Tiago Machado gostava de ter vencido a Volta a Portugal, mas preferiu aproveitar sempre as oportunidades que foram surgindo, como aquela que o leva agora a deixar de ser ciclista ainda com “coisas por fazer”.

Aos 36 anos, o popular ciclista da Rádio Popular-Paredes-Boavista vai encostar a bicicleta, uma decisão antecipada em uma temporada depois de ter recebido de José Azevedo o convite para ser o coordenador da academia de ciclismo da Efapel (encarregado da equipa júnior masculina e das equipas femininas).

“Sempre fui uma pessoa que aproveitou as oportunidades. Quando surgiu a oportunidade de ir lá para fora, a primeira vez que falaram comigo eu disse logo ok. E agora, quando falaram comigo e me explicaram o projeto com mais alguma maturidade, falei com a minha família e chegámos à conclusão que mais ano, menos ano [ia acabar e], se calhar, era melhor aproveitar a oportunidade, porque não sabíamos se no futuro se iam lembrar de mim para este tipo de funções”, explicou.

‘Tiaguinho’ deu-se a conhecer na Volta a Portugal – e na equipa na qual agora se despede e na qual se tornou profissional em 2005 - há mais de uma década, ao vencer por três vezes a classificação da juventude, um recorde.

Um quinto lugar na edição de 2009 abriu-lhe as portas do WorldTour e da RadioShack, onde viveu os melhores anos (ou, pelo menos, os mais mediáticos) da sua carreira, num percurso em que representou ainda a NetApp-Endura (2014), no ano da vitória na Volta à Eslovénia, e a Katusha (2015-2018), antes de regressar a Portugal como contratação ‘estelar’ do Sporting-Tavira, rumando depois à Efapel (2020).

“Há coisas que ficam sempre por fazer. Quem é que não gostava de ter ganhado mais? Mas também não me arrependo. Se não ganhei mais foi por culpa minha e também porque encontrei adversários que na altura podiam estar mais fortes do que eu. Mas admito que se não corresse da forma como corria muita das vezes, podia ter feito algo de mais bonito”, concedeu.

Impulsivo, Machado ficou conhecido também pelos seus ataques desde os quilómetros iniciais, que redundavam quase sempre em tentativas anuladas já perto da meta, mas que lhe valeram um enorme carinho do público português, que o batizou inclusive de ‘ciclista do povo’ e que sempre sonhou em vê-lo vestir de amarelo na prova ‘rainha’ do calendário nacional.

“Claro que gostava [de ter vencido a Volta]. É a nossa Volta, sou português e tenho muito orgulho nisso. A minha licença desportiva sempre foi portuguesa, sempre tive residência fiscal em Portugal, só saía de Portugal para fazer estágios e posso dizer que a maioria deles eram contra a vontade, porque não os queria fazer. Claro que gostava de ter ganho a Volta a Portugal, mas tive de olhar pela minha vida, aproveitar os melhores anos da minha carreira para correr lá fora, fazer uma boa carreira internacional e fazer também um pé de meia”, vincou.

Hoje, não se arrepende de ter emigrado, porque se tem “alguma notoriedade também foi por causa disso”, mas reconhece que gostava de ter ficado “aqui”, num pelotão que “na altura” (e agora) não pagava os ordenados que se praticavam “lá fora”.

A contagem decrescente para o adeus definitivo à ‘Grandíssima’, como carinhosamente trata a prova que o deu a conhecer, tem sido feito ao ritmo de entrevistas e publicações nas redes sociais, nas quais vai assinalando as últimas vezes mais marcantes.

“Tenho colocado aquelas coisas que me dizem mais. A última subida à Torre marca um atleta. Eu quando andava nas minhas melhores capacidades físicas, nunca tive a oportunidade de subir a Torre pelo lado da Covilhã, que se formos a ver era uma subida que até me podia favorecer mais na altura. Foi o último dia de descanso de uma grande Volta, porque não vai haver mais. Se Deus quiser, se chegar a domingo, vai ser a última subida à Senhora da Graça, que é a subida que eu sempre mais gostei na Volta a Portugal. São coisas que marcam a carreira desportiva de um ciclista em Portugal”, notou.

Embora possa parecer que o fim é algo que está sempre no seu pensamento, Machado confessa que só quando passa a linha de meta “é que cai a ficha”. “Que passou mais uma e estamos perto do final. É duro, porque custa tirar o dorsal, pôr a roupa na rede para lavar, são rituais que se vão perder”, completou o ciclista que disputou 10 grandes Voltas e foi 19.º no Giro2011.

Com apenas três etapas da Volta por disputar, duas delas no ‘seu’ Minho, o ciclista da Rádio Popular-Paredes-Boavista só quer desfrutar do adeus a um percurso em que “foram tantos” os momentos bons.

“Todos os dias quando saio para a estrada são bons momentos. Agora, maus momentos... uma queda ou outra que me tenha posto mais amassado. A do Tour, foi a mais famosa, mas tive quedas piores. Essa foi a mais mediática”, afirmou, referindo-se à queda na 10.ª etapa da Volta a França de 2014, quando seguia em terceiro da geral – chegou a ser dado como desistente, mas voltou à estrada e, apesar de ter chegado fora de controlo, foi repescado pelo colégio de comissários, que recompensou um feito que o jornal L’Équipe definiu como heroico.

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