O ‘streaming’, uma forma de transmitir em direto o que uma dada pessoa está a jogar, conversando com a ‘plateia’ virtual, junta aos videojogos a interação, o entretenimento e criação de conteúdos, explicaram à Lusa vários ‘streamers’ portugueses.
Entre os ‘aderentes’ estão personalidades como o futebolista brasileiro Neymar, fã ávido de videojogos, estrelas ‘próprias’ como o norte-americano Richard ‘Ninja’ Blevins, com quase 17 milhões de seguidores, ou a representante democrata no congresso dos Estados Unidos Alexandria Ocasio-Cortez, que a usou para jogar Among Us e apelar ao voto em outubro, tendo reunido, a certo ponto da transmissão, 450 mil pessoas a assistir em simultâneo.
Seja em ‘full time’ ou como passatempo, muitos se dedicam a este meio, no qual, entre narração, conversa e interação, se alia a criação de conteúdos, mecanismos de comunicação e entretenimento a uma “ligação de proximidade” entre quem produz e quem consome.
A maior parte destes ‘streams’, o nome dado ao conteúdo, que pode ou não ser disponibilizado para visualização após a emissão em direto, passam na plataforma Twitch, agora detida pela Amazon e lançada em 2011, tendo crescido rapidamente para uma ‘casa’ com uma média diária de 15 milhões de utilizadores ativos.
Avaliada em mais de três mil milhões de euros, a empresa alberga todo o tipo de transmissões, especializando-se em esports e conteúdo criado por ‘streamers’, termo usado para designar quem faz transmissões, mas também de outras, com concorrentes como o popular ‘site’ de vídeos YouTube.
Natural de Matosinhos, Marina Sousa, ou ‘Pamufa’, faz ‘streaming’ há mais de cinco anos, na Twitch, plataforma onde reuniu já acima de 49 mil subscritores, além de trabalhar também como apresentadora em eventos presenciais e, mais recentemente, ter apresentado o Gaming News, programa dedicado aos esports da Sport TV.
Uma das caras mais conhecidas da comunicação no setor, vê um crescimento “imenso” ao longo da última meia década, com “muito mais pessoas a apostar neste tipo de conteúdo”, de grandes marcas do setor a empresas que não estão necessariamente “relacionadas com o ‘gaming’”.
“O ‘streaming’, em si, é algo que as pessoas vêm em direto, em que o público pode escrever no momento para o ‘streamer’. Além de ver o que joga, recebe dicas, e não é só jogos. O que é mais apelativo é as pessoas falarem com quem estão a ver em direto, criando uma ligação de proximidade maior do que ver um simples vídeo”, explica.
A matosinhense, apaixonada por comunicação e ‘gaming’, refere ainda que essa “maior empatia” que é criada entre criador e consumidor de conteúdos faz a diferença até para quem está a transmitir.
“Gosto muito mais de falar do que jogar. Jogar é uma parte da minha vida, mas se as pessoas quiserem conversar sobre vários temas, falo e não tenho problema”, afirma.
Ainda assim, tem “cuidado”, até porque “não se sabe quem está a ver”, mesmo que considere que o público habitual na Twitch é “mais velho e não tanto crianças”, com temas como “a aparência, as relações ou o exercício” a surgirem.
“Temos de ter muito cuidado, porque as pessoas, ao falar connosco, estão a conhecer-nos, e nós, não os vendo, acabamos por ser um pequeno exemplo para eles. A nossa postura é muito importante”, alerta.
Apesar dos números de seguidores, na Twitch e na rede social Instagram, onde soma cerca de 23 mil, admite que não se retrai ou fica “constrangida”, mesmo que a reconheçam esporadicamente, admitindo gostar de, em eventos, “conhecer” com quem interage, que não vê até esses momentos.
Já a lisboeta Marta ‘Kitsu’ Nunes, de 20 anos, aproxima-se dos 10 mil subscritores, também no Twitch, e estuda Gestão de Recursos Humanos, encontrando no ‘streaming’ um caminho para “interagir e jogar”.
“Porque não juntar o útil ao agradável, e entreter algumas pessoas também? (...) Sinto que o papel de um ‘streamer’ é entreter a sua comunidade, trazer bom conteúdo e até dar a conhecer novos jogos, enquanto interage com todos e mantém um bom ambiente”, resume à Lusa.
Como assistia a imenso deste conteúdo, tomou a decisão de o fazer, uma vez que já jogava League of Legends desde 2015 e gostava de “continuar a crescer e ganhar reconhecimento na área”, depois de ter sido “salva de muito aborrecimento” enquanto consumidora deste tipo de conteúdos.
Associada à equipa FTW, Marta Nunes assume que “em Portugal é um bocado mais difícil fazer do ‘streaming’ a nossa profissão”, porque é “de certa maneira inconstante”, com meses melhores que outros, picos de crescimento e outros períodos de estagnação.
Citando nomes como Dino ‘MoraisHD’ Silva (236 mil subscritores) ou Ricardo ‘zorlakoka’ Sousa (371 mil), também eles na FTW, a jovem de 20 anos quer chegar ao ponto em que pode “fazer disto profissão”.
Ana Guerra, da Batalha, trabalha em comunicação na Braver, uma empresa dedicada a comunicação em esports, e depois de uma passagem pela Microsoft, na qual entrou no ‘streaming’ para conteúdo para a Xbox Portugal, na Mixer, então uma concorrente da Twitch, aventurou-se em nome próprio.
Com cerca de 1.300 subscritores na Twitch, o “bichinho” pela interação “em tempo real” e pela comunicação acabou por se desdobrar em dois a três dias por semana de transmissão.
“É uma grande parte da minha vida despendida na Twitch. Há muito trabalho por detrás, como perceber o que poderá ser interessante, além de que a própria plataforma está sempre a mudar”, explica à Lusa a jovem de 25 anos.
Antes de fazer ‘streaming’, conta, sempre gostou de “criar conteúdos”, de vídeos para o YouTube, artigos durante a faculdade e a criação de ‘podcasts’ e outro tipo de material.
Uma “grande proximidade”, em que os fãs mais fiéis sabem se esteve “doente ou de férias”, a opinião sobre filmes ou videojogos, além do que joga e conversa, é um dos fatores que aprecia, além do sistema de monetização na plataforma.
Do que mais gosta é mesmo “a interação, muito diferente do resto”, por ser em tempo real e pela regularidade. “Como alguém veria uma série de quinta à noite, vêm a Ana Guerra”, atira.
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