Francis Obikwelu é, ainda hoje, o detentor do recorde da Europa nos 100 metros, com 9.86 segundos. Foi este tempo que lhe valeu a medalha de prata numa das mais prestigiadas provas dos Jogos Olímpicos, a 22 de agosto de 2004, em pleno Estádio Olímpico de Atenas.

Numa das mais equilibradas e emocionantes finais dos 100 metros da história, com os primeiros quatro classificados separados por quatro centésimos de segundo, Obikwelu conquistou a prata, com um tempo de 9.86 segundos, apenas atrás de Justin Gatlin, que fez menos um centésimo (9.85). Quase 17 anos depois, o antigo atleta olímpico continua sem conseguir encontrar palavras para descrever o que viveu.

"É difícil de explicar o que sentimos naquele momento. Só quem passou por aquilo percebe. Sempre que vejo o vídeo [da prova] sinto vontade de repetir tudo. É uma emoção muito grande", começou por contar Francis Obikwelu ao SAPO Desporto.

Para o antigo atleta olímpico, este foi 'apenas' o resultado de anos de trabalho. Quanto ao recorde da Europa, não tinha dúvidas de que o ia bater.

"Foi uma surpresa para toda a gente menos para mim. Sabia do meu valor. Já tinha mostrado nos treinos que podia bater o recorde da Europa, foram quatro anos de muito trabalho para correr aqueles nove segundos. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, acabaria por cair", nota.

Acabou por ser apenas um centésimo a separar Obikwelu do mais alto lugar do pódio. "O meu treinador disse-me que quem fizesse 9.85 ia ser o campeão olímpico. Não consegui chegar ao ouro, mas fiz tudo o que estava ao meu alcance. Ele [Justin Gatlin] tinha mais experiência do que eu e talvez isso tenha feito a diferença", recorda.

Francis Obikwelu
Francis Obikwelu na final dos 100 metros, nos Jogos Olímpicos de 2004. A prova foi ganha por Justin Gatlin. @epa/keystone Fabrice Coffrini EPA/Fabrice Coffrini

Nem o ambiente de uma final dos 100 metros, inédita no atletismo português, e 'monstros' como Maurice Greene, Asafa Powell ou Justin Gatlin, que acabaria por cortar a meta em primeiro, conseguiram intimidar o luso-nigeriano, então com 26 anos.

"Nunca ninguém me intimidou. Jamaicanos ou americanos... para mim não havia diferenças. Eles não corriam com um Ferrari, tinham duas pernas como eu. A pressão não me afeta, bem pelo contrário. Gosto da pressão", sublinha.

Foi também numa entrevista ao SAPO Desporto, em 2019, que Francis Obikwelu partilhou uma história que mostra a admiração que os outros atletas nutriam por ele. "Antes [de Atenas 2004] eu tinha estado na 'Golden League' em Paris, um Meeting que eu ganhei e em que o Maurice [Greene] ficou em terceiro lugar. Na altura, numa entrevista, ele disse que não estava preocupado, nem com o Asafa Powell, nem com o Justin Gatlin, mas sim com o Francis Obikwelu", relatou.

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Os 9 segundos e 86 centésimos valeram-lhe um recorde europeu que ainda persiste (já foi igualado duas vezes pelo francês Jimmy Vicaut mas nunca superado). No entanto, Obikwelu não se mostra preocupado com o futuro da marca. "Mais cedo ou mais tarde, acabará por cair", diz.

"Até hoje ainda ninguém bateu [o recorde], o que é bom para mim. Mas temos grandes atletas e os recordes são para serem batidos. Foi com esse objetivo que treinei durante tantos anos e outros também treinam a pensar na minha marca. Não vai ser fácil, mas é garantido que vai sempre aparecer alguém [para o bater]. Acho muito bem", defende.

Apenas dois dias depois, Francis Obikwelu iniciava as eliminatórias para os 200 metros. O atleta nascido na Nigéria ainda tentou o pódio, mas na final acabou por não superar o cansaço e ficou no quinto lugar, a 11 centésimos do terceiro lugar.

Recorde a corrida que deu a prata a Obikwelu

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