Cinco meses, seis jogos e um treinador depois, o Benfica voltou a festejar um triunfo na qualidade de anfitrião. Uma das piores séries de resultados da história do clube 'encarnado' chegou ao fim com um triunfo por 3-1 sobre o Boavista, já sem Bruno Lage ao leme da equipa.

Coube Nelson Veríssimo, até há uma semana adjunto de Lage, quebrar a 'malapata' no seu primeiro jogo como treinador principal. O mérito, claro, não será todo seu. O tempo para trabalhar foi, obviamente, pouco e não deu para mudar muita coisa. Mas, o pouco que mudou, resultou.

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No final da partida, entre elogios ao trabalho de Bruno Lage, Nelson Veríssimo disse que a única diferença em relação aos últimos jogos tinha sido "a eficácia". E é verdade que, desta feita, como tantas vezes aconteceu na primeira metade da época - talvez disfarçando exibições menos conseguidas - e como tinha deixado de acontecer nos últimos (13) jogos, o Benfica marcou na primeira real situação de golo que criou. Mas não foi essa a única diferença.

Veríssimo apostou em três mexidas em relação ao 'onze' que tinha perdido, no início da semana, na Madeira, frente ao Marítimo. No centro da defesa regressou Rúben Dias após castigo, mas quem saiu foi Ferro (em claro sub-rendimento nos últimos tempos), ficando Jardel no 'onze' (e o brasileiro conferiu outra segurança). No ataque, Seferovic jogou de início (e aí a falta de pontaria foi a mesma que o suíço vem demonstrando esta época). Mas, no meio-campo, Gabriel regressou à titularidade, e apareceu bem mais solto do que nos outros jogos que havia disputado deste o retomar da competição. E isso também fez (muita) diferença! É que, feitas as contas, o 'camisola 8' esteve nos três golos do Benfica...

O JOGO

Falha de Helton Leite ajudou a afastar fantasmas e abriu caminho ao regresso às vitórias

O Benfica entrou em campo vindo de duas derrotas consecutivas, de cinco jogos seguidos sem ganhar em casa e com apenas duas vitórias somadas nos últimos 13 jogos. Não havia mudanças - nem de treinador, nem de jogadores - que pudessem evitar que as 'águias' entrassem em campo a acusar o peso dessa sequência de resultados e a inevitável falta de confiança que tal acarreta.

Por isso mesmo, os primeiros minutos de jogo pareceram uma réplica daquilo que tinham sido os últimos jogos, com o Boavista a aproveitar para se instalar no meio-campo do Benfica e mandar nos instantes iniciais da partida, ainda que sem conseguir criar perigo.

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Tudo iria mudar, contudo, com um lance, aos 13 minutos. Gabriel apareceu pela primeira vez e encostado ao lado esquerdo, com uma visão de jogo notável, viu André Almeida a fugir no outro flanco. Com um passe fantástico, desmarcou o lateral. O passe, contudo, era longo e Helton Leite - guarda-redes do Boavista que durante a semana tinha voltado a ser apontado como provável reforço do Benfica - chegou primeiro à bola. Só que deixou-a escapar por entre as mãos, esbarrou com André Almeida, que aproveitou para inaugurar o marcador.

Era o tónico de confiança de que o Benfica precisava. A partir daí, seguiu-se meia hora de domínio, oportunidades e golos para os 'encarnados'. Helton Leite foi-se redimindo e evitando o segundo golo como podia, com uma série de grandes defesas, levando sempre a melhor num duelo muito particular com Seferovic, mas não conseguiu evitar que, depois de mais um passe fantástico de Gabriel, Pizzi cabeceasse para o 2-0. Nem que Gabriel passasse de 'assistente' a 'marcador' e fizesse, ele mesmo, o 3-0, à beira do intervalo. Três golos sem resposta ao fim dos primeiros 45 minutos - desde finais de novembro do último ano, numa receção ao Marítimo, que tal não acontecia - e o regresso aos triunfos praticamente garantido.

O Boavista parecia rendido e o Benfica até podia ter dilatado a vantagem no arranque do segundo tempo, mas Helton Leite teimava em redimir-se do erro inicial e quem marcou foi o Boavista, num grande golo de Dulanto. Os 'axadrezados' despertaram e, então, viu-se o Benfica a voltar a tremer. Mas por pouco tempo. Nelson Veríssimo lançou Rafa, Samaris e Vinícius e a turma da casa voltou a tomar conta do jogo. O brasileiro até chegou a marcar mas, por indicação do VAR, o árbitro da partida - outro Veríssimo, no caso Fábio - anulou o golo. Vinícius estava 35 centímetros adiantado. Nada que perigasse o regresso do Benfica às vitórias no primeiro jogo da era 'pós-Lage'.

O MOMENTO

Leite 'mete água' e o Benfica arranca para a vitória

Minuto 13. O Boavista está por cima no jogo e o Benfica ainda não fez qualquer remate. Passe de Gabriel para André Almeida, Helton Leite chega primeiro, mas larga a bola depois de chocar com o jogador encarnado. O defesa encarnado consegue o remate de ângulo apertado e atira par ao fundo da baliza axadrezada. Fábio Veríssimo esperou pelas indicações do VAR e validou o golo. E o jogo mudou por completo...

OS MELHORES

Gabriel fez a diferença no Benfica, Leite limpou a nódoa e evitou goleada

Gabriel esteve em (quase) tudo o que de bom o Benfica fez. Foi dele o fantástico passe para André Almeida, na sequência do qual o lateral direito iria abrir o marcador, foi dele a fantástica assistência para Pizzi no segundo golo e foi mesmo dele o terceiro golo. E foram dos seus pés que saíram quase todas as situações de golo que Seferovic não soube aproveitar.

Helton Leite fica irremediavelmente ligado à derrota do Boavista. É impossível saber-se o que iria ser o resto do jogo, mas o facto é que o jogo mudou por completo com a sua falha, aos 13 minutos. Mas também é um facto que, se a partir daí os 'axadrezados' não saíram goleados da Luz, o devem ao seu guarda-redes. Com uma série de intervenções de grande nível, Helton Leite negou a Seferovic pelo menos três golos, impediu que Pizzi bisasse na partida e não deixou Carlos Vinícius e Chiquinho marcarem.

OS PIORES

Seferovic (mais uma vez) muito perdulário, Marlon Xavier a ver a bola passar

O suíço Seferovic foi uma das três novidades de Nelson Veríssimo no 'onze' do Benfica e a única das três 'apostas' a não corresponder. Por várias vezes surgiu na cara do golo mas, num misto de demérito seu e mérito do guarda-redes contrário, ficou 'em branco', acabando substituído por Carlos Vinícius.

No Boavista, o 'mascarilha' Marlon Xavier ficou mal na fotografia nos dois primeiros golos do Benfica, com a bola a sobrevoá-lo e a chegar a André Almeida - no primeiro golo - e a Pizzi - no segundo - sem que esse conseguisse fazer mais do que correr (sem sucesso) 'atrás do prejuízo' e ver, em desespero, a bola encaminhar-se para o fundo das redes.

As REAÇÕES

Nelson Veríssimo: "Era uma vitória que a equipa já procurava há algum tempo"

Nelson Veríssimo: "A única diferença foi a eficácia"

Gabriel: "O que apresentámos hoje foi o que o mister Lage deixou"

Jardel: "Espero que Bruno Lage tenha uma grande carreira"

Daniel Ramos: "Foi pena ter acontecido aquele primeiro golo sem que o Benfica tivesse feito por o merecer..."

Daniel Ramos: "Perder assim não é desprestígio"

O RESUMO