"E se corre bem?": Esta foi a frase que acabou por marcar a apresentação de Rúben Amorim como treinador do Sporting e, a verdade é que, passados mais de quatro anos, é caso para dizer: Correu bem. Correu tão bem que o gigante Manchester United não pensou noutro nome quando afastou Erik Ten Hag do comando técnico dos red devils.

Nas quatro épocas inteiras que esteve no Sporting, a que se juntam os 11 jogos que comandou os leões em 2019/20 e os 14 jogos desta época, Rúben Amorim conquistou cinco títulos: dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça de Portugal, chegando assim aos seis títulos na curta carreira. O técnico tinha ganho uma Taça a Liga pelo SC Braga.

Ao comando do Sporting, conquistou cinco dos 19 troféus que disputou.

A contratação que deu muito que falar

As imagens da apresentação de Rúben Amorim no Sporting
As imagens da apresentação de Rúben Amorim no Sporting Rúben Amorim foi apresentado oficialmente como treinador do Sporting Créditos: André Kosters/LUSA créditos: LUSA

Ainda com poucas cartas dadas como treinador, ainda sem o nível IV do curso exigido pela Liga, com passagens apenas pelo Casa Pia e pelo SC Braga (equipa B e principal) e o passado como jogador do Benfica deram muito que falar após Jorge Silas ter anunciado que Rúben Amorim era o seu substituto no comando técnico do Sporting.

Com um futuro promissor, ideias novas e um bom futebol que prometia entusiasmar - e que começava a dar cartas no Sporting de Braga -, a verdade é que a chegada de Amorim ao Sporting não deixou ninguém indiferente.

A sua serenidade, aliada à criação de grupos coesos e unidos, quase como se uma extensão do treinador se tratassem, levou a equipa do Sporting de regresso aos patamares mais altos, mas sem nunca se deixar deslumbrar e mantendo o discurso do 'jogo a jogo' presente no quotidiano sportinguista.

A muita expectativa, e alguma desconfiança, criada à sua volta no arranque da temporada de 2020/2021, principalmente pelo grande investimento efetuado depois de ter assumido o comando técnico já na reta final da época 2019/2020, foi tornando-se em certezas jogo após jogo, dispersando rapidamente as críticas ao investimento de 10 milhões de euros e da falta de experiência, uma vez que, demonstrou que "o treinador estagiário pode bater os recordes de quem tem o 4.º nível".

Do título de campeão em 2020/21 a uma época 2022/23 em turbilhão

A festa do Sporting campeão
A festa do Sporting campeão Ruben Amorim após a conquista do campeonato em 2020/21 ANTÓNIO COTRIM/LUSA créditos: © 2021 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A conquista da Taça da Liga, em janeiro de 2021, foi abrindo o apetite aos adeptos e criando as expectativas do que Rúben Amorim e os seus pupilos podiam fazer em meados de maio.

No rescaldo de um período conturbado para o Sporting, a verdade é que Rúben Amorim tornou o pesadelo num sonho, já que 19 anos depois, numa série invicta de 32 jogos, o Marquês de Pombal voltou a pintar-se de verde e branco.

Vindo de uma época de sonho, as expectativas estavam em altas para a possível conquista do bicampeonato, no início da época 2021/22. A conquista da Supertaça e a renovação do título de campeão de inverno davam esperança à massa associativa verde e branca. Contudo, foram seis os pontos que separaram o Sporting do título de bicampeão nacional.

Mas, com a chegada da temporada 2022/2023, o sonho começou a desmoronar-se logo nas primeiras jornadas, com apenas quatro pontos somados... em doze possíveis, o pior arranque de campeonato do Sporting em quase 20 anos. As dúvidas instauraram-se no universo leonino e criou preocupação entre os adeptos.

O ano sem conquistas e o quarto lugar no campeonato, a 13 pontos do campeão, o eterno rival, Benfica, deixou 'mossa' em Alvalade, apesar de Frederico Varandas ter voltado a 'arriscar' e a demonstrar o seu apoio incondicional ao técnico. Rúben Amorim entrava quase num ano de 'tudo ou nada' em que tinha de voltar a provar o porquê de os 10 milhões não passarem... de uns simples trocos.

