tadic, autor de um golo e duas assistências. Caía assim o reinado do Real Madrid na 'Champions', que durou mais de mil dias. Hakim Ziyech, David Neres, Dusan Tadic e Lass Schone deram cor e brilho a uma exibição galáctica para os comandos de Ten Haag.
Juventus 3-0 Atlético Madrid (12 de março, Liga dos Campeões)
Pedia-se uma 'Vecchia Signora' gigante na segunda-mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, depois de a equipa ter perdido no Wanda Metropolitano com o Atlético Madrid por 2-0. No Estádio da Juventus, em Turim, as estrelas tinham de dar um passo em frente e assumir a responsabilidade. Já em Madrid, onde foi muito assobiado, Ronaldo avisou: "Preparem-se para a reviravolta". O português provou que continuava a mesma 'máquina' de sempre no que a golo diz respeito e carregou os italianos a uma reviravolta fantástica, mais uma na Liga dos Campeões. Aos 27 minutos voou para o 1-0, empatou a eliminatória aos 49, outra vez no ar, onde é 'rei e senhor'. A reviravolta ficou completa aos 89 minutos, numa grande penalidade convertida pelo internacional português. Mais um jogo épico de um lendário jogador.
Manchester City 4-3 Tottenham (17 de abril, Liga dos Campeões)
A vitória magra (1-0) em casa dava ao Tottenham de Pochettino uma ligeira vantagem nos quartos-de-final da Liga dos Campeões mas os 'spurs' teriam de aguentar a avalanche atacante dos de Guardiola no Ethiad. Mas a equipa londrina, especialista nas transições rápidas, sabia que podia aproveitar um City a arriscar mais para ferir no contra-ataque. E foi isso que aconteceu, num jogo dramático, que teve o City a festejar nos descontos o apuramento, até o lance ser anulado pelo VAR. Mas antes, os adeptos que lotaram o Ethiad nem tiveram tempo de festejar os golos tal era a pressa de os marcar. Foram quatro nos primeiros onze minutos, com Son Heung-min a marcar aos sete e 10 minutos, com Sterling a marcar aos quatro e Bernardo Silva aos 11. Sterling (21) e Aguero (59) voltaram a marcar para o City, Llorente fez o golo que apurou o Tottenham aos 73, numa eliminatória onde valeram os golos marcados fora (4-4 no conjunto das duas mãos). O sonho de Guardiola de vencer uma Champions pelo City ficava pelo caminho.
Manchester City 1-0 Leicester (6 de maio, Premier League)
Já fora da luta pela Liga dos Campeões, o Manchester City teria de se concentrar na Premier League e manter a vantagem sobre o Liverpool, depois de recuperar sete pontos aos 'reds'. Com o aproximar do final, os jogos iam ficando mais difíceis, pelo que a equipa de Guardiola teria de ser muito pragmática até porque o Liverpool só estava a um ponto.
Na penúltima jornada, já depois de os homens de Klopp terem feito o seu serviço e vencido, o Manchester City começou a ver o título escorregar-lhe das mãos, na receção ao Leicester, uma equipa difícil, que cresceu muito com Brendan Rodgers. O jogo seria decidido pelo impensável Vincent Kompany, o eterno capitão dos 'citizens', no seu último jogo pela equipa de Manchester. O central belga pegou na bola, galgou alguns metros, antes de disparar um míssil a mais de 25 metros da baliza, fazendo um golaço, aos 70 minutos. A equipa podia finalmente respirar de alívio. A decisão do título continuava na suas mãos.
