A medalhada olímpica Telma Monteiro considerou hoje que a sua motivação atual, aos 37 anos, é alcançar os sextos Jogos da carreira, em Paris2024, e tornar-se a primeira judoca do mundo a alcançar esse feito.

“Neste momento, a minha motivação é que, se eu for aos sextos Jogos Olímpicos, vou ser a única judoca no mundo a ter alcançado esse feito. Na minha mente, eu consigo ainda lutar pelo pódio, sou sempre competitiva e quero alcançar uma medalha. Nesta fase, a minha motivação é saber que o que posso vir a fazer é história. Falta um ano e meio, o que, com 37 anos, é longo, mas, se estou tão perto, não faz sentido não tentar alcançar”, salientou, perante uma plateia de jovens esperanças olímpicas portuguesas.

Telma Monteiro encerrou o Encontro Nacional de Esperanças Olímpicas, organizado pelo Comité Olímpico de Portugal (COP) e que reuniu, no Centro de Alto Rendimento do Jamor, mais de uma centena de jovens atletas aspirantes a participar nos Jogos de Los Angeles, em 2028, e de Brisbane, em 2032, com um painel “Conversas Olímpicas”.

“A medalha [de bronze] que ganhei no Rio2014, agora, parece óbvia. Tinha já quatro medalhas em Mundiais, muitas em Europeus e só faltava a medalha olímpica. Ganhei essa medalha passados quatro Jogos Olímpicos, 12 anos depois. Já estava numa fase adiantada da carreira e tina sido operada seis meses antes. Agora, parece que isso não vai acontecer, olhando para a minha idade e o ‘ranking’ atual. Se nos prepararmos e acreditarmos que somos capazes, a partir do momento em que estamos lá, podemos ganhar. Posso pensar na medalha de ouro, mas cada um tem o seu objetivo”, realçou.

A judoca do Benfica recordou alguns momentos da sua carreira, repleta de sucessos e conquistas internacionais, mas também aqueles onde não cumpriu os objetivos, como em Pequim2008, onde era favorita ao ‘ouro’ e concluiu num desapontante nono lugar.

“Cheguei a Pequim como número um do mundo. Com 21 anos e com a expectativa de que era invencível, estava mais focada no resultado final do que em todo o processo. Tinha clara noção de que era favorita, mas esqueci-me da parte toda até à conquista. Quem vai para uma competição com alguma dose de arrogância e falta de humildade e quando as coisas não correm bem, ainda é pior. Mesmo se fosse campeã olímpica, não estava preparada psicologicamente. Foi uma desilusão enorme e, na altura, fui muito criticada, portanto não tinha de lidar só com a minha frustração, mas com a raiva das outras pessoas e com todas as coisas que eram escritas”, sublinhou Telma Monteiro.

Desta forma, sentiu que foi “lançada às feras”, sem qualquer preparação, e elogiou a iniciativa para as esperanças olímpicas, no sentido de contribuir para o psicológico dos atletas e a saúde mental, o que, antes, “era um tabu completo”, mas que é “essencial”.

“Quando somos jovens, podemos viajar com os pais, interromper treinos durante um mês para ir viajar, ter atividades com amigos, a entrada na faculdade… Tem a ver com a dedicação e o compromisso, porque vai haver sempre muitas distrações. É uma fase bastante importante do nosso desenvolvimento como atletas”, aconselhou a judoca.

Assim, mesmo tendo de “abdicar de muitas coisas”, Telma Monteiro lembrou que as experiências vividas na alta competição, como nos Jogos Olímpicos, “são muito mais especiais”, considerando importante existir uma preparação para o deslumbramento.

“Quando cheguei lá aos Jogos Olímpicos é que tive a perceção. Fiquei chocada com a dimensão de tudo e só meses mais tarde é que processei tudo o que aconteceu. Em competição, as regras e os adversários são os mesmos, mas o ambiente que se vive lá é completamente diferente. Mal entras na aldeia olímpica, sentes-te especial”, frisou.

A concluir, Telma Monteiro lembrou a importância de um planeamento para o final da carreira, que “pode acabar a qualquer momento”, e, portanto, prosseguiu os estudos, licenciando-se em Educação Física e com uma pós-graduação em Gestão e Marketing.

“Nunca dei por garantido que, no próximo ano, fazia parte da seleção. É desgastante conciliar os estudos, psicologicamente e até fisicamente, mas é algo que me orgulho bastante. Quando estamos no auge, parece que isto é infinito, mas o infinito pode ser apenas um mês e uma lesão grave termina-te a carreira. Quando a carreira terminar, há uma vida muito longa pela frente e temos de estar preparados para isso”, alertou.

O encontro de esperanças olímpicas, que também contou com o testemunho da atleta Patrícia Mamona, prata no triplo salto em Tóquio2020, proporcionou distintas atividades aos jovens atletas, em domínios como educação olímpica, integridade, nutrição ou combate à dopagem e testes de avaliação e controlo do treino para otimizar o desenvolvimento.