Já começou a contagem decrescente para o regresso de Conor McGregor.

Após um hiato de mais de um ano, aquele que é considerado o lutador mais mediático do MMA (e, possivelmente, do mundo dos desportos de combate), irá regressar ao octógono no dia 18 de janeiro para defrontar Donald Cerrone.

O que se pode esperar de Conor McGregor para este combate e para o ano de 2020? Muitos aspetos irão manter-se, mas outros mudarão.

O seu perfil provocante, destemido e bastante sonoro irá certamente continuar a marcar o MMA. Ao contrário do que muitos críticos argumentam, McGregor não tende a recusar ou evitar combates. A razão pela qual não irá começar o ano a combater com Justin Gaethje ou Khabib Nurmagomedov não é certamente o receio de perder esses combates (algo que seria provável de acontecer, especialmente no hipotético rematch com Khabib), mas sim um plano desportivo e financeiro ainda por descortinar.

McGregor, como qualquer atleta de topo de outras modalidades, tem uma fé inabalável nas suas qualidades e uma obsessão pela vitória, mesmo quando as probabilidades de vitória são reduzidas. Assim foi em 2017 quando foi nocauteado por Floyd Mayweather, num combate de boxe, e em 2018 quando foi finalizado por Khabib Nurmagomedov. Independentemente da motivação dada pelo enorme prémio financeiro de ambos os combates, McGregor tentou fazer o impossível: realizar o seu primeiro combate profissional de boxe e derrotar um dos melhores pugilistas da história; e derrotar Khabib, que têm um nível de grappling muito superior ao do irlandês.

Contudo, o McGregor de 2020 é também uma versão com novidades. A principal diferença face ao passado diz respeito às divisões de peso onde McGregor irá gravitar. O irlandês foi avassalador no peso pena (até 65,8 kg), derrotando os grandes nomes da divisão (nomeadamente José Aldo, Chad Mendes e Max Holloway), foi um campeão fugaz no peso leve (até 70,3 kg) ao derrotar Eddie Alvarez para depois ser derrotado por Khabib, e estreou-se na divisão de meio-médio (até 77,1 kg) com uma derrota contra Nate Diaz.

Não é expectável que McGregor volte ao peso pena. Seria um corte de peso demasiado extremo para alguém que não combate nessa divisão há mais de quatro anos e que não compete há mais de um ano. Assim sendo, vislumbram-se tempos mais difíceis nas divisões de peso acima.

McGregor é um striker excecional. A sua gestão de distâncias, a sua rapidez, timing e precisão deram-lhe já dois títulos no UFC, porém a sua fisicalidade e o poder de KO não têm o mesmo impacto nas divisões de peso leve e meio-médio. Adicionalmente existem outros dois fatores que ganham mais visibilidade com adversários mais poderosos e pesados: a sua capacidade cardiovascular em aguentar combates intensos de 5 rounds é questionável; e o seu domínio do wrestling e jiu-jitsu não está claramente ao mesmo nível de muitos atletas do top 10 destas divisões de peso. Nos dois combates que realizou com Nate Diaz, na divisão de meio-médio, foram evidenciados todos estes pontos.

Donald Cerrone é um atleta mais focado na vertente “show business” que na glória de ganhar títulos de campeão do mundo. Neste sentido, o combate com McGregor será uma espécie de prémio de carreira para um lutador que esteve sempre preparado para lutar com quem o UFC quis que lutasse.

Numa primeira análise, Cerrone poderá ser o adversário ideal para McGregor. Não é um meio-médio muito pesado e já prometeu que vai apostar no striking, onde McGregor se sente mais confortável. Contudo, ao contrário de Nate Diaz, Cerrone é um atleta com mais potência (o norte-americano detém o recorde de 20 KOs no UFC), representando um perigo acrescido na troca de golpes.

O McGregor de 2020 tem vários cenários no horizonte.

Se perder o combate com Cerrone, será a sua terceira derrota consecutiva, tornando-se cada vez mais remota a possibilidade de voltar a disputar um título mundial; e podendo fazer derivar a carreira apenas para combates “espectáculo” com muito potencial para vender pay-per-views (como o combate com Nate Diaz).

Se derrotar Cerrone, Dana White dará carta-branca a McGregor para escolher o seu adversário: o vencedor do combate entre Khabib Nurmagomedov e Tony Ferguson; um meio-médio do top 5, nomeadamente Jorge Masvidal ou mesmo o campeão Kamaru Usman; ou até um terceiro combate com Nate Diaz. Qualquer um destes combates seria certamente um êxito financeiro para o irlandês, mas a futura conquista de títulos nas divisões de peso leve ou meio-médio parece improvável dada a elevadíssima qualidade dos atuais campeões.

Independentemente do caminho a trilhar, Conor McGregor mostra-se com fome de competição e já prometeu que o seu foco em 2020 estará totalmente no MMA. São boas notícias para o espetáculo e para o desporto.

David Pimenta é Gestor e Politólogo e autor do blogue 'Fight Corner'.