Portugal nunca teve uma tradição forte em desportos de combate. Por cá o futebol dominou e domina por completo no desporto escolar e universitário, no desporto amador e profissional, nas televisões, rádios, internet e em cafés de norte a sul.

Contudo houve períodos em que os desportos de combate se popularizaram e conquistaram uma grande base de fãs, que acompanhava a carreira dos seus ídolos, nomeadamente a partir dos anos 40 do século XX e nas décadas seguintes. Ficaram para a história figuras icónicas como o pugilista Belarmino Fragoso (personagem principal do famoso documentário “Belarmino”) ou o wrestler Albano Taborda Curto Esteves, mais conhecido como Tarzan Taborda. Entretanto, desde o final do século XX até à atualidade, inúmeros atletas portugueses conquistaram notáveis medalhas olímpicas, troféus europeus e mundiais no Judo, Jiu-Jitsu, Taekwondo, Luta Livre e Luta Greco-Romana, Kickboxing, Boxe, entre outras modalidades.

Apesar de todo o sangue, suor e lágrimas, que já originou tantos sucessos desportivos, a projeção destas modalidades ainda está longe de atingir a notoriedade que se observa em praticamente todo o globo, mas os primeiros passos já foram dados. No mundo global e altamente interconectado de 2019, Portugal começa também a ser contaminado pela febre do MMA (acrónimo para Mixed Martial Arts).

O MMA moderno evoluiu de um desporto marginal e renegado pela imprensa desportiva para um fenómeno de massas a nível mundial, que gera receitas multimilionárias. Neste contexto surgiram superestrelas internacionais como Conor McGregor, Ronda Rousey ou Khabib Nurmagomedov.

Portugal tem já vários atletas a combater no ultra competitivo circuito mundial de MMA, como Falco Neto ou o invicto Domingos Barros, sendo que os dois mais importantes pontas de lança portugueses são Pedro Carvalho e André Fialho.

Pedro Carvalho destacou-se mais recentemente num co-main event do Bellator, considerada a segunda organização internacional mais importante de MMA. Carvalho venceu por submissão Sam Sicilia, um veterano do UFC, apresentando um Jiu-Jitsu muito afiado que o permitiu passar à próxima ronda do torneio na divisão de peso-pena para enfrentar o super favorito Patrício Freire – um dos melhores do mundo na sua categoria de peso, tendo conquistando recentemente também o título de peso-leve a Michael Chandler. O caminho até ao título advinha-se duro, mas o atleta vimaranense mostrou muita qualidade sempre que o nível competitivo subiu.

André Fialho teve um início de carreira fulgurante com alguns KOs espetaculares, alimentados pelo boxe da sua formação enquanto pugilista, tendo competido também no Bellator. Entretanto algumas lesões e as primeiras duas derrotas afetaram a sua ascensão relâmpago. Atualmente, Fialho compete no torneio da divisão de peso meio-médio da organização PFL e lutará no dia 11 de outubro contra o brasileiro Glaico França, um atleta experiente que lutou em várias organizações entre as quais o UFC (onde perdeu por decisão com os atletas de elite Gregor Gillespie e James Vick).

Pedro Carvalho e André Fialho têm em comum características que jogam a seu favor e que são decisivas para o sucesso das suas carreiras e para a própria expansão dos desportos de combate e do MMA em Portugal. São muito jovens considerando a grande experiência que já adquiriram (24 e 25 anos são considerados jovens promessas no MMA) e muito ambiciosos, apresentando um discurso de fé inabalável nas suas capacidades e vontade em ganhar títulos. Outro fator importante é o facto de treinarem com os melhores do mundo fora da, ainda, pequena realidade portuguesa: Pedro Carvalho treina na SBG de John Kavanagh, ao lado de McGregor ou de Gunnar Nelson; e André Fialho, que depois de uma passagem pela AKA de Khabib e Daniel Cormier, treina na Hard Knocks 365 com Henri Hooft, na companhia de “monstros” como Kamaru Usman ou Volkan Oezdemir.

A atual presença de atletas portugueses no mapa mundial do MMA deve-se também ao caminho desbravado por outros atletas de diferentes gerações. Importa não esquecer nomes como Lauro Figueiroa, Rafael Silva, Vítor Nóbrega (que ainda se mantem no ativo), entre muitos outros, que deram o primeiro passo e inspiraram a nova geração emergente. 

David Pimenta

Gestor e Politólogo, autor do blogue “Fight Corner” (https://fightcorner.blogs.sapo.pt/)