A Direção de Medicina Desportiva do Comité Olímpico de Portugal (COP) emitiu hoje um documento, intitulado “Superar o Calor de Tóquio”, um manual com informações e conselhos para os atletas que vão participar nos Jogos Tóquio2020.

Numa nota de apresentação do texto, publicada no sítio ‘online’ do COP, pode ler-se que as condições severas de temperatura e humidade para a prova, de 24 de julho a 09 de agosto do próximo ano, terão “grande probabilidade” de se configurarem como “sem paralelo na história dos Jogos Olímpicos”.

Mesmo que a temperatura máxima para aquelas datas ronde os 28 graus, a combinação de um tempo de verão “com valores de humidade acima dos 75%, por vezes 90%” apresentam um desafio diferente aos atletas.

Assim, o documento incide sobretudo sobre a questão da hidratação dos atletas nos vários contextos associados à participação na prova olímpica, desde a viagem aos momentos de treino, alimentação e competição.

Assinado pelo diretor de medicina desportiva do COP, José Gomes Pereira, e por Cláudia Sofia Minderico, do serviço de nutrição, o documento menciona como essencial a “aplicação de estratégias que permitam uma ótima hidratação de forma a preservar o desempenho cognitivo, otimizar o rendimento desportivo e garantir a saúde”.

Além da esperada competição e preparação, que altera os níveis de hidratação do corpo, o equilíbrio hídrico de um atleta “poderá ser afetado durante as deslocações dentro e fora da aldeia olímpica”.

Ainda assim, é em competição que ocorrem “grandes perdas de líquidos e eletrólitos através do suor ou pela presença de condições patológicas”, como um desarranjo intestinal, alterações que podem “afetar negativamente as funções mais importantes da água no organismo”.

Em contexto desportivo, os efeitos da perda de água no corpo a partir de 2% do total do peso corporal vão da maior sensação de cansaço a perda de acuidade cognitiva, entre outros efeitos psicológicos, a redução de força e velocidade, entre outros fatores negativos a nível físico, podendo mesmo chegar à necessidade de assistência médica, a partir dos 10%.

A missiva permite aos atletas aprenderem várias ferramentas de identificação do estado de hidratação do corpo, baseado no método PUS, a avaliação em conjunto de peso (P), urina (U) e sede (S), sendo que dois ou mais sintomas em cada um destes três fatores tornam “muito provável que se verifique desidratação”.

Outros métodos prendem-se com o cálculo da taça de sudação, com recomendações ao nível nutricional, para a reposição de fluidos perdidos durante treinos ou outras atividades, uma vez que a sudação num atleta, que varia consoante tamanho do corpo, intensidade e duração do exercício, a genética ou o clima, pode chegar aos três litros por hora.

O COP distingue entre provas de baixo risco, como as que decorrem em recintos ‘indoor’ e de atividade curta, como ‘sprints’, saltos ou lançamentos, das de risco moderado de desidratação, como as distâncias médias, regatas ou outras provas de resistência.

Por seu lado, o alto risco está reservado para provas de ciclismo, para as de corrida e marcha de longa distância e para o triatlo, uma vez que tanto o treino como a competição envolve várias horas de atividade e em que a disponibilidade do abastecimento, bem como o início da prática em “ótima condição de hidratação”, são importantes.

Nestes casos, a desidratação deve manter-se abaixo dos 2% da massa corporal, ainda que superar essa fasquia seja “comum no final dos treinos e competições, o que prejudica o desempenho em provas de longa duração através da redução do tempo até à exaustão” ou da redução da intensidade sustentável.

A verificação do peso, da cor e do odor da urina e das sensações de sede, logo ao acordar, é uma estratégia a ser aliada à reposição de eletrólitos, através da água ou de certos tipos de comidas, bem como a “personalização de necessidades de bebida”, a gestão térmica e um treino com melhor abastecimento.

O documento deixa ainda cuidados para o voo para o Japão e a hidratação antes e depois dos treinos ou da competição, apontando recomendações que devem ser “individualizadas” para ajustar às necessidades dos corpos de cada um dos atletas que vai participar na prova.