O dia de hoje é tranquilo. O objetivo é apenas chegar a Barcelona, embarcar e passar um resto de dia descansado no barco que nos leva para Tanger. Entretanto aproveito para vos pôr a par deste rali tão especial. Já vos falei das verificações e da partida mas ainda não expliquei o que este rali tem de tão particular que o distingue de todos os outros.

Em primeiro lugar não é um rali de velocidade mas sim de navegação. Embora por vezes tenhamos que nos despachar e acelerar um pouco, não é esse o objetivo. Acima de tudo, é preciso encontrar o caminho e chegar ao objetivo usando a linha mais reta possível. Ou seja, a organização traça-nos um percurso e dá-nos as coordenadas geográficas de alguns pontos os quais temos de marcar na carta apenas com a ajuda do lápis e da régua. Depois temos de encontrar esses pontos no terreno e a progressão é feita apenas com o recurso à bússola e nada mais. Entre os vários pontos por onde temos obrigatoriamente que passar há que percorrer a linha mais reta pois ganha a equipa que fizer menos quilómetros. Ora aqui está um assunto sério! Não temos de saber andar depressa mas temos de saber passar sobre todo o tipo de terreno. Toda a técnica de condução é pouca para nos ajudar a transpor os obstáculos sem ficarmos encravadas e sem estragar o carro... Pois o rali tem seis etapas!

Ora, pensando um pouco, seguramente se darão conta de que o difícil não é exatamente executar a linha reta mas sim a tomada de decisão. Este é o ponto forte do rali e o que acaba por fazer a diferença. Olhar para o mapa, ou melhor, para a fotocópia de mapa a preto e branco, e decidir se a vinte ou trinta quilómetros de distância, aquela montanha ou aquele oued são ou não transponíveis...não é tarefa fácil! Um erro de cálculo ou uma má inspiração e lá vai todo o trabalho por água abaixo.

Uma outra particularidade deste rali é o facto de serem admitidas apenas equipas femininas. E não é por acaso. Para o desempenhar com qualidade é preciso paciência, minúcia, persistência... Uma boa forma de associar algumas qualidades femininas ao desporto motorizado.

Um outro aspeto que é importante destacar é que cada equipa tem de ser autónoma. Não podemos receber ajuda de ninguém e não há recurso à tecnologia, ou seja, nada de telefones, computadores, GPS...

São nove dias de solidão no deserto em busca da linha reta para o próximo ponto.