A filantropa Maria Conceição, multirrecordista mundial e a primeira portuguesa a conquistar o Evereste, deixou o projeto que ajudou mais de 600 crianças e jovens do Bangladesh ao longo de 15 anos, mas quer repetir numa “escala maior".

“O objetivo era garantir que os alunos concluíssem o ensino secundário com uma educação digna. Era um objetivo de muito longo prazo e um compromisso sério, mas agora está feito”, afirmou à agência Lusa.

O 'projeto Gawair' teve origem em 2005, quando a então assistente de bordo fez uma escala no Bangladesh e visitou Gawair, um bairro pobre em Dacca.

Meses mais tarde, criou uma escola com serviços de apoio à comunidade com o dinheiro das suas próprias poupanças e com donativos de amigos e conhecidos.

Depois da crise financeira de 2008, começou a ter dificuldades em encontrar financiamento e em 2013 foi obrigada a encerrar a escola, mas manteve-se empenhada em continuar o projeto, lançando-se numa série de desafios para tentar angariar fundos.

Em 2013 tornou-se na primeira mulher portuguesa a subir ao cume do monte Evereste, o mais alto do mundo, em 2017 bateu sete recordes mundiais por completar seis triatlos Ironman em seis continentes diferentes em apenas 56 dias e em 2018 chegou ao Polo Sul, também inédito para uma mulher portuguesa.

Também alcançou o Polo Norte em 2011, completou numerosas maratonas e ultra-maratonas e subiu a vários dos picos mais altos do mundo durante campanhas para atrair donativos.

Apesar das dificuldades financeiras, o 'projeto Gawair' manteve-se e muitos dos jovens concluíram o ensino secundário, continuaram os estudos em universidades em EUA, França, Emirados Árabes Unidos e Portugal, onde 21 frequentam o Instituto Politécnico de Bragança.

Durante estes anos, Maria Conceição admite ter encontrado muitos "momentos de frustração e desespero” perante os desafios e exigências operacionais de liderar a Fundação Maria Cristina, cujo nome homenageia a mãe adotiva, quase sozinha, sem meios nem formação.

“O trabalho consumiu-me durante mais de 15 anos”, admitiu a portuguesa de 43 anos, nascida em Angola, mas criada em Vila Franca de Xira e radicada no Dubai desde 2003.

“Ter uma educação formal ter-me-ia ajudado de muitas maneiras, especialmente se eu tivesse estudado na área de negócios ou educação ou políticas públicas. As pessoas adoram que todas os nossos donativos cheguem aos beneficiários e não sejam gastos em despesas administrativas, mas esperam mesmo assim que eu comunique e funcione como uma grande organização com muitos funcionários”, explicou à Lusa.

Nestes anos, também recorda momentos de “euforia e emoção” e considera o projeto “um sucesso”, ultrapassando muito aquilo a que se comprometeu inicialmente, que era dar educação suficiente para aquelas crianças encontrarem um emprego ou seguirem para o ensino superior.

"Um dos meus objetivos era tornar aqueles alunos e famílias independentes, por isso, estar sempre disponível para ajudar, de várias maneiras, está a estorvá-los. Levei algum tempo para perceber isso, porque tenho estado tão dedicada e ligada ao projeto por tanto tempo que me sinto na obrigação de continuar a ajudar, mas comecei a pensar que vou ajudá-los mais se me afastar do projeto e deixá-los resolver os seus próprios problemas”, afirmou à Lusa.

Outro motivo para se afastar é investir na própria educação para poder continuar a fazer este tipo de trabalho, o de "proporcionar educação de qualidade a crianças que vivam na pobreza a um nível suficientemente alto para tirá-los e às suas famílias da pobreza", mas numa “escala muito maior”.

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