O Belenenses venceu hoje o primeiro jogo no último escalão dos distritais de futebol de Lisboa, ao golear o Olivais e Moscavide por 4-0, numa tarde marcada pela festa que se fez nas bancadas do Restelo.
Quando subiram ao relvado, os jogadores 'azuis' foram recebidos por uma calorosa onda de aplausos dos cerca de 2.000 adeptos presentes em Belém e depressa se soltaram os fumos e os cânticos de apoio a uma equipa que, segundo o seu diretor desportivo, o ex-jogador Taira, tem como missão "construir um castelo depois da descida ao Inferno".
"Hoje é o início de uma caminhada de trabalho, seriedade e esperança de conquista", disse o dirigente, que ainda assim assume que este lhe continua a parecer um cenário "irreal", que coloca o histórico Belenenses a competir no escalão mais baixo do futebol nacional.
Apesar de também incrédula com tudo o que se passado no seu Belenenses, Fernanda Nunes, aos 70 anos, não faltou à chamada e marcou presença na bancada central do Restelo."É triste ver o Belenenses tão baixo, mas vamos lutar para regressar ao primeiro escalão", garante, sublinhando com veemência que "o verdadeiro Belenenses joga no Restelo!".A festa sobe de tom com o primeiro golo do jogo. Com domínio absoluto desde o apito inicial, o Belenenses chegou à vantagem ao minuto 32, por Ricardo Viegas. Numa obra do destino, o primeiro golo do Belenenses neste "renascimento" fica no currículo do único jogador desta formação que chegou a profissional no clube antes da cisão com a SAD. Um tema que ocupa a mente de todos nas bancadas, com alguns cânticos "espinhosos" dedicados a Rui Pedro Soares, mas que não tira o ânimo a quem veio para o primeiro passo do Belenenses "numa nova vida", como diz Pedro Emídio, adepto dos 'azuis'.
"Hoje estamos aqui para assistir ao renascer do Belenenses e acredito que vamos voltar ao convívio com os 'grandes'. Tenho muito orgulho nesta equipa e o que interessa é que aqui é que estão os verdadeiros adeptos deste clube", afirma o jovem adepto, que certamente não se lembra das memórias que alimentam o discurso de Luís Gomes.
"Estive na inauguração deste estádio e sou do tempo em que isto enchia. Há muitos anos que isso não acontecia e hoje está como está... pode ser que seja o regresso do verdadeiro Belenenses", atira o sexagenário, confiante na "rapaziada" que agora defende a Cruz de Cristo.
"Vamos ser a única equipa a ser campeã em todos os escalões do futebol nacional. Nunca ninguém conseguiu, vamos ser os primeiros."
Depois de Ricardo Veiga ter feito "o gosto ao pé" por mais duas vezes, completando um 'hat-trick', e Evandro ter feito o 3-0 pelo meio, Nuno Leal era um treinador satisfeito e destacou uma "exibição dominadora" e um "orgulho único" em viver este momento.
"O resultado de hoje não deixa dúvidas. Mais do que este jogo, é fantástico trabalhar no Belenenses", afirmou, agradecendo o apoio de todos os adeptos e sócios, que no final da partida foram brindados pelos jogadores com um cumprimento especial, sob o olhar do presidente.
"Estou sensibilizado pelo que se passou aqui hoje. Os tribunais podem decidir o que decidirem, mas o verdadeiro veredicto foi aqui hoje, no Restelo. Não há dúvida de quem é o Belenenses e de quem os sócios querem que seja este clube. Assistimos aqui hoje a uma demonstração de paixão destes adeptos, como há anos não víamos", salientou Patrick Morais de Carvalho, que aposta em chegar de novo ao topo do futebol português com um trabalho de "honra, dignidade e trabalho", mas não esquece o diferendo que opõe o clube à SAD.
"Os tribunais decidirão essa questão, mas até lá a Liga e a Federação não podem continuar a fazer ouvidos moucos a este assunto. O Belenenses é um clube centenário e vão ter de dizer alguma coisa", concluiu.
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