A saída do Reino Unido da União Europeia (UE), formalizada na sexta-feira após cerca de três anos de negociações, "não vai mudar" o mundo do futebol, defende o jornalista e escritor Simon Kuper, colunista do Financial Times.
Em entrevista à agência Lusa, o autor de obras de referência no mundo do futebol, como ‘Soccernomics’ ou ‘Football Against the Enemy’, considera que a ‘Premier League’ inglesa irá manter o seu modelo de importação dos melhores jogadores europeus para os principais clubes, adaptando o atual regulamento já existente para futebolistas extracomunitários e, assim, atenuando o impacto que o país poderá sofrer noutras áreas.
"Penso que o Brexit vai ter um impacto muito negativo no Reino Unido, mas quase nenhum impacto na ‘Premier League’. O próprio modelo da ‘Premier League’ passa pela importação de bons talentos. E já existe um sistema para futebolistas brasileiros ou argentinos, aos quais é dado um visto de trabalho e eles recebem-nos sempre, porque são grandes jogadores, aportam valor e atraem audiências televisivas por todo o mundo", explica.
O internacional português Bruno Fernandes foi a última grande transferência de um jogador luso para o futebol inglês, ainda dentro do prazo de permanência do Reino Unido na UE, ao trocar o Sporting pelo Manchester United, por 55 milhões de euros (ME), mais 25 ME em objetivos variáveis.
A partir daqui, Simon Kuper reitera que não haverá impedimentos, com uma facilitação na atribuição de vistos.
"Da próxima vez que um jogador português se mudar para Inglaterra, terá de receber um visto e num dia vai tê-lo, porque o clube vai tratar disso. Penso que o Brexit não vai mudar nada no futebol", sintetiza.
Questionado sobre um aparente paradoxo entre a liga mais rica e multinacional do futebol europeu ficar num país que decidiu, por via de um referendo em junho de 2016, deixar o bloco comunitário, o autor holandês prefere apontar uma aparente contradição entre a vontade britânica e o Euro2020.
"Há mais de 50 países na UEFA e só cerca de metade estão na UE. Penso que é um paradoxo o Estádio de Wembley acolher as meias-finais e a final do Euro2020 de futebol, logo a seguir ao Reino Unido deixar a União Europeia. Isso retrata bem a complexidade das relações europeias", nota.
O Reino Unido tornou-se na sexta-feira, às 23:00, o primeiro país a abandonar a União Europeia, 47 anos depois da sua adesão.
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