Contratar um futebolista não implica apenas acertar com ele o salário e os anos de contrato. É um compromisso que o jogador assume perante os valores do clube, que deverá respeitar até ao último dia.
Mas as contratações continuam a ser como melões: nunca se sabe se o jogador vai render na nova equipa aquilo que se espera dele. Depois há atletas com um passado obscuro, que faz duvidar o novo clube das suas capacidades.
É aqui que entram as cláusulas, que garantem ao clube o cumprimento do contrato de acordo com aquilo que espera do jogador. Para o atleta, é uma garantia de que o clube irá cumprir com o que foi estipulado.
Mas há cláusulas e cláusulas. E estas que se seguem são umas das mais absurdos e ridículos da história das transferências.
Morder não
Quando o Barcelona contratou Luis Suárez em 2014 ao Liverpool, o craque uruguaio tinha atingido uma fama nada abonatória para o seu currículo: mordedor. Suárez tinha protagonizado um dos momentos mais insólitos do Mundial2014, quando resolveu morder o defesa italiano Chiellini durante um Itália-Uruguai. Os responsáveis culés não quiseram correr riscos de danos na sua imagem e introduziram um cláusula que dizia o Barcelona teria de ser indemnizado se o atacante voltasse a morder alguém em campo. Funcionou, já que não há registos de mordidas de Suárez em campo (pelo menos em pleno jogo).
Podes ir a todo o lado menos à Lua
Os benfiquistas com 40 ou mais anos (os mais novos devem ter visto vídeos) lembrar-se-ão de Stefan Schwarz, sueco que fez sucesso no emblema da Luz, a jogar na lateral esquerda. Ora em 1999, Schwarz trocou o Valência pelo pelo Sunderland e os ingleses deram conta que um amigo do sueco tinha um bilhete para realizar um voo espacial em 2002. O clube não quis correr riscos e colocou-lhe uma cláusula anti-viagens espaciais no contrato, não fosse o amigo lembrar-se de Stefan Schwarz.
Vermelho aqui não
Em 2005 o Bétis contratou o médio holandês Rafael Van der Vaart, que gostava de jogar com botas vermelhas. Mas vermelho e Bétis...não combinam. O rival da cidade - o Sevilha - equipa-se de encarnado e essa cor não é admitida no Benito Villamarín. Para ter a certeza que Van der Vaart percebia isso, o Bétis proibiu-lhe de usar botas vermelhas. E fê-lo escrito, no contrato, para que não houvesse dúvidas.
Os impossíveis com Balotelli
Quando o AC Milan contratou Mario Balotelli em 2012/2013, sabia exatamente o que estava a receber. Super Mário nunca se escondeu e nunca deixou por dizer o que lhe ia na alma… ou fazer o que lhe dava na real gana. Para se proteger dos excessos do avançado, o emblema milanês introduziram uma cláusula anti-escândalos no contrato. Os penteados excêntricos estavam proibidos assim como as mensagens polémicas… Balotelli teve de se conter.
O Liverpool também tentou o mesmo, em 2014/15, na única época em que o italiano esteve nos Reds. O emblema de Merseyside premiava Balotelli com um milhão de libras caso não fosse expulso mais de três vezes por conduta antidesportiva na mesma época.
Receber por minutos
Quando um jogador assina por outro clube, o salário é uma das principais preocupações. Os jogadores querem garantir que o seu trabalho é valorizado e muitas vezes até recebem bónus por um determinado número de jogos, como prémio pela regularidade. Outros ganham por cada jogo feito e depois há… Romeo Castelen. Quando o holandês assinou com os russos do Volga Nishni, entendeu que devia ser pago pelos minutos jogados e não pelos jogos. Não se conhece caso semelhante no mundo do futebol.
Lewandowski, nada de desportos radicais!
Robert Lewandowski poderá ingressar no Barcelona este verão, proveniente do Bayern Munique. Mas antes de assinar pelos bávaros, o avançado polaco podia ter sido merengue. Em Madrid estava à sua espera um contrato de mais de oito milhões de euros por temporada e um prémio de assinatura de 10 milhões de euros. Mas preferiu o Bayern. Porque? Florentino Pérez queria colocar uma cláusula no contrato que o proibia de praticar desportos de risco como ski, andar de moto ou atirar-se de paraquedas.
Disseste 'casa', não disse qual
Giuseppe Reina foi um avançado alemão, de origem italiana, com sucesso relativo nos relvados germânicos. Jogou no Arminia Bielefeld, Borussia Dortmund e Hertha Berlim, além de outros emblemas. Quando chegou ao Arminia Bielefeld em 1996/1997, proveniente do SG Wattenscheid 09, pediu uma casa em cada ano de contrato com o Bielefeld. Como não especificou que tipo de casa queria, o clube ofereceu-lhe três… em lego, pelas três épocas que cumpriu do contrato.
