O selecionador angolano de futebol, o português Pedro Gonçalves, disse à Lusa que no fim deste mês, altura em que termina o seu contrato, vai decidir o futuro, lembrando os sete meses de salários em atraso.

“O problema dos salários em atraso não é novo, mas nunca ninguém soube porque eu nunca falei do assunto. Tenho sete meses de salários em atraso e muitas outras despesas por receber, relativamente a diárias, prémios de jogo e muito mais. O meu contrato está em vias de terminar. O meu vínculo era a campanha do Mundial, portanto, terminando a campanha, no final deste mês, termina o meu contrato com a Federação Angolana de Futebol”, disse o técnico em Luanda.

O selecionador revelou que, em 2020, ficou sem receber salários durante onze meses e, como consequência, recebeu e continua, até ao momento, a receber ajuda financeira da sua família que se encontra em Portugal, de modo a fazer face às suas despesas diárias em Luanda.

“Durante o ano passado, eu e os meus colaboradores ficámos quase um ano sem receber salários. Foram onze meses e agora são sete, mas ainda assim nunca deixamos de trabalhar, jamais. Felizmente, tenho uma família que me apoia, e perante todas as adversidades, a minha família apoiou-me financeiramente e continua a fazê-lo de maneira que eu consiga reverter as dificuldades enfrentadas cá. A crise da pandemia, bem como da tomada de posse da direção da FAF, sete meses depois das últimas eleições, atrasaram todo processo” referiu.

Como consequência, o selecionador angolano disse que foi obrigado a regressar a Portugal, onde ficou mais tempo do que o previsto, devido à incerteza de subsistência em Angola.

“Criticavam-me publicamente, questionado onde é que estava o selecionador? Eu não estava em Angola porque não havia condições para estar aqui, de igual modo com os meus colaboradores. Para estar aqui eu precisava viver. Tão simples quanto isso” disse.

O treinador apontou também os problemas administrativos e financeiros que o órgão reitor do futebol angolano enfrenta, como causas da ponderação está a fazer.

“Nós nem a data FIFA fizemos porque não tivemos condições financeiras para o fazer, nem se quer participámos da Taça COSAFA porque não tivemos dinheiro para comprar passagens aéreas para a África do Sul, entre outras situações que temos vivido de maneira recorrente”, explicou.

Quanto ao afastamento da seleção angolana da corrida ao Mundial2022, Pedro Gonçalves rejeitou a ideia de que a campanha tenha sido um fracasso, destacando a falta de organização administrativa, às dificuldades financeiras na Federação Angolana de Futebol, a pandemia de covid-19, bem como a tardia tomada de posse da atual direção da FAF, sete meses depois das últimas eleições.

“Absoluto fracasso não se pode chamar, porque para haver fracasso tem de haver investimento. Porventura neste trajeto todo tivemos as condições reunidas e os recursos reunidos? É só vermos qual foi o envolvimento a nível de condições, recursos, até financeiros, das quatro seleções que nós já defrontamos no nosso grupo. Olhem para o que eles investiram e olhem para o que nós investimos. É um absurdo falar-se em fracasso”, referiu.

Pedro Gonçalves queixou-se também das condições colocadas à disposição da seleção angolana quando viaja para outros países.

“Como é que os nossos jogadores viajam? Viajam em económica e, às vezes, com um monte de escalas para os bilhetes ficarem mais baratos. Esta é nossa realidade em Angola. São tantas as burocracias para aquisição de documentos [passaporte angolano]. Tudo isso dificulta a vinda de alguns jogadores, a evoluir na Europa, à seleção angolana” concluiu.

Quanto a corrida ao Mundial, Angola e Egito defrontam-se no dia 12 de novembro, em Luanda, em jogo da quinta jornada do grupo F, e encerra a campanha para o Mundial no dia 16 do mesmo mês, frente a Líbia, em Benghazi.

Os angolanos já não têm hipótese de se apurar, em consequência de três derrotas e uma vitória, somando três pontos e ocupando a última posição.

O grupo é liderado pelo Egito, de Carlos Queiroz, com dez pontos, seguido pela Líbia que tem seis, e o Gabão ocupa o terceiro lugar, com quatro pontos.