Liverpool 4-0 Barcelona (7 de maio, Liga dos Campeões
Em 2019 teremos assistido uma das melhores edições da Liga dos Campeões, com jogos fantásticos e resultados inesperados. Um deles aconteceu em Anfield Road, na segunda-mão das meias-finais. O Barcelona tinha vencido no Camp Nou por 3-0, num jogo onde ficou patente que, não fosse Messi (dois golos e uma assistência), e o resultado teria sido outro. Mas os catalães teriam de passar pelo inferno de Anfield para chegar à final. O Liverpool sabia que um golo cedo iria galvanizar a equipa e ajudar os jogadores a acreditarem no impossível. Origi tratou de reacender a fé com um golo aos sete minutos. Um início de segundo tempo demolidor, com dois golos em três minutos (54 e 56) pelo holandês Gini Wijnaldum, que entrou para render o lesionado Robertson, deixaram o Barça à deriva e os 'reds' a apenas um golo do milagre. Aconteceu aos 79, outra vez por Divok Origi, num lance onde valeu a esperteza de Alexander-Arnold a colocar rapidamente um canto na área onde o belga, sozinho, operou a reviravolta na eliminatória. Pelo segundo ano consecutivo o Barcelona caía de forma estrondosa na liga dos Campeões (depois da goleada sofrida ante a AS Roma por 3-0, depois de ter vencido 4-1 em casa).
Ajax 2-3 Tottenham (8 de maio, Liga dos Campeões)
A Europa do futebol suspirava por ver o Ajax na final da Liga dos Campeões. Uma equipa fora dos 'big five', com um futebol apaixonante, num plantel feito com jogadores formados na Academia do Ajax, uma das melhores do mundo, com a juventude e irreverência de Matthijs de Ligt, Frenkie de Jong, Donny van de Beek, e o brilhantismo de Dusan Tadic e Hakim Ziyech. Os miúdos de Ten Haag encantavam: tinham eliminado o Real Madrid de forma estrondosa, afastaram a poderosa Juventus nos quartos-de-final, pelo que o Tottenham não seria o pior dos obstáculos até ao sonho. Principalmente depois de ter vencido na primeira-mão em Londres por 1-0. Mas numa prova que já nos tinham proporcionado resultados inesperados e jogos fantásticos, o belo futebol do Ajax de 2018/2019 sofreria um duro golpe às mãos de um Tottenham que não entusiasmava mas que, em jogos a eliminar, tinha uma palavra a dizer. E aquela noite de quarta-feira, 8 de maio, estaria destinado ao brasileiro Lucas Moura, o homem que terá o Johan Cruyff Arena para sempre na memória. Fez os três golos dos ingleses, o último aos 96 minutos, num lance de contra-ataque no último minuto de jogo, depois de o Ajax já ter acertado nos ferros e ter tido algumas oportunidades para 'matar' o jogo. A grandeza épica do jogo é ainda maior se tivermos em conta que o Ajax esteve a vencer por 2-0 em casa, ou seja, 3-0 na eliminatória, após os golos de Matthijs de Ligt aos cinco e Hakim Ziyec aos 35. Lucas Moura, que tinha empatado com golos aos 55 e 59, ficou com a bola de jogo e com uma bela história para contar aos netos.
Portugal 1-0 Holanda (9 de junho, final da Liga das Nações)
Portugal ganhou o direito de organizar a 'final-four' da primeira edição da Liga das Nações. Uma oportunidade para alcançar o segundo título a nível de seleções seniores, depois do Euro2016 ganha a França em Paris. Para estes dois jogos da fase final da prova, a seleção campeã da Europa já podia contar com o seu capitão: Cristiano Ronaldo não participou na fase regular da prova mas estava pronto para ajudar Portugal na fase final. E em boa hora voltou o capitão já que, nas meias-finais, anotou um hat-trick na vitória por 3-1 frente a Suíça, no Estádio do Dragão. A final seria contra a Holanda, uma seleção rejuvenescida, com um futebol positivo, sem grandes estrelas mas com vários jogadores jovens de enorme qualidade. E novamente no Dragão, pedia-se um Portugal gigante. Num jogo muito tático, com poucas oportunidades, valeu o golo de Gonçalo Guedes aos 60 minutos, a passe de Bernardo Silva. Na meia hora que faltava, Portugal 'fechou as portas' para a sua baliza e defendeu o resultado com 'unhas e dentes'. A primeira edição da Liga das Nações ficava em casa. Portugal conquistava o seu segundo título internacional a nível de seleções A, três anos depois do Euro2016.