Ainda na Alemanha, congolês Rolf-Christel Guie-Mien estava tão apaixonado pela cozinha germânica que quando assinou pelo Eintracht de Frankfurt (1990), exigiu no contrato que o clube pagasse aulas de culinária à mulher.
Noitadas de Ronaldinho
Quando voltou ao Brasil para jogar no Flamengo em 2011, Ronaldinho Gaúcho pediu que o clube o permitisse sair duas vezes por semana, para se divertir e viver a vida como gosta. O clube não se opôs. Ronaldinho lá teve as suas duas noites por semana para estar na boa vida até as tantas da madrugada. O craque justificou o pedido como facto de estar à procura de paz e liberdade.
Chuteiras, só destas
Os jogadores do Schalke 04 eram obrigados a jogar com chuteiras da Adidas, devido ao contrato de patrocínio com a marca de equipamentos alemã. Quando Matija Nastasic assinou pelos azuis e foi informado deste pormenor, não gostou. O contrato dizia que só não usaria as chuteiras da marca da casa se apresentasse um atestado médico a aconselhar outro calçado. E o que fez o sérvio? Apareceu com um atestado médico que lhe recomendava usar chuteiras da Nike. Ganhou e foi para o campo sem calçado da Adidas em vários jogos.
Pago para ser educado
Quando o PSG perdeu a cabeça e bateu a cláusula de rescisão de Neymar, de 222 milhões de euros, abriu-se uma nova era mundo das transferências. Era - e continua a ser - o único jogador a custar mais de 200 milhões de euros e o clube quis certificar-se que os seus adeptos eram devidamente compensados pelo investimento. Vai daí, incluiu uma cláusula no contrato onde pagava um bónus de 6,5 milhões de euros por ano para que Neymar aplaudisse e agradecesse o apoio dos adeptos, antes e depois dos jogos e também para que o brasileiro não fizesse qualquer comentário sobre as escolhas do treinador da equipa. Neymar a receber 6,5 milhões de euros por ano por algo que devia fazer parte da educação de cada um.
... E pago para não falar
Não foi apenas Neymar a ter uma cláusula anti-reclamações sobre opções de treinadores no PSG. Também Thiago Silva tinha no seu contrato uma cláusula onde receberia 492 mil euros por época, se não criticasse publicamente as opções técnicas dos treinadores ou os dirigentes do clube. Ninguém sabe de onde saiu esta ideia, até porque o central, agora no Chelsea, não era propriamente conhecido por criticar opções de treinadores.
Eu é que sou o presidente da Junta
Na metade dos anos 80 o Wimbledon contratou Bobby Gould para treinar a sua equipa. No contrato, ficou expresso que o presidente do clube podia mudar a escolha do onze do treinador, até 45 minutos antes do início das partidas.
Sobes no peso, desces no salário
Neil Ruddock era um central corpulento, duro de rins, um gigante com problemas de peso, algo que lhe valeu a dispensa no West Ham. Quando assinou pelo Crystal Palace em 2000/2001, o clube londrino acordou com o jogador que teria uma redução salarial de 10 por cento sempre que ultrapassasse dos 99,8 quilos. Aconteceu por oito vezes durante a época. Neil Ruddock jogou no Liverpool, Tottenham, entre outros.
Manhas e ratices
E como combater as cláusulas bizarras? Puxar pela imaginação ou… ratice, como se diz na linguagem futebolística.
Na época 1992/93, o técnico Udo Lattek assinou pelo Schalke04, que lhe ofereceu 1,5 milhões de marcos alemães (cerca de 808 mil euros na moeda atual) se terminasse a Bundesliga à frente do rival Borussia Dortmund. Mas ao ver a equipa bem lançada para fazer melhor que o rival na classificação, os dirigentes despediram o treinador. Conclusão: o Dortmund acabou num fantástico 4.º lugar, o Schalke04 foi caindo até terminar no 10.º posto, a sete pontos do rival.
E 2011 o Arsenal fez tudo para contratar Alex Oxlade-Chamberlain junto do Southampton. Os Saints dificultaram ao máximo as negociações e colocaram uma cláusula onde o Arsenal teria de pagar 14 mil euros por cada 20 minutos de jogo do seu ex-jogador nos 'Gunners'. Arsene Wenger, treinador dos londrinos, tentou ultrapassar a questão, lançando Oxlade-Chamberlai a partir dos 72 minutos de jogo. Só que não contava com o tempo-extra dos encontros, pelo que muitas vezes o médio acabava por fazer os 20 minutos ou até mais. O Southampton apercebeu-se, fez as contas e informou o Arsenal: havia dinheiro a pagar.
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