Um gigante passo para o título de campeão: Gyokeres, os jovens e um balneário 'à prova de bala'

O onze provável do Sporting para o jogo frente ao Vitória SC
O onze provável do Sporting para o jogo frente ao Vitória SC créditos: © 2024 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Desde muito cedo, e muito impulsionado por um 'gigante', Viktor Gyokeres, que se percebeu que a temporada 2023/24 em nada seria igual a 2022/2023. O Sporting partiu de primeiro e praticamente quase nunca largou a liderança até ter o troféu bem seguro e em tons de verde e branco.

Numa temporada marcada mais por mais altos do que baixos, a liderança de Rúben Amorim voltou a ser chave, à semelhança da época 2020/2021. Sem 'lançar os foguetes' antes da festa, o técnico conseguiu manter um balneário coeso, algo que já é seu apanágio, e que viu no técnico a pessoa que retirava 'o peso dos ombros' dos jogadores que só tinham de jogar e... ganhar.

Num plantel, mais uma vez jovem (com uma média de 25 anos), com nomes como Gonçalo Inácio, Ousmane Diomandé, Eduardo Quaresma, Daniel Bragança, Francisco Trincão ou Geny Catamo, aliados aos experientes Adán (apesar da lesão), Luís Neto, com uma grande importância fora das quatro linhas e, claro, Sebastián Coates, o capitão que voltou a ganhar uma importância, que outrora - antes de Rúben Amorim - não tinha.

É inegável que 'o' jogador do título foi Viktor Gyokeres, mas em muito se deve à confiança que Rúben Amorim deu ao sueco, mas sem nunca desmotivar jogadores como Paulinho que viu os seus minutos a serem bastante reduzidos, em relação a temporadas anteriores.

A verdade é que o balneário foi a primeira grande conquista de Rúben Amorim, ainda muito antes de haver um título de campeão para festejar.

O estilo de jogo de Amorim que gera a cobiça dos tubarões

Sporting CP vs Young Boys
Sporting CP vs Young Boys créditos: epa11173351

"Se não ganharmos títulos, vou sair do Sporting": Foi a única garantia que Rúben Amorim deu sobre o seu futuro.

Mas, com o campeonato 'no bolso', a falta de títulos já não impedia a continuação do técnico em Alvalade. A cobiça dos tubarões europeus começou a pairar no ar ainda antes do fim da época 2023/24, ameaçando a continuação do obreiro do título de campeão nacional do Sporting na época passada.

O estilo de futebol de Amorim, com pressão alta, com muita posse de bola e, claro, com um faro de golo acima da média quer em ataque ou contra-ataque, são algumas das caraterísticas que colocaram Rúben Amorim no radar de grandes clubes europeus, como foi o caso do Liverpool. O técnico foi muito falado para o lugar de Jurgen Klopp, mas a escolha recaiu em Arne Slot. Também se falou no português para o cargo de treinador principal do Chelsea, mas os blues apostaram em Enzo Maresca, técnico campeão do Championship com o Leicester.

Atuando num  3-4-3, os laterais acabam por ter uma maior liberdade no ataque, o que ajuda, principalmente, no contra-ataque felino dos verdes e brancos e na facilidade, através de passes rápidos, em que chegam à baliza do adversário.

Mas, o sucesso de Rúben Amorim não se mediu apenas dentro das quatro linhas,  mas também com um grande historial de aposta em jogadores que agora dão frutos nos principais campeonatos europeus, como é o exemplo da Premier League.

A aposta em nomes como João Palhinha, Matheus Nunes ou Pedro Porro mostram o intuito certeiro de Amorim que dá frutos não só dentro de campo, mas também fora dele.

Em Inglaterra o treinador de 39 anos terá a missão de reerguer o gigante Manchester United, um clube caído em desgraça desde a saída de Alex Ferguson. Muitos foram os treinadores que por lá passaram nos últimos anos, incluindo José Mourinho, que conseguiu uma Liga Europa e um segundo lugar, mas nenhum deles tem ficado mais do que dois anos.

Amorim terá a missão de resgatar o balneário, formar uma equipa e lutar em todos os jogos para terminar nos lugares europeus esta época. Em Manchester, terá de se superar no campeonato mais competitivo do Mundo.