A 7 de novembro, a Baja de Portalegre consagrou Miguel Barbosa (Toyota Hilux) como campeão nacional, título que conquistou pela oitava vez, depois de ter sido confirmada a anulação da Baja de Idanha a Nova. No ano em que regressou ao todo-o-terreno, o piloto português cumpriu assim o objetivo de vencer mais um troféu para juntar aos sete que conquistou desde que se estreou na disciplina em 1999.

Apesar de admitir que este foi um ano atípico e que a Baja de Portalegre não correu como esperado, Miguel Barbosa garante que a temporada correspondeu às expetativas.

"Infelizmente a prova não nos correu de feição, mas fomos automaticamente campeões mal começámos a prova, visto que a pontuação que já dispúnhamos das provas anteriores foi suficiente para garantirmos essa vitória, assim como a anulação da Baja de Idanha, que era mais uma hipótese que nós teríamos face aos nossos concorrentes. Foi uma Baja que não nos correu de feição porque queríamos lutar pela vitória na prova, mas em termos de campeonato fico satisfeito porque cumprimos o objetivo de sermos campeões nacionais", começou por referir Miguel Barbosa em entrevista ao SAPO Desporto.

O vencedor da Baja de Portalegre acabou por ser piloto holandês Bernhard Ten Brinke (Toyota Hilux Overdrive), que venceu pela primeira vez a mais emblemática prova portuguesa de todo-o-terreno. No entanto, a Baja de Portalegre não foi fácil para ninguém, como explicou Miguel Barbosa.

"Foi uma prova difícil. Muita água, muita lama e uma tempestade muito grande. Acho que ninguém estava à espera. O tempo estava muito instável. Foi difícil porque a meteorologia estava sempre a mudar e choveu bastante, o que complicou a tarefa a todos: organização, pilotos e equipa", recordou.

Mesmo com todas as dificuldades passadas na prova alentejana, Miguel Barbosa sagrou-se campeão assim que a prova arrancou e tudo devido ao cancelamento da Baja de Idanha. "Por questões de regulamento, quanto cai uma prova tudo o que nomeámos e provas a descontar, etc, diminuem uma prova. Como até aqui, apesar de termos menos uma prova que os nossos concorrentes, já estávamos na frente do campeonato, ou seja, estávamos em primeiro lugar com mais pontos que todos os outros, automaticamente podíamos ir buscar zero pontos em Portalegre", esclareceu o piloto da Toyota.

"Acho que a federação e os clubes fizeram um esforço grande para manter o campeonato de pé e o regulamento já previa que o campeonato se pudesse disputar apenas com quatro provas e foi isso que aconteceu. No fim de tudo temos de estar satisfeitos porque foi possível ter um campeonato com justiça e dignidade, o mais importante é que a modalidade se manteve viva neste ano complicado", frisou ainda.

Mais um para a prateleira... onde já estavam sete

Com apenas 15 anos, Miguel Barbosa despertou um interesse nos karts. Daí até passar para o automobilismo foi apenas um passo. Oriundo de uma família muito ligada ao desporto motorizado, o piloto chegou à disciplina de todo-o-terreno em 1999.

A primeira conquista do campeonato nacional da disciplina aconteceu em 2005 e, a partir daí foi sempre a subir. Miguel Barbosa voltou a arrecadar o troféu em 2006, 2007, 2011, 2012, 2013 e 2015. Mesmo assim, e apesar de um palmarés de fazer inveja, o piloto português garante que não são os títulos que o movem.

"Eu não sou obcecado pelos títulos, mas sou obcecado por fazer melhor a cada prova e por me superar. Tenho tido uma excelente equipa comigo ao longo destes anos todos. Todos trabalhamos arduamente, portanto chegar ao final do ano e ver esse trabalho ser recompensado com a conquista do oitavo título é muito gratificante. O título não é o nosso foco, não é isso que nos motiva, mas obviamente que chegar ao fim e ter essa recompensa é muito gratificante", admitiu.

Assim, Miguel Barbosa revelou que é a evolução que o leva a continuar na modalidade. "Há sempre margem para melhorar. Nós estamos em constante aprendizagem e evolução. No momento em que deixarmos de pensar assim vamos começar a andar para trás. É essa a mentalidade que eu acho que devemos ter e é isso que nos tem feito conquistar tanta coisa, tantas provas e títulos. Acho que tudo é fruto da nossa postura, humildade e do nosso trabalho. É essa humildade que vamos manter nos projetos que aí vêm", prometeu o piloto.

