O suporte sindical salvaguardado pela Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF) tem ajudado a inibir a transposição para Portugal dos recentes apelos feitos em Espanha em prol do ressarcimento mais célere em contexto de despedimento.
“Como eles não têm esta vertente sindical, começam agora a ter dificuldades. Muito provavelmente, a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) perdeu poderes ou abandonou um pouco os treinadores, porque até há bem pouco tempo não deixava que um clube inscrevesse um novo técnico sem que estivessem resolvidos todos os diferendos com os antecessores”, enquadrou à agência Lusa o presidente da ANTF, José Pereira.
Em 03 de setembro, quase todos os responsáveis técnicos dos clubes dos dois principais escalões espanhóis reuniram-se com a Comissão de Treinadores da RFEF, liderada por David Gutiérrez, expressando preocupações sobre alguns colegas de profissão que ainda não foram ressarcidos na íntegra dos despedimentos enfrentados em épocas anteriores.
Exemplo paradigmático é Quique Setién, que comandou o FC Barcelona entre janeiro e agosto de 2020, mas, de acordo com a imprensa local, receberá apenas nos próximos dias a sexta e última tranche dos cerca de quatro milhões de euros (ME) de indemnização.
“O problema não se coloca oficialmente em termos legais por cá. Se a entidade patronal despedir um treinador sem justa causa, tem de pagar imediatamente todos os vencimentos até ao final do contrato. Acontece, porém, que os clubes, em consonância com os técnicos em questão - e não necessariamente com a ANTF - entendem-se para que esse pagamento seja prolongado por alguns meses”, reconheceu José Pereira.
A unanimidade dos treinadores empregados em Espanha em torno desta matéria motivou as presenças do italiano Carlo Ancelotti, que orienta o campeão europeu e espanhol Real Madrid, do alemão Hans-Dieter Flick, recém-contratado pelo FC Barcelona, ou do argentino Diego Simeone, à frente do Atlético de Madrid, nas conversações com a RFEF.
“A tolerância em Portugal está estipulada: os clubes têm meio ano para proceder a esses pagamentos assim que são acordados. O que seria normal era que a entidade patronal despedisse o trabalhador, pagasse os vencimentos e ficasse tudo resolvido, mas, muitas vezes, os gabinetes jurídicos das duas partes entendem-se e acordam determinados prazos. Agora, se estes são cumpridos? Não, não são”, admitiu o presidente da ANTF.
O setor pediu maior proteção laboral à RFEF, sob pena de fazer greve caso não haja acordo com a Liga espanhola para modificar os atuais regulamentos, que autorizam os clubes a contratarem novos treinadores independentemente da existência de dívidas pendentes a anteriores responsáveis técnicos.
“Quando há possibilidade de recurso junto dos tribunais, sabemos que isso é muito mais dispendioso para os clubes, mas também leva mais tempo para o próprio treinador. É nesta balança que temos de atuar, procurando aferir se valerá a pena avançar por essa via ou esperar. Em qualquer lado, independentemente daquilo que esteja em vigor, há sempre uma lei importantíssima, que é a do bom senso. Se isso existir entre as partes, as coisas resolvem-se de maneira fácil. Quando as pessoas querem complicar, há sempre formas de o fazer, mas também de arranjar alternativas”, terminou José Pereira.
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