Para substituir Artur Jorge, o SC Braga escolheu Daniel Sousa, o técnico revelação da Liga Portugal 2023/2024.

Depois de mais de 10 anos a desempenhar as funções de analista e de treinador adjunto de André Villas-Boas, assumiu o Gil Vicente na época transata tendo conseguido 10 vitórias em 25 jogos. Um trabalho que se pode considerar positivo, mas foi este ano que se tornou, podemos dizer, o técnico revelação da Liga.

Com 10 vitórias em 18 jogos nesta época e uma média pontual no campeonato de cerca de 65% dos pontos conquistados, podemos dizer que superou as expectativas num Arouca que se tem revelado a equipa sensação, principalmente depois de um início de época difícil onde se encontrava em último lugar.

Mas afinal quais as caraterísticas deste Arouca?

1-Pressupostos: Variabilidade e dinâmica no momento ofensivo

Uma imagem clara do Arouca de Daniel Sousa é a intenção de dominar jogo e apresentar um futebol ofensivo, top-5 em golos marcados na Liga (45 golos marcados) e em posse de bola, apenas atrás de Sporting, Benfica, FC Porto e Braga.

Partindo de um 4-2-3-1 apresenta alguma variabilidade no momento ofensivo.

Começando numa construção com os laterais relativamente baixos: em função do lado da bola, um defesa-lateral baixa para junto dos defesas centrais e o outro garante largura no lado contrário mas raramente em profundidade máxima.

Apresentam depois várias referências por dentro: dois médios centros, um '10' e o extremo do lado contrário da bola, deixando o ponta-de-lança como referência à profundidade e o extremo do lado da bola em largura.

Exemplo do momento ofensivo do Arouca – Se um lateral estiver mais baixo, extremo desse lado abre para dar largura.
Exemplo do momento ofensivo do Arouca – Se um lateral estiver mais baixo, extremo desse lado abre para dar largura.
Imagem 1: Exemplo do momento ofensivo do Arouca – Se um lateral estiver mais baixo, extremo desse lado abre para dar largura.

Por vezes alternam ainda numa construção 2+2, colocando mais uma referência por dentro e com os dois laterais na mesma profundidade da linha dos médios. Esta variabilidade permite-lhes arranjar soluções perante diferentes formas de pressão do adversário e, por isso, ser uma equipa que mantem muita bola na sua posse, conseguindo desbloquear várias estruturas defensivas.

xemplo de momento ofensivo do Arouca – Bola descoberta nos médios, largura garantida pelos laterais e aumentam as referências para jogo interior.
xemplo de momento ofensivo do Arouca – Bola descoberta nos médios, largura garantida pelos laterais e aumentam as referências para jogo interior.
Imagem 2: Exemplo de momento ofensivo do Arouca – Bola descoberta nos médios, largura garantida pelos laterais e aumentam as referências para jogo interior.

Esta variabilidade na construção faz com que as referências de equilíbrios ofensivos não estejam tão bem assimiladas, aliado ao facto de ser a equipa da liga com menos percentagem de duelos defensivos ganhos (segundo Wyscout) e uma equipa pouco faltosa (6.ª menos faltosa do campeonato), fazem da transição defensiva o ponto fraco da equipa de Daniel Sousa, o que contribui para ser apenas a 10.ª melhor defesa da competição.

2-Misto de Experiência com Juventude e o 'selo de qualidade'

O Arouca é das equipas que menos portugueses tem, contudo há que reconhecer a qualidade do plantel e o facto de terem contratado jogadores com 'pedigree' de clubes reconhecidos internacionalmente. O guarda-redes Arruabarrena é um dos pilares da equipa, oferecendo garantias na baliza. Nas últimas épocas tem-se revelado um dos guarda-redes mais regulares da liga.

