O antigo piloto austríaco Niki Lauda, tricampeão mundial de Fórmula 1, morreu esta segunda-feira aos 70 anos, anunciou a família.

"É com enorme tristeza que anunciamos que o nosso querido Niki morreu em paz, rodeado pela sua família, esta segunda-feira", lê-se num comunicado.

O ex-piloto tinha sido submetido a um transplante pulmonar no verão passado.

"As suas realizações únicas como desportista e como empresário são e serão sempre inesquecíveis. O seu dinamismo inesgotável, a sua integridade e a sua coragem serão um modelo e uma referência para todos nós", recordou a família.

Niki Lauda foi campeão do Mundo em 1975, 1977 e 1984, tendo vencido 25 grandes prémios dos 177 que disputou, atingido por 52 vezes o pódio e garantindo 24 'pole positions'.

Competiu na Fórmula 1 entre 1971 e 1979 e depois entre 1982 e 1985. Foi campeão pela Ferrari e pela McLaren, mas competiu ainda pela March, BRM e Brabham.

Andreas Nikolaus Lauda estreou-se na Fórmula 1 em 1971, no país natal, pela equipa March. O primeiro título na categoria aconteceu em 1975.

O acidente que quase o matou no Grande Prémio da Alemanha

Em 1976, um dos marcos da sua carreira, quando um grave acidente no Grande Prémio da Alemanha, no circuito de Nürburgring, quase o matou. O Ferrari que conduzia incendiou-se minutos depois e o piloto austríaco ficou preso dentro do monolugar.

Vários pilotos ajudaram-no a sair do carro, sem evitar graves queimaduras na cabeça e nos braços, além de inalar gases tóxicos. Estava consciente e chegou a andar, mas minutos depois entrou em coma.

Lauda ficou sem boa parte do cabelo, perdeu a orelha esquerda, as sobrancelhas, pestanas e pálpebras, mas a sua vontade de competir era tal, que voltou às provas apenas seis semanas depois, perdendo dois grandes prémios e permitindo a aproximação de James Hunt.

Durante esta temporada, lutou pelo título até à última corrida com o britânico James Hunt, que finalmente conquistou o título. Este épico confronto, revelador do caráter excepcional do piloto austríaco, é mostrado no filme "Rush" (2013), do norte-americano Ron Howard.

Considerado como um piloto cauteloso e calculista, o austríaco perderia o mundial desse ano pelo facto de, na última prova, no Japão, ter abandonado a corrida ao fim da primeira volta, conforme acordado -- mas não cumprido -- por todos os pilotos, face às adversas condições climatéricas que não permitiam que estivessem asseguradas condições de segurança.

"A minha vida vale mais do que um campeonato", justificou, antes de saber, já no aeroporto, o desfecho do mundial, sendo que apenas precisava de ficar à frente de James Hunt para conquistar o título que recuperaria na época seguinte.

O homem do boné, que sempre usava para esconder as cicatrizes na cabeça, tornou-se diretor da escuderia Merc

Em 1977, manteve a regularidade e conquistou o segundo título mundial, com a Ferrari. Dois anos depois, abandonou as corridas. Mas o então bicampeão não ficou muito tempo longe das pistas. Em 1981, assinou com a McLaren, equipa pela qual veio a conquistar o tricampeonato em 1984. Despediu-se definitivamente da F1 no ano seguinte.

Lauda, que marcou a história da F1 pela meticulosidade na preparação e empenho nas pistas, continuou a ser ouvido por todos.

A sua breve saída da Fórmula 1 em 1979 foi provocada pela segunda paixão de Lauda, a aviação civil. Pioneiro do charter privado, criou a Lauda Air, que em 2002 vendeu à Austrian Airlines.

Em 2004, criou a muito rentável companhia aérea de baixo custo Niki, que vendeu em 2011 à Air Berlin.

Como empresário, Niki Lauda também viveu um drama, quando em 26 de maio de 1991 um Boeing 767 da Lauda Air que realizava o voo Banguecoque-Viena caiu com 223 pessoas a bordo devido a uma falha estrutural. Não houve sobreviventes.

Nascido a 22 de fevereiro de 1949 numa família da burguesia comercial de Viena, Andreas Nikolaus Lauda teve quatro filhos em dois casamentos.

Quando tinha menos de 20 anos, em 1968, disputou com um Mini Cooper que tinha recebido da avó a sua primeira corrida, sem avisar os pais.

Os gases tóxicos que inalou durante o acidente em 1976 debilitaram o seu organismo. Após dois transplantes de rim em 1997 e 2005, foi submetido a um transplante pulmonar de extrema urgência em agosto de 2018, após contrair um vírus durante viagem a Ibiza.

Foi operado no Hospital Geral de Viena um dia após o aniversário do seu acidente, e a recuperação foi complicada.

"É duro regressar, mas não se compara com as minhas queimaduras após o acidente de Nürburgring", disse ao jornal suíço Blick. "Morri brevemente e ressuscitei".

No início deste ano, teve uma gripe forte e ficou internado durante dez dias num hospital, após ter febre alta durante as festas de fim de ano.