As inquietações de Pinto da Costa desde que foi diagnosticado com um cancro na próstata preenchem o livro “Azul até ao fim”, hoje apresentado pelo ex-presidente do FC Porto perante quase um milhar de pessoas na Alfândega do Porto.
“É um grande choque e emoção [receber a notícia da doença]. Quem já passou por isso, sabe o que significa. Quem não passou, espero que nunca passe. A partir daí, as decisões que tomei foram do fundo do meu coração. Resolvi escrever para mim, porque era uma maneira de desabafar e me confortar”, explicou o agora líder honorário ‘azul e branco’, de 86 anos.
Pinto da Costa falava durante a apresentação da sua quinta obra, que foi editada pela Contraponto e estará à venda a partir de segunda-feira, compilando diversos textos diários escritos nos últimos três anos, desde que soube que convivia com um tumor na próstata.
“Se eu estava a escrever para mim, acho que as pessoas que gostam de mim vão ler e comungar das mesmas ideias. Às vezes, tive momentos de menos serenidade ou de mais irritação, pois tenho sempre na cabeça aquelas palavras que o doutor me disse”, evocou.
Volvidos 173 dias sobre a tomada de posse de André Villas-Boas, com o qual perdeu nas eleições mais participadas da história do FC Porto, findando 42 anos e 15 mandatos seguidos na presidência do clube, Pinto da Costa mostrou-se grato pelo seu percurso de vida.
“O livro está a ter uma boa aceitação. Antes de ter saído, já está na segunda edição. É sinal de que as pessoas se interessam por aquilo que eu disse e também é bom para a editora, que confiou num autor que não é autor”, ironizou, em contraste com outros momentos de maior emoção, enquadrados por cânticos, gritos e aplausos da plateia.
O ex-presidente do FC Porto disse ser da sua inteira autoria a capa do livro “Azul até ao fim”, na qual surge apoiado num caixão adornado com a bandeira do clube, que conduziu ao longo de 15.355 dias, e entre todos os escalões, à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades - 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.
“Sei que a capa chocou algumas pessoas. Tive de fazer uma nota prévia sobre essa escolha feita por mim para que as intenções da editora não fossem mal interpretadas”, vincou, lembrando os 62 anos passados em vários cargos diretivos dos ‘dragões’.
Convicto de que a morte deve ser encarada “com naturalidade” em vez de “desgraça ou fatalidade”, Pinto da Costa identifica na obra quem quer e não quer no seu funeral, excluindo, entre outros, os corpos sociais da direção liderada por André Villas-Boas.
“Não é porque lhes queira mal ou por corte de relações, mas sei que a presença de alguns daqueles que eu cito iria certamente criar incómodo naqueles que me conhecem. Por isso, escrevi e peço não quero ninguém de preto, em sinal de luto e tristeza. Quero toda a gente vestida de azul por três razões: é cor do céu, do manto de Nossa Senhora e do FC Porto”, apontou.
Alguns ex-futebolistas do clube, como Hélton, Maniche, Eduardo Luís, António André ou António Sousa, também são descartados das cerimónias fúnebres por Pinto da Costa, ao contrário de um ciclo restrito de amigos, nos quais se incluem Fernando Madureira, ex-líder da claque Super Dragões, que está em prisão preventiva há nove meses, no âmbito da Operação Pretoriano, e Sandra Madureira, sua mulher e outra arguida desse processo.
“A única coisa que qualquer pessoa consegue fazer sozinho é asneiras. Quem quiser construir algo de positivo, útil e importante para os outros tem de estar bem acompanhado. Houve pessoas que, infelizmente, não podem estar aqui, mas foram importantes para o FC Porto e para as suas vitórias. Refiro-me ao Fernando Madureira”, observou.
Sandra Madureira compareceu na Alfândega do Porto, onde também estiveram presentes os ex-administradores da SAD Luís Gonçalves, Vítor Baía, Fernando Gomes e Rita Moreira, o antigo futebolista e treinador e atual acionista António Oliveira ou Valentim Loureiro, ex-presidente do Boavista e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
Nuno Lobo, candidato derrotado nas últimas duas eleições do FC Porto, também se fez notar, ao contrário do treinador Sérgio Conceição, que orientou os ‘dragões’ nas últimas sete épocas e tinha renovado contrato na antevéspera das históricas eleições de 27 de abril.
Antes do evento, a editora Contraponto anunciou a apresentação de uma queixa-crime e a abertura de uma investigação para apurar a origem da fuga de informação da nova obra de Pinto da Costa, que teve excertos difundidos nas redes sociais e motivou notícias nos últimos dias.
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