Passando depois para a defesa, a experiência do polivalente Tiago Esgaio (Top-3 nos jogadores com mais % duelos aéreos ganhos segundo Wyscout) e do central Galovic (Top-11 nos jogadores com mais % duelos defensivos ganhos segundo o Wyscout) contrasta com a juventude do lateral Weverson Costa, formado no Red Bull Bragantino e do central canhoto Javi Montero, formado no Atlético Madrid e com passagens por Deportivo, Besiktas e Hamburgo.

No meio-campo, grande época que tem feito David Simão, que dispensa apresentações. O capitão do Arouca faz parte de um lote de jogadores portugueses que não tiveram o privilégio de terem subido ao patamar de seniores com equipas 'B' nos clubes grandes e acabaram por fazer um trajeto alternativo.

Talvez a sua carreira pudesse ter tido ainda outro brilho. Leitura de jogo acima da média, alterna por momentos em que vem buscar a bola aos centrais (num habitual 3+1) e inicia a construção com momentos que se posiciona dentro do bloco adversário, onde consegue, com a sua capacidade técnica, decidir e executar rápido, tendo ao seu lado Pedro Santos e a 'armada espanhola' como os parceiros ideais para partilhar esta capacidade de jogo em posse.

Kouassi é um médio de caraterísticas diferentes. Utilizado quando existe a necessidade de acrescentar capacidade física no meio, ou até explorar mais variações em passe longo, acaba por compensar qualquer um dos outros médios nas caraterísticas. Com passagens pelo Celtic, Genk e Krasnodar, tem vindo a ser um jogador de extrema utilidade.

David Simão
Imagem 3: Segundo as estatísticas do Wyscout, David Simão, pensador do jogo do Arouca é o 5º jogador do campeonato com mais passos para o terço final do campo.

3-Os criativos Jason e Cristo aliados à objetividade de Mujica e Sylla

Nesta equipa, salta à vista a qualidade de dois criativos: Jason, formado no Deportivo e no Levante, ambos de Espanha e com o 'selo de qualidade' de ter feito 21 jogos pelo Valência em 2020/2021, e Cristo González, jogador formado no Real Madrid (onde se estreou na equipa principal) são os principais criadores no último terço.

Jogadores com uma capacidade de decisão elevada, Cristo (4.º melhor assistente da liga só atrás de Rafa, Pote, Gyokeres e Neres) apresenta uma capacidade de definir em pouco espaço como poucos, o que faz dele um jogador determinante no último terço.

Aproxima-se diversas vezes de Mujica e com um registo de 15 golos e 8 assistências esta época. Por sua vez, Jason, descai mais sobre o corredor direito, mas é também um jogador determinante na dinâmica imposta por Daniel Sousa ao procurar ao vir para dentro e funcionar muitas vezes como 4.º ou 5.º médio, confundindo as estruturas defensivas adversárias, tendo já contribuído com sete golos e três assistências.

De forma a complementar os criativos, normalmente Daniel Sousa acrescenta Sylla, um jogador com uma disponibilidade física tremenda que alia boa qualidade técnica para aparecer entre linhas mas também 'romper' em movimentos verticais entrando na área para criar desequilíbrios nas estruturas adversárias.

Sylla, sendo um jogador versátil, capaz de jogar em diferentes zonas do campo, permite que seja um bom aliado dos outros médios mais ofensivos do Arouca, aparecendo diversas vezes em zonas interiores, podendo trocar de posição com Cristo ou até mesmo Jason.

Por fim, Mujica, avançado formado no Barcelona e 3.º marcador da liga. Mais um exemplo dos bons pontas-de-lança da nossa liga. Avançado completo com boa capacidade técnica e muito inteligente nas movimentações, mas que não sendo um portento físico, apresenta uma capacidade de trabalho assinalável.

Rafa Mujica e Cristo Gonzalez festejam golo do Arouca
Rafa Mujica e Cristo Gonzalez festejam golo do Arouca créditos: ESTELA SILVA
Rafa Mujica e Cristo González tem sido os homens mais ofensivos do Arouca.