O Ministério Público (MP) suspeita de “conluio” entre funcionários ligados ao FC Porto e uma empresa associada e membros dos Super Dragões na aquisição de bilhetes para jogos de futebol depois vendidos no ‘mercado negro’, levando a buscas hoje realizadas.
“De toda a prova reunida até ao momento e devidamente documentada não existem dúvidas de que são várias as pessoas com lucros consideráveis referente à venda irregular de bilhetes, o que lesa claramente o FC Porto, e o Estado, o que é ‘conhecido e aceite’ no seio do clube como moeda de troca pelo apoio da claque”, pode ler-se nos mandados de busca e no inquérito a que a Lusa teve hoje acesso.
Segundo estes documentos, o MP partiu das suspeitas relacionadas com Fernando Madureira, líder da claque envolvida, e a esposa, Sandra Madureira, e agora ultrapassou a Operação Pretoriano.
Em causa estão crimes de distribuição e venda de títulos falsos ou irregulares/distribuição e venda irregular e também abuso de confiança qualificado, com buscas não domiciliárias aos administradores Rui Lousa, da Porto Comercial, e Alípio Jorge, responsável pelas casas do clube, entre outros.
A investigação “levou já a que se identificassem outros indivíduos suspeitos” na prática de distribuição ilícita de bilhetes para jogos de futebol do clube ‘azul e branco’, tendo ainda revelado como esta atividade “se reorganizou e adaptou à nova realidade após a Operação Pretoriano”, que levou à detenção do líder dos Super Dragões.
A partir dos factos captados no inquérito, tornou-se ostensiva a existência de uma atividade ilícita altamente rentável em torno da chamada bilhética do FC Porto que envolve – ‘prima facie’ – funcionários e o grupo organizado de adeptos Super Dragões”, pode ler-se no inquérito.
Através da ligação a funcionários do clube, Fernando Madureira levantava os bilhetes destinados à claque mas também outros identificados como pertencentes a atletas, recursos humanos e outras designações, vendendo-os no ‘mercado negro’, quando estes são de acesso exclusivo de funcionários do clube.
As “estreitas ligações” de arguidos como “Aleixo”, Vitor Manuel Oliveira, a funcionários dos ‘dragões’ com vista a este esquema também são destacadas no inquérito, que aponta a Cátia Guedes, que lidera a operação de emissão de bilhetes, Fernando Saul, oficial de ligação aos adeptos, Márcia Fonseca, da Porto Comercial, Manuel António Magalhães, funcionário da bilheteira, e dois “elementos superiores”, José Pedro Dias e Rui Lousa.
A criação de ‘casas’ do FC Porto sem sede física, para obtenção de bilhetes, a revenda de convites e outros ingressos gratuitos são aqui descritos, assim como a continuação da operação ilícita após a detenção de Fernando Madureira.
Segundo o MP, a suspeita recai sobre a família do líder da claque, no caso a filha e os avós desta, que prosseguiram a operação que, segundo se suspeita, envolve a conivência e “conluio” entre funcionários do clube e membros da claque.
A PSP adiantou hoje que foram aprendidos “vários milhares” de bilhetes para jogos e dinheiro nas buscas que decorrem na Porto Comercial e na loja do associado do FC Porto, tendo várias pessoas sido constituídas arguidas.
Fonte oficial da PSP disse à Lusa que “já foram apreendidos vários milhares de ingressos para espetáculo desportivo, quantias monetárias e já foram, também, constituídos arguidos mais de uma dezena de indivíduos”.
A mesma fonte referiu que as buscas iniciaram-se ao inicio da manhã para “dar cumprimento a vários mandados judiciais” e estão a ser feitas “com o apoio de diversas valências policiais”.
As buscas aconteceram horas antes de o FC Porto, terceiro classificado da I Liga, com 66 pontos, receber o ‘vizinho’ Boavista, 14.º, com 31, a partir das 20:30, no dérbi portuense da 33.ª e penúltima ronda, sob arbitragem de Artur Soares Dias, da associação do Porto.
A Operação Pretoriano investiga os incidentes ocorridos na Assembleia Geral (AG) do FC Porto, em 13 de novembro de 2023, sustentando o MP que a claque Super Dragões pretendeu “criar um clima de intimidação e medo”, para que fosse aprovada a revisão estatutária “do interesse” da então direção ‘azul e branca’, liderada por Pinto da Costa.
Em 31 de janeiro deste ano, a PSP deteve 12 pessoas - incluindo dois funcionários do FC Porto e o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, que continua em prisão preventiva, juntamente com Hugo Carneiro.
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