Miguel Barbosa: A vitória do campeonato nacional de TT em imagens
Miguel Barbosa na Baja ACP créditos: DR

A importância de Pedro Velosa

Como o próprio Miguel faz questão de referir, ninguém vence um campeonato sozinho, seja em que modalidade for, e o desporto automóvel não é exceção. No 'banco do pendura', o piloto português tem sido a companhia de Pedro Velosa, o co-piloto por trás (ou ao lado) de todas as conquistas.

"O co-piloto é uma peça fundamental. Acaba por ser uma figura menos visível, mas é uma figura que tem uma preponderância enorme. O co-piloto tem diversas funções e é uma peça chave dentro de um automóvel de competição numa disciplina como o todo-o-terreno. Além de ser um amigo de longa data, já conquistámos o campeonato em 2012 juntos, o Pedro é um excelente profissional e é fundamental para o sucesso deste projeto", salientou.

"Sozinho ninguém faz nada, mas com uma grande equipa fazem-se muitas coisas e é possível alcançar grandes objetivos"

Além de 'dividir os louros' com o companheiro, Miguel Barbosa deu ainda destaque ao trabalho difícil do número 2 ao explicar que, antes de uma prova, todos têm de fazer uma preparação grande baseada naquilo que aconteceu nos anos anteriores para perceber qual vai ser o tipo de prova e preparar os roadbooks. Mesmo no dia da prova há toda uma preparação quando se recebe os roadbooks. Há uma série de coisas que são feitas pelo Pedro. Dentro do carro o que é importante na qualidade de co-piloto é a interpretação do roadbook, a interpretação do que vai encontrando e como nada é fixo há sempre muitas variáveis durante a corrida que são geridas pelo Pedro. É um trabalho muito difícil com um ritmo muito elevado. Ele tem de se adaptar a isso tudo para me transmitir confiança para podermos atacar o máximo possível. Há aqui uma confiança mútua, que é o mais importante."

Miguel Barbosa admitiu mesmo que as suas conquistas se devem ao facto de "ter uma fantástica equipa e estar rodeado das pessoas certas. Sozinho ninguém faz nada, mas com uma grande equipa fazem-se muitas coisas e é possível alcançar grandes objetivos."

Regressar a casa

Além do todo-o-terreno, Miguel Barbosa já passou pelo campeonato de velocidade e pelos ralis. Este ano voltou ao todo-o-terreno e explicou que é como voltar a casa.

"Foi bom regressar, já tinha muitas saudades desta disciplina que foi onde eu passei a maior parte da minha carreira. Foi bom regressar, é uma disciplina que eu gosto muito, é terra que é o piso com o qual eu mais me identifico. É onde eu me sinto realmente à vontade por isso foi bom voltar", admitiu.

Apesar do gosto pelo desporto automóvel no geral, Miguel Barbosa revelou que o TT é "a disciplina preferida de longe. Obviamente que todas as disciplinas têm coisas positivas e como já fiz várias consigo ir buscar algo a cada uma delas, o que é uma mais-valia. Agora em termos daquilo que me dá mais gozo, eu escolheria em primeiro o todo-o-terreno e depois ralis em pisos de terra."

E, agora que voltou a casa, o piloto português não pretende sair. "Acho que voltámos a casa e agora a ideia é continuar aqui. Não sei em que moldes ainda, porque as coisas estão um bocado atrasadas este ano por causa da pandemia. Ainda não temos o projeto definido para 2021, mas acho que temos de pensar no que aí vem e em ter um projeto credível novamente. Foi o oitavo título, por isso acho que é altura de começar a pensar noutros voos. Sempre fomos pessoas que gostámos de desafios por isso acho que está na altura de procurar novos desafios", esclareceu.

Miguel Barbosa: A vitória do campeonato nacional de TT em imagens
Miguel Barbosa na Baja Portalegre créditos: DR

Esses voos, embora ainda indefinidos, podem acontecer fora de Portugal, como o próprio explica. "No estrangeiro temos pouca presença. Apesar de termos feito três vezes o Dakar sentimos que foi algo que ficou a meio, que ainda havia muito por fazer. Gostávamos de fazer provas lá fora também. Mas tudo depende dos patrocinadores e do que vai ser o calendário do ano que vem, que ainda não saiu e que vai ser preponderante na nossa decisão. A chave para tudo vai ser a estratégia que vamos delinear com os nossos patrocinadores, que para nós é o mais importante."

