Na ressaca dos festejos do tetra, o Benfica fechou a Liga com um empate a duas bolas e uma exibição pouco convincente. Mais uma vez foi um central a salvar a equipa da derrota, tal como tinha acontecido no Dragão e em Alvalade. Rui Vitória prometeu e cumpriu: houve mais quatro campeões, elevando para 32 os jogadores que participaram no título. Boavista voltou a desperdiçar oportunidade de vencer o Benfica já que esteve a vencer por 2-0. Na primeira volta na Luz esteve a vencer por 3-0, mas acabou empatado.

O jogo: Kalaica roubou o protagonismo a Iuri Medeiros

Rui Vitória prometeu, Rui Vitória cumpriu. Tal como disse na antevisão do encontro, o jogo no Bessa serviria para dar a oportunidade a mais jogadores de se sagrarem campeões (Paulo Lopes, Hermes, Kalaica e Pedro Pereira ainda não tinham somado qualquer minuto na Liga) e ainda dar mais minutos a jogadores que tem sido menos utilizados. Os atores principais ficaram no banco ou a descansar após a longa festa do tetra, até porque no próximo domingo há a final da Taça de Portugal com o Boavista.

Antes de o jogo começar o Boavista fez a guarda dos campeões, formando um cordão enorme por onde passaram os jogadores do Benfica. Um momento lindo, de fair-play, à semelhança do que acontece noutras paradas, como em Inglaterra, por exemplo.

Com tantas mudanças no onze, não foi de estranhar que o Benfica sentisse tantas dificuldades perante a primeira equipa do Boavista, a jogar em casa e que queria despedir-se com uma vitória. A falta de entrosamento entre os sectores, mas também a falta de ritmo de alguns jogadores do Benfica foi notória, principalmente na primeira parte.

Sob a batuta do maestro Iuri Medeiros, os axadrezados criaram os principais lances de perigo da primeira parte e foram para o intervalo a vencer por 1-0, golo de Renato Santos a passe de Fábio Espinho, após grande jogada do médio emprestado pelo Sporting, aos 16 minutos.

Rui Vitória queria dar oportunidades a todos, mas também queria ganhar. Lançou primeiro Rafa e Jimenez depois, para passar par ao 4-4-2 (entrou e 4-2-3-1) e tentar dar a volta ao texto. Antes de Rafa lançar Mitroglou para o 2-1 aos 71 minutos, após grande arrancada pelo meio, o baixinho extremo já tinha ´borrado` a pintura ao perder a bola que resultou no 2-0 para o Boavista aos 56. O passe é de Iuri Medeiros (quem mais!) e a conclusão é de Schembri. Por esta altura ainda Júlio César estava na baliza e Paulo Lopes preparava-se para também ser coroado campeão com alguns minutos.

Com o Benfica a querer evitar a derrota e o Boavista empenhado em bater o pé a um dos grandes, o jogo partiu-se. Fábio Espinho viu Paulo Lopes agigantar-se e evitar o 3-1, Rafa ficou a centímetros do 2-2 num remate de trivela. Não marcou Rafa, marcou Kalaica, aos 90, a salvar o Benfica da derrota. O golpe do jovem central de 18 ano ainda bateu na barra e saltou para fora, mas a bola já tinha ultrapassado a linha de golo. Prémio merecido para o miúdo que fez um bom jogo.

O Benfica despede-se assim da Liga com um empate e vai preparar agora a final da Taça de Portugal com o Vitória de Guimarães. Já o Boavista junta-se ao FC Porto e Vitória de Setúbal no grupo de equipas que não se vergaram perante o campeão.

Momento-chave: mais um central a salvar o Benfica

Corria o minuto 90, já com o Benfica à procura desesperadamente do empate e o Boavista a tentar segurar a vitória quando a conexão sérvia fez estragos no Bessa: canto de Zivkovic, entrada de cabeça de Kalaica a salvar o Benfica da derrota. Estreia de sonho do central de 18 anos, que se juntou a lista de centrais que evitaram a derrota do Benfica esta época na I Liga: Lisandro Lopez no Dragão, Lindelof em Alvalade.

Os melhores: Iuri Medeiros brilhou, Rafa mexeu com o Benfica

Iuri Medeiros: o melhor em campo. Assistiu Schembri para o 2-0, foi dele o passe para Fábio Espinho oferecer o 1-0 a Renato Santos. O criativo do Boavista foi um perigo a solta no Bessa. Na próxima época é bom que Jesus saiba potencia-lo no Sporting porque é um jogador acima da média.

Rafa: teve o erro que deu no 2-0 ao Boavista, mas a sua entrada mexeu com o jogo do Benfica. Viu Anderson Carvalho negar-lhe o golo no início do segundo tempo. É dos seus pés o passe para Mitroglou reduzir. E ficou perto do golo num remate de trivela que daria um golaço.

Os piores: Hermes foi erro de casting, Felipe Augusto andou ´preso`

Hermes estreou-se a titular, jogando na ala esquerda, mas passou mais tempo a ajudar Eliseu do que a atacar. Não fez um único centro, não acrescentou nada ao jogo ofensivo do Benfica. Tem muito que aprender ainda, mas talvez pudesse mostrar mais a jogar na sua posição de origem.

Felipe Augusto: tinha a missão de fazer dupla com Samaris mas andou perdido na primeira parte. Raramente se soltou para fazer jogo junto dos extremos ou aproximar-se perto da área para tentar soluções com André Horta e Mitroglou. Foi um dos sacrificados de Rui Vitória.

Reações:

Rui Vitória: "Na 2.ª parte apareceu o orgulho de ser campeão"

Rui Vitória: “Paulo Lopes entrou para a baliza, mas atacámos mais”

Pedro Pereira: “Queríamos ganhar, mas fizemos a festa com os adeptos”

Renato Santos: “Fizemos um grande jogo, mas houve estrelinha de campeão”

Miguel Leal: "Boavista ainda passa dificuldades. Não podemos colocar a carroça à frente dos bois"

Curiosidades:

Kalaica é o jogador mais jovem do Benfica a marcar na estreia pelo clube no século XXI, com 18 anos, 11 meses e 19 dias.

Esta temporada, das 10 vezes que o Benfica sofreu primeiro no jogo, nunca conseguiu fazer uma reviravolta.

Desde 2010/11 que o Benfica não estava tantos jogos (14) sem conseguir fazer uma reviravolta numa só época (2016/17 11 jogos).

Aliás, a última vez um Benfica campeão esteve tantos jogos sem conseguir fazer reviravolta, aconteceu em 2004/05 com Trapattoni (16 jogos).

Em 2016/17 são 11 jogos.

André Schembri (Boavista) passa a ser o maltês com mais golos na Liga Portuguesa (3), mais um que Nwoko (Leixões).

Renato Santos estreia-se a marcar frente a um dos ´três grandes`. O médio precisou de 15 jogos, o 5.º frente ao Benfica.