A história remonta a fevereiro de 2022. Devido à paragem na WNBA com as Phoenix Mercury, Brittney Griner jogava na primeira liga russa quando foi detida num aeroporto de Moscovo em fevereiro de 2022.

Na entrevista concedida ao canal americano 'ABC', a atleta conta que nesse dia, antes de se dirigir para o aeroporto, foi ela a fazer a mala à pressa, depois de acordar tarde. Na revista, reparou que tinha os cartuchos com óleo de canábis, legais no Arizona, mas não na Rússia.

"O meu coração saiu-me do corpo", recordou sobre o momento em que as suas malas foram revistadas no aeroporto. "Como é que eu posso ter cometido este erro? Via todas as coisas pelas quais tinha trabalhado tão arduamente cair aos pedaços e a desaparecer", lamentou. "Pensei que a minha vida tinha acabado. Culpa minha. Nas primeiras semanas após a detenção, quis suicidar-me mais do que uma vez. Só queria acabar com aquilo.

Declarou-se culpada das acusações, foi condenada a nove anos de prisão. Na entrevista, Griner revelou as condições que tinha e emocionou-se a recordar o que passou.

"Por vezes não recebíamos papel higiénico. Não cabia na cama, as minhas pernas ficavam de fora. O colchão tinha uma enorme mancha de sangue e eles davam-nos lençóis muito finos, por isso estávamos praticamente deitadas sobre as barras".

Depois de julgada, foi transferida para a colónia no norte do país, IK2, onde trabalhava a cortar tecido para uniformes militares.

"É muito frio. É um campo de trabalho, não há descanso. Quando entramos na cela, há uma casa de banho. Tem um pequeno lavatório frágil com uma fuga e depois imagine-se uma camada de pó, sujidade, manchas de sangue. Só sujidade", contou Griner na canal americano ABC. "Tinha duas t-shirts, dois pares de camisolas, um par de sapatilhas. Rasguei uma das minhas camisolas e usei-a para me limpar, como papel higiénico no buraco sujo no chão, com fezes por todo o lado. Foram momentos em que me senti mais suja e menos que humana", referiu ainda, contando porque cortou o cabelo. "Teve ser. Tinha aranhas por cima da minha cama a fazer ninhos."

A jogadora das Phoenix Mercury abordou ainda a carta que escreveu a Vladimir Putin, pouco antes de ser libertada. "Obrigaram-me a escrever esta carta. Estava em russo. Tive de pedir perdão e agradecer ao seu suposto grande líder. Não o queria fazer, mas ao mesmo tempo queria regressar a casa", justificou a jogadora cuja libertação foi concedida depois do governo dos EUA ter feito um acordo com a Rússia em troca de um traficante de armas russo.

Griner voltou depois a jogar pelas Phoenix Mercury em maio de 2023 e não pretende voltar a jogar no estrangeiro. Vai lançar em breve o livro intitulado Voltar a Casa, precisamente sobre a experiência por que passou na Rússia.

Duas vezes campeã olímpica, Britney Griner, de 33 anos, alternava a carreira na Liga norte-americana com a presença na Europa, tendo representado o Ecaterimburgo desde 2014.