Em 23 de abril de 2019 uma notícia começava a correr pelos corredores de São Januário, o estádio do Vasco da Gama: o clube procurava Jorge Jesus para assumir a equipa após a demissão do então técnico Alberto Valentim. Nada mais lógico que o clube mais português do Brasil buscar uma opção lusitana, o que certamente seria do agrado de todos os vascaínos. Semanas mais tarde, JJ era visto em Belo Horizonte a acompanhar um jogo do Atlético Mineiro, outro gigante do futebol brasileiro em crise de resultados na temporada. Mas o desfecho seria o mais surpreendente de todos, o mister decidiu-se pelo Flamengo, que horas antes do anúncio do treinador português havia demitido Abel Braga, técnico com ligação à vários clubes portugueses, e que não estava a fazer o que parecia simples, fazer o Flamengo jogar à altura dos craques contratados para o ano.

Eis que em 1 de junho, menos de dois meses de namoro com o futebol brasileiro, Jesus era anunciado como novo treinador de uma equipa que estava em ebulição. Imprensa e adeptos a questionarem se este homem sexagenário, de esvoaçantes cabelos grisalhos e enérgicos gestos à beira do relvado, conhecia as dificuldades locais para triunfar na América do Sul, e
logo com o Flamengo. Após semanas de intensos treinamentos com a pausa do futebol local na Copa América de seleções, JJ teria uma primeira grande dificuldade, a eliminação em casa para o Athletico Paranaense nos oitavos de final da Copa do Brasil. Na semana seguinte, uma estrondosa derrota para o Emelec, do Equador, na primeira mão dos oitavos da Taça Libertadores. A aventura brasileira de Jesus parecia ser tão breve como a de Paulo Bento, que ficou menos de dois meses no Cruzeiro em 2016.

Mas o Flamengo começou a ganhar forma e a engrenar, com vitórias seguidas, exibições de encher os olhos do mais desconfiado adepto, e após tomar a liderança do Brasileirão, a missão era ao mesmo tempo manter-se no topo da classificação e avançar de fase na competição continental. E o Flamengo triturou os adversários tanto na liga nacional quanto na competição internacional, e chocou a opinião pública após o massacre por 5-0 frente ao Grêmio nas meias de final da Libertadores. Ali, os mais críticos e cismados com o trabalho do técnico português começaram a perceber que o que estavam a ver iria entrar para a história do futebol brasileiro.

Eis que num 23 de novembro, mesma data da primeira conquista continental do Flamengo, no distante ano de 1981, Jorge Jesus conduziu os rubro-negros em sua segunda taça dos Libertadores, após uma épica reviravolta nos minutos finais contra o River Plate, a recordar a dramática final da Liga dos Campeões de 20 anos atrás, entre Manchester United e Bayern de Munique. E no dia seguinte, após nova derrota do Palmeiras, a equipa carioca sagrava-se campeã nacional, dez anos após o último título do Brasileirão. Agora já não há uma única opinião contrária ao trabalho de Jesus, que passou a ser aclamado a cada jogo no mítico Maracanã aos gritos de ‘’olé, olé, olé, mister, mister!”. Jorge Jesus veio, viu e conquistou, tal como dissera o imperador romano Júlio César. O treinador português, após as retumbantes conquistas no fim de semana mais vitorioso de sempre da história do Flamengo, foi agraciado com o título de cidadão carioca pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

E com a festa da entrega da taça do Brasileirão com quatro jornadas de antecipação, um Maracanã abarrotado, com mais de 65 mil adeptos, viu o Flamengo golear o frágil Ceará por 4-1 e a quebrar mais um recorde no histórico do Campeonato Brasileiro, o de maior número de pontos, com 84, superando a campanha do Corinthians em 2015, que havia terminado o ano com 81. Outra marca foi igualada pelo Flamengo versão JJ: o de golos marcados no campeonato, com 77, igualando o Cruzeiro de 2013. Com mais três jornadas para o fim do Brasileirão’2019, o Flamengo deve pulverizar todas as marcas para ganhar de vez a História.

Daqui algumas semanas, outra vez os rubro-negros ver-se-ão a olhar para o passado e a questionarem se o feito daquele Flamengo de 1981, campeão mundial sobre o Liverpool por 3- 0, pode repetir-se. O Flamengo entrará já nas meias de final do Mundial de Clubes, a ser realizado no Qatar, onde irá enfrentar ou o Espérance, da Tunísia, campeão africano, ou o Al-Hilal, da Arábia Saudita, campeão da Ásia e precisamente o último clube de Jesus antes da vinda do mister ao Brasil. Caso passe para a final, tal como em 1981, o provável adversário do Flamengo será o Liverpool. E se mais uma vez a equipa carioca sagrar-se campeã mundial, Jorge Jesus deve ser mesmo eternizado com um busto ou uma estátua em tamanho real em frente ao Maracanã. É a História a ser reescrita no clube mais emblemático do futebol
brasileiro e pelas mãos de um português.

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