FC Porto 2-3 Krasnodar (13 agosto, 3.ª eliminatória da Liga dos Campeões
A vitória na Rússia deixava o FC Porto muito perto do seu objetivo: faltava confirmar a passagem em casa e confirmar o apuramento para a fase de grupos nos play-offs, onde seria cabeça-de-série, logo, com direito a um adversário mais acessível. Era um dos grandes obejetivos da época, já que, só a entrada na Liga dos Campeões, permitiria aos azuis-e-brancos encaixar 45 milhões de euros, no mínimo, verba crucial para as contas da temporada.
Mas este seria um dia de pesadelo. Os russos fizeram uma primeira parte quase sem erros, onde foram letais no contra-ataque, perante a apatia total do FC Porto. Logo aos três minutos, o holandês Tony Trindade de Vilhena empatou a eliminatória, deixando o Dragão nervoso. Aos 14, em mais um lance de contra-ataque, Suleymanov teve todo o tempo para fazer o 2-1 e deixar desesperado Conceição. E quando o mesmo Suleymanov fez o 3-0 aos 34 minutos, o Dragão sabia que seria preciso um milagre para sair do pesadelo em que se meteu. Zé Luís aos 57 minutos e Luis Diaz aos 77 ainda reduziram, pelo que bastava marcar mais um para apurar o FC Porto. Nos 13 minutos restantes, a plateia do Dragão desesperou mas saiu de mãos a abanar, numa das derrotas caseiras mais difíceis de digerir para o adepto azul-e-branco. O FC Porto estava fora da Liga dos Campeões.
Flamengo 2-1 River Plate (23 de novembro, final da Taça Libertadores)
Depois de ter perdido duas finais da Liga Europa (uma dos descontos e outra nas grandes penalidades) e ter visto um campeonato de Portugal 'voar' no terreno do eterno rival aos 92, a sorte teria de sorrir a Jorge Jesus um dia. A final da Taça Libertadores seria a 'cereja no topo do bolo' do grande trabalho do português no Flamengo, uma equipa que sonhava vencer a prova maior da América do Sul, 38 anos depois. O golo e uma primeira parte onde só deu River Plate fizeram os adeptos duvidarem mas o Flamengo foi crescendo, acreditando, com o River Plate a não aguentar a pressão que exercia desde o início do encontro. Jesus foi buscar Diego ao banco, o ex-FC Porto deu mais criatividade ao ataque, no assalto final ao golo que podia levar o jog a prolongamento. Aos 88 minutos, uma das poucas boas jogadas do 'Mengão' terminaram com um centro ao segundo poste onde Gabriel Barbosa apareceu a esticar a perna e a empatar, para loucura dos adeptos brasileiros no Monumental de Lima mas também no Brasil e espalhados um pouco por todo o mundo. E quando o próprio Gabriel Barbosa operou a reviravolta nos descontos, Jesus via finalmente o tão desejado título internacional entrar-lhe no currículo. No dia seguinte confirmaria a conquista do Brasileirão em plena viagem de regresso ao Rio de Janeiro. Demasiada emoção para tão pouco tempo.
Leipzig 2-2 Benfica (27 novembro, Liga dos Campeões)
Ao Benfica restava vencer os últimos dois jogos para conseguir o apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões 2019/2020. A equipa de Bruno Lage chegou ao Red Bull Arena com quatro pontos mas sabia como ferir o adversário, com quem tinha perdido por 2-1 na Luz. Pizzi deu vantagem aos campeões nacionais aos 20 minutos, Carlos Vinícius fez o 2-0 aos 59 e deixou o Benfica mais perto da primeira vitória de sempre na Alemanha em jogos da Liga dos Campeões. Mas uma ponta final demolidora dos alemães negou os três pontos aos 'encarnados'. Aos 90 minutos, um empurrão de Ruben Dias na área deixou Emil Forsberg na marca dos 11 metros: o sueco não desperdiçou e reduziu. Faltavam seis minutos, os de desconto dados pelo árbitro espanhol Gil Manzano para que o Benfica aguentasse os três pontos. Mas no derradeiro minuto, Fosberg voltou a marcar e empatar a partida, 'matando' assim as aspirações do Benfica em continuar na prova. Restava vencer o Zenit em casa na derradeira ronda por três golos ou mais e esperar por um empate entre Lyon e Leipzig para ficar no 3.º posto e ser relegado para a Liga Europa. E foi o que aconteceu.
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