Mas primeiro vêm as negociações. "Neste momento estamos a negociar com os patrocinadores o que será a próxima época. O primeiro passo é garantir o apoio dos nossos patrocinadores e pôr de pé um projeto interessante, estruturado e que dê retorno. Temos de perceber o que vai ser 2021 em termos de calendário e o que vai ser o início do ano em termos pandémicos. Há muitas variáveis, o que tem atrasado todas as decisões, mas temos de trabalhar com essas variáveis e ter opções para no momento certo sabermos escolher", remata.

O balanço e o futuro

Mesmo num ano com vários contrariedades, onde a pandemia de coronavírus trocou as voltas a todos, Miguel Barbosa admite que o ano foi bem sucedido. Apesar das dificuldades, os pilotos regressaram ao terreno e, para o piloto, isso é o mais importante.

"Acho que este é um ano atípico, em todos os setores da sociedade, tanto em termos económicos como sociais e desportivos. É um ano onde é difícil encontrar alguma normalidade. Mas podemos dizer que correspondeu às expetativas porque pudemos ter provas e um campeonato. O facto de o desporto automóvel ser classificado como um desporto de baixo risco pela DGS foi excelente, porque foi dos primeiros desportos a realizar-se. Foi muito bom para a modalidade e para os nossos patrocinadores", menciona.

"Dentro de tudo o que se viveu e se continua a viver, o desporto automóvel conseguiu manter-se de uma forma saudável e justa. Acho que isto é o mais importante para a sobrevivência do desporto nesta altura crítica. Tudo isto deixou-nos muito confiantes, fruto do trabalho da federação, clubes, pilotos e equipas, que cumpriram todas as regras e planos de contingência. Estamos todos de parabéns por isso porque fez com que houvesse muitas corridas e campeonatos ao longo do ano", realça também o piloto.

"Conseguimos manter a modalidade viva e provámos mais uma vez que o desporto automóvel é muito importante em Portugal"

Apesar do regresso ao terreno, tudo estava diferente. Apesar da velocidade, da terra, da competição, as coisas já não eram como antes. Como explica o próprio.

"Tudo mudou no mundo por isso o desporto não foi exceção. Uma das principais mudanças foi, por exemplo, o facto de não haver público em Portalegre. Foi uma contingência necessária para a realização da prova. No geral cumprimos uma série de restrições como o facto das zonas de assistência estarem vedadas ao público, só as pessoas estritamente necessárias é que podiam estar lá dentro. Mas faz tudo parte da situação atual e são coisas que temos de aceitar porque é para o bem comum e acho que temos de estar muito satisfeitos pelo facto de o nosso desporto estar a andar. Houve provas que caíram em diversas modalidades, o todo-o-terreno não foi caso único."

Mas antes do regresso houve ainda a paragem, que se revelou difícil. "No início foi um bocado estranho. Estivemos parados muito tempo por isso sentimo-nos um bocadinho perdidos ao início. Mas estávamos com muita motivação para voltar. Naquela altura seriamente pensei que íamos ter um ano catastrófico, equacionei mesmo a possibilidade de não se disputarem mais corridas. Mesmo assim fisicamente tentámos manter-nos bem para que, assim que houvesse oportunidade de retomar as corridas, estarmos numa forma aceitável e que desse para corrermos. Obviamente que depois de estarmos parados tanto tempo tivemos um período de adaptação, como aconteceu com todos. Impactou mais uns que outros, mas correu tudo bem e estivemos bem de saúde, que foi o mais importante. Quando regressámos estávamos preparados, apesar de estar a fazer corridas consecutivamente nos dar outro ritmo e outro nível de forma", explica.

Além de todas as dificuldades, todas as dúvidas e todos os entraves, o campeonato nacional de todo-o-terreno disputou-se, Miguel Barbosa venceu e, por isso mesmo, o piloto faz um balanço "super positivo" do ano. "Fomos campeões, cumprimos os objetivos e conseguimos ter um campeonato dentro do possível. Houve justiça desportiva e foram dadas as mesmas condições a todos os concorrentes. Conseguimos dar retorno aos nossos patrocinadores, porque quando ainda estava tudo restrito o desporto automóvel já se podia praticar e divulgar, por isso acabámos por ter uma boa exposição. Conseguimos manter a modalidade viva e provámos mais uma vez que o desporto automóvel é muito importante em Portugal", termina.

Com todas as incertezas que o futuro guarda para o desporto automóvel e para todas as modalidades, Miguel Barbosa promete voltar no próximo ano. Pelas vitórias, pela evolução e pelo desporto automóvel em Portugal.

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